Klatu lança CD conceitual mais pesado e claustrofóbico

Marcelo Moreira

Leco Peres e CArol Arantes, do Klatu (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Existe EP conceitual? Se não existia até agora, a banda paulistana Klatu acabou de inventar. "Que Seja Infinito Enquanto Vivo" tem apenas 27 minutos de duração, mas o peso e a densidade dos temas abordados mostram que a concisão do trabalho está mais do que adequada para o intrigante obra musical.

O tema não é original, nem mesmo a abordagem feita pela dupla que responde pelo Klatu, mas consegue soar inovadora ao apostar em uma sonoridade pesada, caindo no stoner rock, com guitarras poderosas e caprichando em um clima claustrofóbico.

Não se trata de um mergulho na crítica a uma sociedade ultraindustrial e totalmente tecnológica, mas uma coletânea interligada temas que observam como o individualismo e a massificação social tornaram a vida moderna mais distópica do que utópica.

Como trilha sonora de um seriado de ficção científica, "Que Seja Infinito Enquanto Vivo", com sua alusão a zumbis e "coisas ocultas", é o fiel retrato de seus criadores.

Leco Peres (guitarra e baixo) e Carol Arantes (vocais) são dois jovens músicos apaixonados por literatura, cinema e seriados, e o próprio nome da banda denuncia o "nerdismo" – é o robô que é peça central no filme "O Dia em Que a Terra Parou" (The Day the Earth Stood Still, título original em inglês), de 1951, dirigido por Rober Wise.

A fita narra a chegada de um alienígena à Terra para transmitir mensagens de paz, mas acaba sucumbindo ao espírito bélico, ganancioso, individualista e destrutivo do ser humano. Uma nova versão, sem muito sucesso, foi rodada em 2008 com o ator Keanu Reeves.

"Até assumo que posso ser um pouco nerd, mas creio que o tema do avanço da tecnologia em nossas vidas nunca esteve tão presente como agora", diz Peres sem disfarçar o orgulho do lançamento de um CD com tema intrincado e denso.

Para o músico, que falou com exclusividade ao programa de web rádio Combate Rock, a ousadia da obra só foi possível porque oi Klatu faz questão de se manter independente.

"Reconheço que comercialmente é um CD com certa dificuldade de viabilização, tanto pelo tema abordado como pela decisão de fazer um som mais pesado. Pudemos gravar o que quisermos e como quisermos. Adoramos ter essa liberdade ", disse Peres.

"Que Seja Infinito Enquanto Vivo" traz um som mais agressivo do que o rock mais setentista e com influências da MPB que predominou nos álbuns anteriores. A voz de Carol está mais melancólica, transpirando tensão e desilusão, em interpretação que merece vários elogios.

Assim sendo, o protagonista da história passeia pela "zumbização" de um mundo triste e sufocante, com personalidades automatizadas que sobrevivem em uma sociedade de ideias paralisantes e padronizadas.

Pela curta duração, podemos chamar de pequena ópera-rock, quase uma suíte, em que o destaque são as letras de boa qualidade recheadas de metáforas e as guitarras fortes e pesadas, levando o Klatu para a hard rock.

O grande show de lançamento ocorre no dia 3 de dezembro, em São Paulo, com a dupla recebendo o apoio de convidados de peso, como o guitarrista Marcelo Schevano, das bandas Baranga e Golpe de Estado. A abertura ficará por conta da banda Do culto ao Coma, que tocará músicas de seu disco de estreia, "Destinorama".

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