Malcolm Young, a grande locomotiva do AC/DC, morre aos 64 anos
Marcelo Moreira
Desde sempre ele foi o incontestável chefão do AC/DC, por mais que o irmão mais novo ralhasse e discutisse por tudo. Desde a criação da banda, em 1973, Malcolm Young não abriu mão da liderança do trem descarrilado e sem freios do rock australiano, e usou as suas características mais marcantes para levar o quinteto ao topo: o trabalho duro, a autoridade e a disciplina férrea.
Malcolm morreu na manhã deste sábado, aos 64 anos de idade, menos de um mês após a partida de seu irmão mais velho, George, ex-Easybeats e produtor do AC/DC no início da carreira. Dois baques fortes para os fãs do grupo australiano em tão pouco tempo.
Ao lado do irmão Angus, o baixinho enfezado e de rosto pétreo que um dia ameaçou com uma faca Geezer Butler, o baixista do Black Sabbath, tornou-se figura emblemática do rock.
Assim como Lemmy Kilmister era a personificação do Motorhead e da vida rock'n'roll, Malcolm e Angus Young se transformaram em deuses para gerações de moleques que queriam fazer rock básico e liberar toda a energia do mundo. Eram a encarnação dos moleques que queriam e podiam conquistar o mundo chutando tudo e a todos.
O vocalista Bon Scott era a imagem sacana da banda, enquanto que Angus, vestido de aluno de escola, era a estampa irônica, icônica e visceral de um grupo de desafiava o mercado com seu hard rock sujo e básico.
O sucesso demorou um pouco para aparecer. Quando veio, derrubou tudo. Com o álbum "Highway to Hell", de 1979, o AC/DC já era grande e chamava muito a atenção. E nem mesmo a tragédia da morte de Scott, em fevereiro de 1980, segurou o ímpeto do trem descarrilado.
E lá estava Malcolm, o guitarra-base, discreto mas inflexível líder, para segurar tudo e conduzir o quinteto para se tornar, com novo vocalista, uma das maiores bandas do mundo, e de todos os tempos.
Paradoxalmente, foi Malcolm que deu o primeiro sinal de que a máquina australiana estava emperrando. Depois de meses de silêncio, a banda informou, às vésperas da gravação do último álbum, "Rock or Bust", que o líder estava se afastando da música definitivamente por questões de saúde – mais tarde divulgou-se que ele sofria de demência, entre outros problemas.
O sobrinho Steve Young voltou a substituí-lo, como no final dos anos 80, o álbum ficou pronto, mas a sucessão de problemas ganhou velocidade: o baterista Phil Rudd foi preso acusado de planejar dois assassinatos na Nova Zelândia, onde mora; o vocalista Brian Johnson teve de se ausentar (e acabou demitido e substituído por Axl Rose) por causa de problemas auditivos – correu o risco de ficar surdo; o baixista Cliff Williams, cansado dos problemas, decidiu se aposentar.
Com o futuro incerto, o AC/DC necessita de uma luz, de uma inspiração e de bons augúrios. George, o irmão mais velho e nome fortíssimo da música australiana, conversava de vez em quando com Angus, nove anos mais novo. Mas era de Malcolm que a banda precisava.
Era da genialidade do irmão enfezado nos negócios e na condução da coisa que o AC/DC precisava. Era da precisão cirúrgica de uma base poderosa de guitarra no palco, de precisão irritante e extraordinária na composição de músicas marcantes, na escolha de timbres e de sons na sala de produção. Era de Malcolm que Angus precisava para manter o AC/DC vivo.
Se presencialmente Malcolm não podia mais ajudar, ao menos a sua figura e sua imagem de rocker duro e inflexível ainda estimulava o irmão mais novo, mesmo que não pudesse mais influenciar diretamente.
A morte de Malcolm é o desaparecimento de mais um gigante que tornou o rock uma coisa imensa e irrefreável, principalmente em relação ao rock pesado. Lemmy brincava às vezes que o AC/DC era muito mais punk do que os próprios punks, ao lado do Motorhead.
E se admirava ao perceber como a ética de trabalho árduo e incansável de Malcolm impulsionava a locomotiva australiana, custasse o que custasse.
O baixinho gigante, ao lado do irmão igualmente nanico e igualmente gigante, formou uma das trajetórias mais edificantes e marcantes do rock. Mais do que exemplo, Malcolm Young um símbolo grandioso de uma época ainda mais grandiosa. Lemmy ganhou uma grande companhia.
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