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Green Day faz show de grande interação e na medida para fãs em SP

Combate Rock

07/11/2017 12h01

Flavio Leonel – do site Roque Reverso

O Green Day se apresentou em São Paulo na noite da sexta-feira, 3 de novembro, e conseguiu trazer aos fãs dedicados um show empolgante e na medida. Para uma Arena Anhembi com um público de cerca de 25 mil pessoas, o grupo norte-americano desfilou hits e músicas do bom álbum recente "Revolution Radio", de 2016.

A despeito de entregar uma apresentação na medida para os fãs mais dedicados, a banda deixou de fora do repertório um hit que gerou uma ausência bastante sentida pelo público: "She", do ótimo e essencial disco "Dookie", de 1994.

Em duas horas e meia de duração, o show contou com grande interação entre grupo e público, com direito a longos discursos do vocalista Billie Joe Armstrong, jatos de mangueira na plateia e subida de três fãs ao palco, sendo que um deles chegou a tocar guitarra com o público, realizando o sonho de muita gente que gosta do bom e velho rock n' roll.

Considerações sobre o local do show e a banda de abertura são sempre válidas em qualquer resenha. E aí entram duas avaliações distintas para cada um deles.

De um lado, a complicada Arena Anhembi, que, a despeito da razoável localização, continua sendo um espaço de acesso conturbado, especialmente quando há escolha de shows para uma sexta-feira à noite, mesmo que após um feriado. A despeito de São Paulo estar mais vazia numa ponte de feriado, foi demorada para muitos ali a chegada ao local, dada a tradicional incapacidade da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de organizar o tráfego especificamente naquela região.

Para quem foi de transporte público, principalmente, Uber, talvez, a dor de cabeça para chegar tenha sido menor. E esta vem sendo a solução e recomendação para quem vai a eventos de grande porte numa cidade saturada como São Paulo.

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Além da questão da locomoção, é mais do que visível a diferença brutal de qualidade de espaço do local com outros espaços em São Paulo. Chamar o espaço do Anhembi de "Arena" quando se tem espaços ultramodernos, como o Allianz Parque, chega a ser quase uma heresia. Enquanto a nova arena do Palmeiras traz o que há de mais moderno atualmente ao País, o local no Anhembi continua sendo uma imensa pista asfaltada sem qualquer conforto e com vários pontos, especialmente na Pista Comum, onde assistir ao show é quase um desafio.

Do lado da banda de abertura, a avaliação foi bastante positiva. O grupo norte-americano The Interrupters conseguiu aquecer o público para a atração principal e, sem dúvida, ganhou fãs. Com um ska-punk de primeira, os músicos chamaram a atenção pelo bom entrosamento, ritmo contagiante e performance convincente.

Logo após a performance do The Interrupters, o palco foi rapidamente preparado para o Green Day, enquanto o público esperava ansiosamente o grupo, ao som de clássicos do rock que rolavam nas caixas de som. O clima era de bastante descontração e chamou a atenção a empolgação da galera quando foram tocadas "Bohemian Rhapsody", do Queen, e "Blitzkrieg Bop", dos Ramones.

O show

A apresentação do Green Day começou com "Know Your Enemy". Com a energia tradicional capitaneada por Billie Joe Armstrong, o público foi ao delírio vendo a banda tão aguardada. A reportagem do Roque Reverso estava localizada na Pista Vip, bem em frente a torre da mesa de som, mas ouviu algumas reclamações, sobre som baixo e embolado, de gente que estava na Pista Comum. Segundo essas pessoas, este problema durou até mais ou menos a quarta música e, depois, o som ficou bom.

Na Pista Vip, o som estava ótimo e o público estava em verdadeiro êxtase. A reportagem presenciou caravanas numerosas de fãs que sabiam letra por letra de cada canção executada na arena paulistana.

E foi um fã, logo de cara, que foi convidado a subir para palco e cantar um trecho de "Know Your Enemy", antecipando a interação imensa que a banda teria com a plateia durante toda a apresentação. Ao final da música, Armstrong tirou uma selfie com o fã e pediu que ele desse um stage diving, mas o "pulo" do fã foi bem no esquema "nutella", com certo medo dele se jogar sobre o público.

O show seguiu com duas músicas do disco recente. "Bang Bang" e a faixa-título mantiveram a energia boa que reinava na Arena Anhembi.

Green Day em SP – Foto: Flavio Leonel/Roque ReversoGreen Day em SP – Foto: Flavio Leonel/Roque ReversoGreen Day em SP – Foto: Flavio Leonel/Roque ReversoGreen Day em SP – Foto: Flavio Leonel/Roque Reverso

Na sequência, o Green Day trouxe "Holiday". Não bastasse o entrosamento elogiável do trio formado por Armstrong, Mike Dirnt (baixo) e Tré Cool (bateria), a banda de apoio também fazia seu papel de maneira digna.

