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Ratos de Porão vai mostrar no Sesc 35 anos de contestação e resistência

Combate Rock

23/11/2017 07h00

Marcelo Moreira

Ratos de Porão no lançamento de 'Século Sinistro' (FOTO: WANDER WILLIAN/DIVULGAÇÃO)

Trinta e cinco anos de carreira e ainda relevantes. Às vezes o cantor João Gordo solta a rase meio que de brincadeira, mas é fácil perceber que fala sério. Com uma improvável longevidade dentro de um subgênero roqueiro dado como extinto por volta de 1982 no mundo, o quarteto Ratos de Porão prova que a música vive de improbabilidades e imprevisibilidades.

"Três décadas e meia e ainda cantando coisas que fizemos lá atrás que são atuais. Aliás, mais atuais do que nunca", diz o vocalista do grupo em rápida entrevista exclusiva ao Combate Rock.

O Ratos de Porão é uma das atrações do festival "40 Anos de Punk Rock", que o Sesc Pompeia inaugurou no último sábado e que se estenderá até o próximo dia 26 de novembro.

Assim como registrou em sua autobiografia, lançada há dois anos, João Gordo mostra-se afiado e bastante consciente a respeito do significado do punk para a música mundial e, em temos locais, de como o movimento foi definidor de uma estética que influenciou o rock nacional a partir do começo dos anos 80.

Ele não é muito afeito a essa coisa de "legado", já que prefere exaltar a importância da música e manifestar o orgulho por uma trajetória difícil e, novamente, improvável.

"Fala-se muito de cena, de movimento, mas o negócio é o seguinte: o punk foi uma revolução, é óbvio, mostrou uma nova forma de manifestação. Fizemos a nossa parte? Acho que fizemos o que tínhamos de fazer, a música que queríamos e que tinha de ser feita naqueles anos. Foi intenso e necessário", afirma o músico.

Algumas perguntas são inevitáveis: dava para imaginar uma banda coo Ratos de Porão sobrevivendo por 35 anos?

"São vários pontos de vista que costumam aparecer, Muitos amigos ficaram pelo caminho, ou morreram ou desistiram de tudo. Para uma juventude ansiosa e crescida em meio a uma repressão e crise econômica, tudo era urgente e veloz, não havia paciência nem qualquer tipo de racionalização. Até acho que tinha de ser assim, mas uma evolução era natural, mesmo que uma galera não quisesse."

A narrativa do João Gordo é perfeitamente condizente com o texto que produziu em sua autobiografia, com a ajuda do jornalista André Barcinski. Ninguém nem se preocupava, na época, em imaginar se a banda estaria na ativa nos seis meses seguintes, quanto mais quase quatro décadas depois.

E o cantor esteve no centro das controvérsias oitentistas a respeito da cena punk e suas várias facções que se digladiavam pela Grande São Paulo. Enquanto a estética ainda sobrevivia, os conceitos e a filosofia tornavam-se mais elásticos, amorfos e ideologicamente mais amplos.

Era óbvio que outros caminhos e possibilidades surgiriam, especialmente no campo artístico. E o sectarismo e radicalismo de parte dos punks de São Paulo acabariam não só por afastar musicalmente os principais artistas do "movimento" com ajudaria a calciná-lo antes mesmo da metade daquela década de 80.

"A aproximação de muitas bandas com metal, com o hardcore e outros estilos eram muito mais natural, pois era uma evolução. As tretas cada vez mais complicadas ajudaram a esvaziar aquilo que chamavam de 'movimento' Muitos de nós olharam para frente e conseguiram permanecer a continuar tocando", avalia João Gordo.

A jornada de quase quatro décadas fez vítimas, como não poderia deixar de ser, mas o músico revela suas preocupações com as mudanças que a sociedade demonstrou no período, seja na forma de como as pessoas se relacionam com a arte, seja na forma de como a política e os costumes surpreenderam no comportamento de muita gente.

"Sempre disse que quero distância de fascistas, não quero tocar para esses caras.Muita gente da minha época escutava e tocava punk rock, mas depois casaram, arrumaram, emprego e viraram evangélicos, renegando e condenando muita coisa. Acho que esse festival no Sesc é importante para relembrarmos um momento muito legal, que representou uma contestação e uma resistência a um conservadorismo asfixiante, que muitas vezes tem mostrando caras novamente 30 e tantos anos depois."

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SERVIÇO

Festival 40 Anos de Punk

Com Ratos de Porão, Lixomania, Restos de Nada, AI5, Mercenárias, Patife Band, Questions, Sugar Kane e o show especial "O Punk Não Morreu".

De 18 a 26 de novembro. Quinta, sexta e sábados, a partir das 21h30 (abertura da casa às 20h). Domingo, a partir das 18h30 (abertura da casa às 17h30).

Na Comedoria do Sesc Pompeia (Rua Clélia, 93, São Paulo – SP).

