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Blues: a versatilidade de Duca Belintani e o purismo de Cristiano Ferreira

Combate Rock

01/12/2017 06h46

Marcelo Moreira

Duca Belintani (FOTO: J.A. VALLIM/DIVULGAÇÃO)

Força, elegância e alta carga de sensibilidade. O blues brasileiro tem sido reverenciado ultimamente por conta dessas características no exterior, a julgar pelas recentes turnês internacionais bem-sucedidas de guitarristas como Igor Prado, Celso Salim e Big Gilson.

No cenário interno, estão em alta os nomes de Cristiano Crochemore, Artur Menezes e Eric Assmar, nomes assíduos nos festivais nacionais, assim como os dos gaúchos Fernando Noronha e Rodrigo Campagnolo. Neste segundo semestre de 2017, outros dois nomes entraram na seleta lista: Duca Belintani e Cristiano Ferreira.

O paulista Belintani, na verdade, nunca deixou lista alguma, sempre esteve no primeiro time desde sempre. Após um período dedicado a escrever a biografia do saudoso Kid Vinil, ao lado do jornalista Ricardo Gozzi, lança uma preciosidade do blues nacional, o ótimo "How Long".

Com uma ágil mão direita e um dedilhado por vezes desconcertante, Belintani faz parte de uma safra de músicos que t~em dificuldade de se definir: é um blueseiro com pegada roqueira ou um roqueiro/hard rocker que mergulha no blues?

Em "How Long" ele mostra tudo isso e mais um pouco, com uma atenção especial para arranjos simples e precisos. Guitarrista econômico e intuitivo, daqueles que gostam de realçar a fórmula do "menos é mais", faz questão de deixar claro que a sensibilidade dá o tom de seu trabalho.

O álbum é uma viagem a um mundo onde o blues se mistura com o folk, o country e com diversas influências brasileiras. A pegada de Belintani é forte e firme, mas é melódica o suficiente para abarcar uma série de influências.

A produção é básica, bem ao gosto do músico, que mesclou cinco faixas próprias com outras músicas que variaram entre clássicos do blues-rock e do cancioneiro do rock rural – "Tô Sabendo", clássico de Zé Rodrix e Tico Térpins, é um dos destaques da obra.

"Baby Please Don't Go", hit regravado por zilhões de artistas, aqui perde a sua urgência, em uma versão mais relaxada e descontraída, surpreendendo o ouvinte. "Mean Old Frisco", de Arthur Big Boy Crudup, ganha relevância com a guitarra mais seca e direta.

"Hey Hey", de Big Bill Broonzy, é uma versão reverente demais, embora com arranjos bem feitos ressaltando a simplicidade da canção, algo semelhante ao que foi feito na ótima "How Long", de Leroy Carr.

O melhor do trabalho, no entanto, está na sequência magnífica de canções autorais a partir de "My Baby, My Car and My Guitar", a segunda do álbum. Canção básica, com letras simples e sem grandes arroubos de criatividade, mas que tem um groove contagiante.

É uma boa introdução para a singela e clássica "I'm Going Down in Mississippi", um blues arrepiante que tem um solo inspirado e cortante. "Jumpin' Boy Blues", coposta em parceria com Osmar Santos Júnior, é um arremate perfeito para uma sequência de um artista de alto calibre que celebra 35 anos de carreira.

O catarinense Cristiano Ferreira escolheu a vertente mais tradicional para gravar o seu segundo álbum, "The Teacher's Rules!", mais um produto da incansável "fábrica" Chico Blues Records.

Enquanto Belintani sempre fez questão de manter um pé no rock, Ferreira opta pelo blues mais tradicional, com timbragem mais limpa, aproximando a sua guitarra do jazz.

Assim como Belintani, registrou dez músicas, sendo cinco próprias e cinco clássicos do blues norte-americano. Instrumentista versátil e com sonoridade limpa e clara, Ferreira gosta de expor todo o seu arsenal de "virtudes", mas em nenhum momento peca pelo excesso. Faz questão de que haja clareza em seu som, sem perder a "ternura", digamos assim.

E as semelhanças com o trabalho de Belintani esbarram também no melhor do que álbum oferece: as canções próprias e originais. É o caso de "Give Your Love to Me", que abre o CD, um boogie vintage que remete ao que de melhor se produziu entre os anos 50 e 60.

"Brioi Blues" mostra excelente percepção para a criação de arranjos criativos em uma música bem simples, enquanto " "If You Care About Me" demonstra um completo domínio da linguagem blues-soul, com um desempenho contagiante nos fraseados e nos solos bem elaborados.

A dobradinha "Lonesome Blues" e "Swing do Pampa" mostra versatilidade em investir no blues tradicional e, em seguida, transitar por ritmos brasileiros sulistas misturados a uma base sólida de blues mais solto.

Entre as canções tradicionais, Ferreira brilha nos vocais e no solos na pungente "Who's Gonna Be Your Sweet Man", de Muddy Waters, que fecha o trabalho, e na instigante "If You Love Me, Baby" de Roy Milton, onde expõe sua qualidade técnica assombrosa.

Merece destaque também, sua versão mais simples, mas emocionante, de "Angelica", de Duke Ellington.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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