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Malcolm Young, a grande locomotiva do AC/DC, morre aos 64 anos

Combate Rock

18/11/2017 12h31

Marcelo Moreira

Malcolm Young (FOTO: ACDC.COM/DIVULGAÇÃO)

Desde sempre ele foi o incontestável chefão do AC/DC, por mais que o irmão mais novo ralhasse e discutisse por tudo. Desde a criação da banda, em 1973, Malcolm Young não abriu mão da liderança do trem descarrilado e sem freios do rock australiano, e usou as suas características mais marcantes para levar o quinteto ao topo: o trabalho duro, a autoridade e a disciplina férrea.

Malcolm morreu na manhã deste sábado, aos 64 anos de idade, menos de um mês após a partida de seu irmão mais velho, George, ex-Easybeats e produtor do AC/DC no início da carreira. Dois baques fortes para os fãs do grupo australiano em tão pouco tempo.

Ao lado do irmão Angus, o baixinho enfezado e de rosto pétreo que um dia ameaçou com uma faca Geezer Butler, o baixista do Black Sabbath, tornou-se figura emblemática do rock.

Assim como Lemmy Kilmister era a personificação do Motorhead e da vida rock'n'roll, Malcolm e Angus Young se transformaram em deuses para gerações de moleques que queriam fazer rock básico e liberar toda a energia do mundo. Eram a encarnação dos moleques que queriam e podiam conquistar o mundo chutando tudo e a todos.

O vocalista Bon Scott era a imagem sacana da banda, enquanto que Angus, vestido de aluno de escola, era a estampa irônica, icônica e visceral de um grupo de desafiava o mercado com seu hard rock sujo e básico.

O sucesso demorou um pouco para aparecer. Quando veio, derrubou tudo. Com o álbum "Highway to Hell", de 1979, o AC/DC já era grande e chamava muito a atenção. E nem mesmo a tragédia da morte de Scott, em fevereiro de 1980, segurou o ímpeto do trem descarrilado.

E lá estava Malcolm, o guitarra-base, discreto mas inflexível líder, para segurar tudo e conduzir o quinteto para se tornar, com novo vocalista, uma das maiores bandas do mundo, e de todos os tempos.

Paradoxalmente, foi Malcolm que deu o primeiro sinal de que a máquina australiana estava emperrando. Depois de meses de silêncio, a banda informou, às vésperas da gravação do último álbum, "Rock or Bust", que o líder estava se afastando da música definitivamente por questões de saúde – mais tarde divulgou-se que ele sofria de demência, entre outros problemas.

O sobrinho Steve Young voltou a substituí-lo, como no final dos anos 80, o álbum ficou pronto, mas a sucessão de problemas ganhou velocidade: o baterista Phil Rudd foi preso acusado de planejar dois assassinatos na Nova Zelândia, onde mora; o vocalista Brian Johnson teve de se ausentar (e acabou demitido e substituído por Axl Rose) por causa de problemas auditivos – correu o risco de ficar surdo; o baixista Cliff Williams, cansado dos problemas, decidiu se aposentar.

Com o futuro incerto, o AC/DC necessita de uma luz, de uma inspiração e de bons augúrios. George, o irmão mais velho e nome fortíssimo da música australiana, conversava de vez em quando com Angus, nove anos mais novo. Mas era de Malcolm que a banda precisava.

Era da genialidade do irmão enfezado nos negócios e na condução da coisa que o AC/DC precisava. Era da precisão cirúrgica de uma base poderosa de guitarra no palco, de precisão irritante e extraordinária na composição de músicas marcantes, na escolha de timbres e de sons na sala de produção. Era de Malcolm que Angus precisava para manter o AC/DC vivo.

Se presencialmente Malcolm não podia mais ajudar, ao menos a sua figura e sua imagem de rocker duro e inflexível ainda estimulava o irmão mais novo, mesmo que não pudesse mais influenciar diretamente.

A morte de Malcolm é o desaparecimento de mais um gigante que tornou o rock uma coisa imensa e irrefreável, principalmente em relação ao rock pesado. Lemmy brincava às vezes que o AC/DC era muito mais punk do que os próprios punks, ao lado do Motorhead.

E se admirava ao perceber como a ética de trabalho árduo e incansável de Malcolm impulsionava a locomotiva australiana, custasse o que custasse.

O baixinho gigante, ao lado do irmão igualmente nanico e igualmente gigante, formou uma das trajetórias mais edificantes e marcantes do rock. Mais do que exemplo, Malcolm Young um símbolo grandioso de uma época ainda mais grandiosa. Lemmy ganhou uma grande companhia.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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