Apresentações não recomendadas para menores de 18 anos.

Confira valores e datas para venda de ingressos de cada show.

 

DIA 23 / 11

Ratos de Porão + Lixomania

23 de novembro, quinta, a partir das 21h30

Ingressos (válidos para as duas apresentações da noite): R$ 6,00 (credencial plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$ 10,00 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$ 20,00 (inteira).

Venda online a partir de 14 de novembro, terça-feira, às 19h.
Venda presencial, nas unidades do Sesc SP, a partir de 16 de novembro, quinta-feira, às 17h30.

RATOS DE PORÃO: Formado em 1981, o grupo Ratos de Porão passou por diversas fases e formações, e é provavelmente a banda punk há mais tempo em atividade sem nunca ter parado de tocar. Da formação original só resta o guitarrista Jão, mas a formação atual data de 2004 e é a mais duradoura da história da Ratos. Precursores do crossover no Brasil, com o disco "Descanse em Paz", de 1986, a banda tem um público gigante tanto no punk quanto no metal, e o disco anterior, "Crucificados Pelo Sistema", de 1984, é o primeiro LP de hardcore lançado na América Latina. Com 36 anos de carreira e 13 álbuns lançados, o Ratos de Porão apresenta os sucessos das quase quatro décadas de estrada, além de apresentar as canções do mais recente CD lançado, "Século Sinistro", de 2014. A banda é formada atualmente por João Gordo, no vocal, Jão, na guitarra, Juninho, no baixo, e Boka, na bateria.

Contatos: https://goo.gl/aQu1hS (Spotify) / www.facebook.com/RatosdePoraoOficial/

LIXOMANIA: O quarteto surgiu na zona norte de São Paulo, em 1979, durante o período de efervescência do movimento punk no Brasil. Pioneira do gênero ao lado de Cólera, Inocentes, Olho Seco e Restos de Nada, a banda Lixomania foi a responsável por lançar, em 1982, o primeiro registro em vinil de uma banda punk na América do Sul: o compacto "Violência e Sobrevivência". Pouco tempo depois, o grupo participou do festival "O Começo do Fim do Mundo", no Sesc Pompeia, e depois decretou seu fim. Em 2004, a gravadora japonesa Speed State lançou um CD com as músicas do compacto de 1982 e várias gravações inéditas e então aLixomania voltou a se reunir e tem se apresentado ao vivo e gravado discos, incluindo um CD ao vivo no Sesc Pompeia, em 2012. Atualmente composta por Moreno, no vocal, Miro de Melo, na bateria, Rogério Martins, na guitarra, e Luiz Cecílio, no baixo, a banda está se preparando para lançar o primeiro álbum da carreira só com músicas inéditas, intitulado "Pesadelo", além de seguir em turnê comemorativa pelos 35 anos do lançamento do LP "Violência e Sobrevivência".

Contatos: https://goo.gl/sE3bxF (Facebook) / https://goo.gl/VWprXp (Spotify)

DIA 24 / 11

Restos de Nada + AI5

24 de novembro, sexta, a partir das 21h30

Ingressos (válidos para as duas apresentações da noite): R$ 6,00 (credencial plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$ 10,00 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$ 20,00 (inteira).

Venda online a partir de 14 de novembro, terça-feira, às 17h30.
Venda presencial, nas unidades do Sesc SP, a partir de 16 de novembro, quinta-feira, às 17h30.

 RESTOS DE NADA: A história da banda se confunde com a história do próprio punk rock. Formada em 1978, a Restos de Nadasurgiu quando ainda era impossível para os punks gravarem em estúdio e os shows eram escassos. A banda foi dissolvida em 1980, após algumas mudanças em sua formação, mas, em 1987, os membros originais se reuniram para gravar as velhas canções num LP homônimo lançado pela Devil Discos. Desde então, os músicos da Restos de Nada se encontraram esporadicamente, até que, com a morte do fundador da banda, Douglas Viscaíno, em 2013, o grupo acabou. Em 2017, a banda sobe novamente ao palco para prestar uma homenagem ao movimento que ajudou a criar, além de celebrar os quase 40 anos de fundação do grupo. A formação atual conta com Ariel, nos vocais, e Clemente, no baixo, dois protagonistas que estiveram no começo de toda essa história, além de Luiz, na guitarra, e Nonô, na bateria.