No meio da música, o vocalista fez um discurso contra o racismo, a homofobia e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. "Brasil! Viva Brasil!", gritou ele, por várias vezes, animando o público e segurando um canhão de luz, enquanto o palco estava propositalmente na penumbra.

Na mesma canção, foi possível ouvir gritos de "Fora, Temer" vindo da plateia. Foi mais uma apresentação ao vivo no Brasil que contou com o público mandando o recado para o presidente da República, Michel Temer, que vez colhendo sucessivas marcas históricas negativas nas pesquisas de popularidade.

Em "Letterbomb", mais conversa do vocalista com a plateia, com discurso motivacional e o público gritando "Green Day" a plenos pulmões.

Na ótima "Boulevard of Broken Dreams", mais uma bandeira do Brasil foi erguida por Armstrong, com a plateia inteira iluminando Pista Vip e Pista Comum com os celulares. Além da bandeira brasileira, o vocalista também descolou uma bandeira com as cores do arco-íris, que é o símbolo LGBT.

Tal atitude serviu para mostrar, mais uma vez, que, enquanto medalhão brasileiro do rock fica do lado conservador e esquece a contestação que é a raiz do estilo, bandas gringas gigantes, como o U2 e Green Day, estão aí para reforçar a mensagem contra as aberrações de governos retrógrados, como os atuais do Brasil e dos Estados Unidos.

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"Longview" gerou o sentimento de nostalgia dos fãs mais antigos, fazendo que eles lembrassem que a banda estourou nas paradas mundiais exatamente com esta canção do "Dookie". E, mais uma vez, um fã foi convidado para cantar uma parte da música.

Depois de "Youngblood", que é do álbum mais recente, o grupo emendou algumas músicas menos badaladas da carreira, como "2000 Light Years Away", "Armatage Shanks" e "J.A.R. (Jason Andrew Relva)", esta última não era executada em shows desde 2013. Neste período da apresentação, Armstrong ainda chegou a usar uma mangueira, jogando jatos de água na plateia e também usou um lançador de camisetas, presenteando até fãs que estavam mais longe, na Pista Comum.

"Scattered", "Nice Guys Finish Last" e "Waiting" vieram em seguida, dando uma sequência no período das faixas um pouco menos badaladas que megasucessos . Em contrapartida, a trinca dos grandiosos hits "When I Come Around", "Welcome to Paradise" e "Minority" voltou a levantar o público de uma maneira generalizada. Em "Minority", o vocalista apresentou todos os componentes da banda.

"Are We the Waiting", "St. Jimmy" e "Knowledge" foram tocadas em seguida, sendo que, nesta última, mais um fã foi convidado a subir para o palco, desta vez para tocar guitarra com a banda. Depois do sonho realizado pelo garoto que tocou o instrumento, o Green Day trouxe "Basket Case", mantendo a empolgação do público com mais um hit obrigatório.

Após uma brevíssima saída do palco, os músicos voltaram fantasiados para tocar "King for a Day". Foi um momento do show marcado pela grande descontração dos músicos, que aproveitaram para sair um pouco do estilo tradicional das apresentações do rock. Teve saxofonista tocando "Garota de Ipanema" e até troca de instrumentos entre o baterista Tré Cool e o vocalista Billie Joe.

Sobrou mais espaço para discursos sobre igualdade e para uma sequência de covers cantados de uma maneira mais descontraída e sem as músicas completas de "Always Look on the Bright Side of Life", do Monty Python, "Break on Through (to the Other Side)", do The Doors, "(I Can't Get No) Satisfaction", dos Stones, e "Hey Jude", dos Beatles.

A primeira parte do show foi encerrada com "Still Breathing" e "Forever Now", sendo que, na primeira, Armstrong agradeceu ao público.

No primeiro bis, o Green Day trouxe "American Idiot" e "Jesus of Suburbia". A primeira veio recheada de recados ao momento atual norte-americano e a segunda tratou de empolgar a plateia, mesmo já com mais de duas horas de show.

O segundo bis veio com "21 Guns" e "Good Riddance (Time of Your Life)", com a banda encerrando a apresentação com uma chuva de papel picado nas cores vermelha e branca. E boa parte daquilo que o fã de carteirinha do Green Day desejava foi vista no Anhembi, após sete anos de ausência no Brasil.

"She" acabou ficando de fora, assim como um outro hit bastante desejado: "Wake Me Up When September Ends". Do álbum novo, a melhor do disco, "Troubled Times", também poderia ter sido inserida no repertório, já que retrata demais o momento atual vivido pelo mundo.

No geral, foi um show correto e na medida de tudo aquilo esperado pelos fãs. Mais uma vez, o Green Day mostrou que continua em forma e preparado para dar ao público o rock n' roll que ele merece por vários anos ainda.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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