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Accept ensurdecedor e Anthrax empolgante em São Paulo

Combate Rock

14/11/2017 07h00

Flavio Leonel – do site Roque Reverso – texto e fotos

A cidade de São Paulo foi palco de duas exibições do mais alto quilate na quinta-feira, 9 de novembro, quando o Accept e o Anthrax se apresentaram no Tom Brasil. A banda alemã e o grupo norte-americano trouxeram shows pesados e de grande qualidade, mantendo a tradição das recentes vindas ao Brasil.

Quem esteve na casa de shows paulistana viu um Accept com um som ensurdecedor e o Anthrax com uma empolgação que contagiou a todos que estavam no local.

Em tempos nos quais as bandas veteranas vêm dando suporte ao rock n' roll num momento com raras novidades capazes de provocar algo impactante no estilo, o que se viu no Tom Brasil foi exatamente dois nomes lendários do heavy metal com energia de sobra para manter este processo.

De um lado, o Accept mostrou o porquê de ser considerada uma das bandas mais importantes para a consolidação do heavy metal. Do outro, o Anthrax justificou o motivo de ser citado como um dos quatro maiores grupos do thrash metal, ao lado de Metallica, Slayer e Megadeth.

A noite em São Paulo estava agradável e os arredores do Tom Brasil, lotados de gente com camisas pretas, davam a noção de que ali seriam vistas apresentações importantes. Bem organizados, os shows foram realizados sem sobressaltos e com um público que quase encheu o local, em plena quinta-feira à noite e num lugar bem distante do centro da capital paulista, onde o transporte público nem sempre é suficiente para chegar ou deixar o local.

Accept

O Accept foi o primeira das duas a se apresentar. A banda alemã trouxe um show que logo de cara surpreendeu pelo som altíssimo que foi oferecido ao público. Para quem já tinha visto apresentações de bandas que sempre ficaram com a fama de tocar em volumes acima das demais, como o Motörhead e o Manowar, a performance do Accept seguiu uma linha parecida.

Importante explicar que o som ensurdecedor trazido pelo Accept ficou muito longe de algo que incomodasse quem gosta de heavy metal. Quem dera todas as bandas viessem com um som forte e claro como o que o grupo alemão trouxe a São Paulo. É daqueles que impressionam pela pegada e que facilmente conquistam novos fãs.

Amparado na turnê de divulgação do álbum novo "The Rise of Chaos", que foi lançado em agosto, o Accept iniciou o show exatamente com a primeira música do disco. Pesada e com um riff dos mais tradicionais do heavy metal, "Die by the Sword" agradou logo de cara e teve o refrão cantado pelo público presente, apesar de ser uma canção bem recente.

Além do som, o palco bem bolado do Accept chamou a atenção, pois apesar de parecer simples na elaboração e montagem, ficou visualmente bem impactante, com um tema bem ao estilo do bom e velho heavy metal.

Depois da música do novo álbum, o grupo optou por um repertório que focou diversas fases da carreira, desde o período clássico marcado pela presença do ex-vocalista Udo Dirkschneider até o que tem o atual vocalista Mark Tornillo.

"Stalingrad", "Restless And Wild", "London Leatherboys", "Final Journey" e "Analog Man" mantiveram o público completamente nas mãos da banda.

Membros desde a formação original, o guitarrista Wolf Hoffmann e o baixista Peter Baltes honram demais a carreira do Accept e dava gosto de ver a dedicação e qualidade dos dois em cada uma das músicas tocadas.

Após tocarem a novíssima "No Regrets", também do disco mais recente, os músicos emendaram mais uma sequência de músicas essenciais para quem aprecia o bom e velho heavy metal. "Princess of the Dawn" e "Objection Overruled" mesclaram o estilo cadenciado com um speed metal de primeira, enquanto a clássica "Fast as a Shark" gerou um empolgação fora do comum entre os presentes, com um legião de bate-cabeças, como manda a cartilha do estilo.

Sem tempo para respirar, ainda vieram por meio do Accept as faixas "Metal Heart" e "Teutonic Terror", que foram complementadas pelo hino "Balls To The Wall", que fez o Tom Brasil tremer e que deixou muito pescoço danificado, tamanha a necessidade de agitar a cabeça numa das músicas mais importantes da história do heavy metal.

Com uma apresentação forte, honesta e marcante, o Accept mostrou que ainda tem muito a oferecer. Com uma formação que mescla a juventude com a experiência dos tempos de ouro do heavy metal, o grupo alemão entregou um show que entrou para a lista dos melhores do ano do gênero.

