Topo

Charles Manson e o pesadelo flower power

Maurício Gaia

23/11/2017 17h00

A tardia morte de Charles Manson trouxe à memória de muitos e ao conhecimento de outros tantos o brutal crime praticado por lunáticos pertencentes a sua gangue, em 1969.

Susan Atkins, Patricia Krenwinkel e Lesli Van Houten, integrantes da seita de Charles Manson

A poucos dias do festival de Woodstock, por orientação dele, membros de sua seita invadiram a casa de Roman Polanksi, em Los Angeles , e assassinaram brutalmente sua esposa, Sharon Tate, que estava grávida, e mais quatro amigos do casal. O objetivo do crime era incriminar a comunidade negra da cidade, provocando um conflito racial, de onde ele surgiria como um novo messias.

Como Marcelo Moreira escreveu dias atrás, Manson também tinha pretensões artísticas – conseguiu se aproximar de Dennis Wilson, dos Beach Boys, conseguindo ter uma música gravada pelo grupo. Tudo movido por uma mistura de psicopatia, sexo, drogas e rock'n'roll, com um suave aroma de patchouli flower-power.

Se o período ficou conhecido pela ascensão do ideário hippie, com seu lema de "paz e amor", idealizado até hoje, por outro lado, esconde diversos casos de violência, que tiveram seu ápice nos crimes ordenados por Manson. Sob a desculpa de "paz e amor" e liberação sexual, muitos casos de abuso e estupro foram registrados. Da mesma forma, foi um período propício para, em maior ou menor grau, surgirem picaretas e escroques que viviam de pequenos golpes e furtos.

Outro ponto baixo do período foi a morte de Meredith Hunter, durante o festival de Altamont. O festival, planejado pelos Rolling Stones para ser o seu "próprio Woodstock", ocorreu em um autódromo localizado próximo a San Francisco, em 6 de dezembro de 1969. Tinha tudo para dar certo, pois contava com um line up de peso, com bandas como Jefferson Airplane, Grateful Dead, Flying Burrito Brothers, Santana, além dos próprios Stones.

O caldo começou a entornar quando Mick Jagger decidiu contratar os Hell's Angels para fazer a segurança do evento – mediante um pagamento de quinhentos dólares(!) em cerveja(!!). Se no início, durante a apresentação de Santana, as coisas foram tranquilas, à medida que os Hell's Angels ficavam bêbados, controlar uma multidão de 300 mil pessoas diante de um palco pequeno, de apenas um metro de altura,  tornou-se uma missão impossível – em uma confusão, um dos "seguranças" nocauteou Marty Balin, do Jefferson Airplane, que acabou não subindo ao pequeno palco montado para o festival.

Com isso, a apresentação dos Stones foi adiantada, mas já em um clima muito distante do "paz e amor" hippie. Foi quando o inevitável aconteceu: mais uma briga entre público e a "segurança" e Meredith Hunter, um jovem negro de 18 anos, saca um revólver em frente ao palco. O Hell Angel Alan Pasaro desarmou Hunter e o esfaqueou repetidas vezes. Na confusão, mais três pessoas morreram pisoteadas.

O show, que estava sendo registrado pelos cineastas Albert e David Maysles (acabou virando o documentário "Gimme Shelter"), continuou, pois Mick Jagger (que não sabia no momento do esfaqueamento) pressentiu que, diante do clima pesado, se interrompesse a apresentação, poderia causar maiores e imprevisíveis tumultos. De qualquer forma, a vaca hippie já tinha ido para o brejo e o sonho flower-power havia se transformado em pesadelo.

Sobre a relação entre Charles Manson e Dennis Wilson, há um excelente episódio do podcast You Must Remember This (em inglês).

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Blog Combate Rock