Contato: www.facebook.com/restosdnada/

AI5: Criado em 1978, o grupo AI5 tocou no primeiro show punk de São Paulo, no porão de uma padaria no Jardim Colorado, junto da Restos de Nada e com produção de Kid Vinil. Sem muitos shows ou disco lançado, a banda acabou em 1980, voltando à ativa só agora, em 2017, para celebrar o relançamento, em CD, pelo selo Baratos Afins, do único material do grupo, uma demo gravada no começo dos anos 80, meses após o seu fim. Além deste relançamento, a AI5 prepara a produção de um novo material, que deve chegar ao mercado em  2018. O nome AI5 remete ao Ato Institucional Nº 5, mecanismo criado pelo regime militar em 1968 que coibia e punia diversas liberdades individuais, inclusive de pensamento. A partir desse episódio, começam a surgir manifestações sociais e culturais de resistência, como é o caso do movimento punk, berço da banda AI5. Atualmente, o grupo é formado por Memmeth Pesteaux, nos vocais, Fausto Celestino, na guitarra e vocais, Fábio Rodarte, no baixo, e Fellipe Fonseca, na bateria.

Contato: https://www.facebook.com/aicincopunk/ /

DIA 25 / 11

Mercenárias + Patife Band

25 de novembro, sábado, a partir das 21h30

Ingressos (válidos para as duas apresentações da noite): R$ 6,00 (credencial plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$ 10,00 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$ 20,00 (inteira).

Venda online a partir de 14 de novembro, terça-feira, às 17h30.
Venda presencial, nas unidades do Sesc SP, a partir de 16 de novembro, quinta-feira, às 17h30.
 

MERCENÁRIAS: Oito anos antes do Bikini Kill inaugurar a onda de punk-hardcore feminista (em 1990), as Mercenárias já perambulavam pela noite de São PauloDesde o seu surgimento, em 1982, o grupo já se apresentou diversas vezes no Sesc Pompeia; a primeira foi em 1983, ao lado dos Titãs e Ira! Em 1986, elas lançaram o LP "Cadê as Armas", pela Baratos Afins, o primeiro disco de rock independente gravado apenas por mulheres no Brasil. No ano seguinte, lançaram "Trashland", fizeram alguns shows, e em seguida a banda acabou. No início dos anos 2000, as Mercenárias voltaram a tocar, e agora, em formação power trio, celebram os 35 anos de carreira com Sandra Coutinho, no baixo, Pitchu Ferraz, na bateria e backing vocals, Marianne Crestani, na guitarra.

Contato: www.facebook.com/asmercenariasodisseia/ / https://goo.gl/4TjDVe (Spotify)

PATIFE BAND: Paulo Barnabé resolveu partir para a carreira solo em 1984, após uma temporada do lançamento do disco "Tubarões Voadores", de Arrigo Barnabé, seu irmão. Não passou muito tempo e já estava com a primeira formação de sua Patife Band – intitulada na época de "Paulo Patife Band" – em plena década de 1980, época em que começava a despontar a nova safra do rock nacional. Em 1987, o grupo lançou o disco "Corredor Polonês", misturando punk rock, jazz e música brasileira. Depois disso, a banda dura mais um ano e volta à ativa apenas em 2003. A atual safra de composições de Paulo Barnabé continua transgressora e experimental, e a banda segue na ativa fazendo tocando clássicos de "Corredor Polonês" e diversas faixas inéditas, incluindo um novo single, que está sendo preparado para lançamento em breve. A Patife Band é composta por Paulo Barnabé, na voz, percussão e bateria, Fábio Gouvea, na guitarra, Felipe Brisola, no baixo, e Elvis Toledo, na bateria.

Contato: www.facebook.com/paulobfoggia/ /

DIA 26 / 11

O Punk não Morreu

26 de novembro, domingo, a partir das 18h30

Ingressos: R$ 6,00 (credencial plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$ 10,00 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$ 20,00 (inteira).

Venda online a partir de 14 de novembro, terça-feira, às 17h30.
Venda presencial, nas unidades do Sesc SP, a partir de 16 de novembro, quinta-feira, às 17h30.
 

O PUNK NÃO MORREU: Show especial com vários representantes do punk brasileiro. A banda-base desta apresentação é formada por Clemente (Inocentes), no baixo, Mingau (Ratos de Porão), na guitarra, e Muniz (Fogo Cruzado), na bateria, três músicos que tocaram no festival "O Começo do Fim do Mundo", que aconteceu no Sesc Pompeia, em 1982. Os vocais ficam por conta de diversos músicos de bandas que também tocaram no festival, entre eles Ariel (Inocentes), Mauricinho (Juízo Final), Morto (Psykóze), Alê (Lixomania), Kiss (Fogo Cruzado), Wendel (Cólera), Barata (DZK), Fábio (Olho Seco), entre outros. A superbanda ainda conta com a participação especial de Vladi (Ulster), Pierre (Cólera), Val (Cólera) e Callegari (Inocentes).

O repertório do show O Punk Não Morreu reúne as canções que compuseram o LP gravado ao vivo durante o festival de 82, além de clássicos do punk nacional. Na ocasião, o LP "O Começo do Fim do Mundo" será relançado pela Nada Nada Discos, em vinil duplo, com um disco extra repleto de músicas que não estão na edição original, além de pôster, texto e fotos inéditas.

 

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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