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Músicos denunciam abordagem ilegal de agentes da prefeitura na av. Paulista

Combate Rock

05/12/2017 06h27

Marcelo Moreira

Filippe Dias Trio toca na avenida Paulista (FOTO: MARCELO MOREIRA)

Até que demorou para acontecer. Aos poucos, as forças conservadoras e anticulturais que dominam a cidade de São Paulo, as mesmas de que destruíram a Virada Cultural e retiram verbas e apoio à cultura em todos os níveis, foram percebendo o potencial "perigo" que representa a arte livre na rua.

Ou seja, a arte que é feita nas vias fechadas aos domingos, como na avenida Paulista, uma extraordinária decisão política do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), está na mira da administração João Doria (PSDB).

Parte da equipe Combate Rock defendeu algum tipo de organização no local para disciplinar, de alguma maneira, aquele espaço público para que mais e mais artistas tenham chance de expor seu trabalho na Paulista.

Só que, com a investida da prefeitura no sentido de restringir e até mesmo proibir bandas de música de tocar no local, é necessária uma veemente defesa da liberdade de expressão e opinião.

É melhor um espaço caótico e indisciplinado, onde os artistas tomem o espaço público sem qualquer amarra do que um truculento e inculto ataque de funcionários públicos despreparados alegando que o som na avenida Paulista  "incomoda e atrapalha".

A Prefeitura Regional Sé, em nota oficial, informou que repudia qualquer tipo de violência e que vai apurar o fato e tomar as medidas necessárias.

No entanto, e aí reside uma fonte de incerteza e, de certa forma, arbitrariedades, informou também que a regional Sé trabalha para cumprir o decreto que instituiu o Programa Ruas Abertas, que prevê o controle do nível de ruídos que possam incomodar os frequentadores e moradores – e que muitas vezes a apresentação de bandas se prolongam além do horário previsto no Programa Ruas Abertas.

O guitarrista Filippe Dias, um dos melhores músicos de blues da cidade, toca todo domingo no local e narrou nas redes sociais a situação absurda e abjeta a que foram submetidos no último final de semana alguns artistas, sendo acossados por funcionários da prefeitura que tentaram impedi-los de tocar.

A questão rendeu até uma reportagem do SPTV 1ª Edição. Leia o relato de Filippe Dias:

Desde início de 2017, toco na Av. Paulista todo domingo. Não vou me estender falado sobre como é ótimo ocupar o espaço público com música, sobre as vantagens em termos financeiros e de visibilidade, é uma experiência muito singular. No passado, isso era impensável. Colocar uma banda na rua ou um músico apenas era pedir para ter seu equipamento apreendido e ser presenteado com a truculência das autoridades.

Com a Lei 15.776 de 2013, tudo isso mudou e o artista passou a ter sua integridade e o direito de ocupar o espaço público garantidos na lei.

Hoje, domingo, dia 3 de novembro, em pleno 2017 e com a lei em vigor, fico sabendo que autoridades municipais estiveram na avenida Paulista adotando o comportamento repressor do passado, fazendo remoções de artistas e apreendendo seus equipamentos, passando por cima da lei e argumentando que, agora, é preciso "autorização" para tocar na avenida Paulista, confirmando boatos que escutei semana passada.

Na quinta-feira, dia 30 de novembro, estive na Secretaria Municipal de Cultura e na Prefeitura Regional da Sé em uma tentativa de me informar se algo havia mudado, se havia algum chamamento para cadastro de artistas, ou mesmo se era necessária a autorização de fato.

Todas as pessoas com quem conversei me garantiram que não havia necessidade de autorização, e qualquer ação repreendendo a atuação dos artistas seria arbitrária.

Coincidentemente, domingo passado foi o primeiro domingo desde a abertura da Paulista para pedestres, em 2015, em que a avenida não foi aberta, com o argumento de que era em virtude do vestibular da Fuvest.

O desgosto com esse tipo de situação é enorme mas não é surpresa. Reflexo do momento que a gente vive. No dia 15 de novembro, tocando na mesma avenida, eu e meus companheiros de banda fomos hostilizados por pessoas que se manifestavam "pela pátria, Deus e família" e a favor da 'intervenção militar', xingados, ameaçados. Tentaram obrigar a gente a parar de tocar. Fomos chamados de vagabundos.

Reflexo também da escolha de gestor que foi feita pra essa cidade. Nenhum programa político justifica cerceamento de liberdades, principalmente aquelas que precisaram de uma lei para serem garantidas.

Acabei de ser informado por um colega de rua que está lá nesse momento que a Kombi do "auxílio à remoção" da prefeitura passou, com uma pessoa na janela fazendo 'sinal de dinheiro' com os dedos. Exigir propininha de músico para não passar de Kombi por cima da lei. É baixo até pra essa gestão.

Tudo isso pra resumir no seguinte: se você curte a sua liberdade, ou o conceito de liberdade, pense bem em que tipo de político ou de movimento você apoia. E repense o seu posicionamento. Principalmente se você for artista. Porque está ruim. E vai piorar. Ou não, aí é contigo.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

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