Anthrax

Após a ótima apresentação do Accept, o que se conversava nas rodinhas do Tom Brasil era até que ponto o Anthrax conseguiria superar o show do grupo alemão. Alguns fãs do Accept chegaram a ir embora, já satisfeitos com aquilo que tinham presenciado, mas quem conhece bem os norte-americanos do thrash metal sabia que não haveria decepção no último show da noite.

Também com uma carreira recheada de petardos sonoros, o Anthrax já começou a apresentação com o clássico "Among the Living" e com nada menos que "Caught in a Mosh". Automaticamente, rodas de mosh foram formadas na Pista e na Pista Vip e uma nova legião de cabeças em movimento foi verificada.

Para quem havia visto o grupo, em 2016, fazendo uma "abertura de luxo" para o Iron Maiden na Arena do Palmeiras, a volta à capital paulista trouxe um show parecido na estrutura, mas, obviamente maior, com a inclusão de alguns clássicos.

A apresentação de 2017 em São Paulo ficou mais parecida com as de 2012 e 2013, quando o grupo trouxe a turnê do ótimo disco "Worship Music", no primeiro ano, e quando adaptou a mesma turnê com a inclusão de músicas diferentes no segundo ano.

O hit "Got the Time" foi a terceira música da noite e serviu para manter o ambiente quente e agitado no Tom Brasil. Vale comparar as perfomances do Accept e do Anthrax na questão relacionada à movimentação do palco. Enquanto a banda alemã tem uma postura mais estática durante o show, o grupo norte-americano promove uma intensa troca de posições.

A própria constituição dos cenários de palco favoreceram a maior movimentação do Anthrax. Enquanto o palco do Accept deixou um espaço bem pequeno para os músicos, o amplo espaço dos norte-americanos até permitia corridas no palco dos integrantes, especialmente do vocalista Joey Belladonna e do baixista Frank Bello.

O clássico "Madhouse" veio na sequência. Vale destacar que as primeiras músicas da apresentação do Anthrax pareceram baixas perto das executadas pelo Accept. No decorrer do show, no entanto, a impressão foi que o som foi melhorando e ficando mais alto e nítido.

"Fight 'Em 'Til You Can't" foi a única representante do disco "Worship Music" e foi seguida pela mais recente "Breathing Lightning", do álbum "For All Kings", de 2015.

As mais antigas "Medusa" e "I Am the Law" vieram depois, mantendo vibração do público. Um dos destaques do show foi a performance do baterista Charlie Benante. Ele havia desfalcado o Anthrax na vinda da banda em 2016 e, no Tom Brasil, foi muito bom vê-lo de volta completamente em forma.

Numa das covers da noite, o guitarrista Scott Ian iniciou os riffs de "March of the S.O.D.". A faixa instrumental do famoso projeto paralelo S.O.D., dele e de Charlie Benante, sempre serve para Belladonna dar uma descansada e se preparar para o restante da apresentação. E não foi diferente desta vez, já que ainda havia muito show pela frente.

Após o grupo executar a mais recente "Blood Eagle Wings", do álbum de 2015, foi a vez de trazer mais três faixas clássicas: "Be All, End All", "Efilnikufesin (N.F.L.)" e "Antisocial".

Nas três músicas, o público não deixou de se empolgar uma vez sequer, com momentos alternados de rodas de mosh e bate-cabeça, o thrash estava presente no Tom Brasil e isso era muito claro. Enquanto "Efilnikufesin (N.F.L.)" trouxe um pegada que quase obriga as rodas de mosh, "Antisocial" tem aquela característica já tradicional de fazer com que o público cante até a parte instrumental.

Após uma breve pausa, o grupo retornou ao palco para o bis com nada menos que "Indians". Com o Tom Brasil cantando a música a plenos pulmões no refrão, a banda chegou a interromper a execução para exigir que todos dessem um pouco mais de energia naquela que seria a última faixa da noite. Atendendo os pedidos de Scott Ian, imensas rodas foram vistas tanto na Pista Comum como na Pista Vip, fechando a performance com mais um momento emocionante.

O saldo da noite no Tom Brasil foi dos mais positivos, com a plateia saindo da casa com um sorriso que ia de orelha à orelha. Já perto da 1 hora da manhã da sexta-feira, o que se via nos arredores do Tom Brasil era um sentimento de felicidade. De um lado, uma aula de heavy metal tradicional por parte do Accept. Do outro, a vibração do Anthrax, que, com a apresentação na casa paulistana, fechou a quadra de apresentações do Big Four em São Paulo, depois de shows do Metallica e do Slayer em festivais e do Megadeth tocando no Espaço das Américas.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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