Living Colour mostra excelência e versatilidade em 'Shade'
Marcelo Moreira
A música era boa, mas o visual inspirava desconfiança. Como assim? Quatro negros mandando ver um hard rock suingado e muito pesado, mas com roupas coloridas e guitarrista usando um instrumento rosa e amarelo?
As coisas estavam mudando, com a parceria extraordinária entre Aeromisth e Run DMC em 1986 na icônica "Walk This Way", que virou um rap-hard.
Vernon Reid não tinha paciência para essas convenções. Tocava guitarra como se fosse uma mistura de Joe Pass e Wes Montgmery, astros do jazz, turbinados por uma dose de psicodelia de Jimi Hendrix. Mais do que o Guns N' Roses, era a grande novidade do rock naquele biênio de 1987 e 1988.
Trinta anos depois, com vários hiatos e desavenças pacificadas, o Living Colour ressurge de suas hibernações com uma porrada, "Shade", o novo álbum da banda.
O experimentalismo sonoro ainda permanece no trabalho do quarteto, mas o rock predomina. Se Corey Glover mantém a pegada forte e eclética, coube a Reid manter o peso e a porrada. Os timbres são característicos e a versatilidade está intacta.
Ninguém conseguiu unir rock energético e pulsante com a black music em todas as suas vertentes. De Sly Stone a Funkadelic, passando por Tower of Power e Chic, o que sempre predominou ali foi a música negra em sua essência. Living Colour é rock, antes de mais nada, mas feito de uma maneira que jamais alguém chegou perto de fazer – um black rock extraordinário.
Os maiores exemplos disso são a abertura, "Freedom Of Expression (F.O.X.)", e "Preachin' Blues" Se Hendrix é revisitado e ganha uma alma roqueira pesada pelas mãos de Reid na primeira, a segunda evidencia toda a destreza do quarteto, com a soberba participação do baixista Doug Wimbish em um clássico de Robert Johnson.
"Como On" tenta flertar com ritmos mais modernos e efeitos estranhos, embora Glover consiga manter as coisas no lugar com sua interpretação manhosa e cheia de groove.
"Who Shot Ya" é uma versão dispensável de uma música de Notorious B.I.G., embora o quarteto mostre qualidades. Mas é em "Always Wrong" que a mescla de rock e black music setentista se mostra mais pungente e urgente, relembrando um pouco do início da banda.
"Pattern" e "Who's That" tentam soar mais vintage, com o blues predominando em algumas partes, com guitarra e baixo duelando insistentemente, para introduzirem a mais pura black music com "Inner City Blues" e "Two Sides", onde o blues e a soul music pesada dão as caras em desempenhos alucinantes do quarteto.
O Living Colour fazia muita falta no cenário musical. "Shade" não é o seu melhor trabalho, mas recupera a vontade de tocar dos músicos e mostra que as composições são obras de instrumentistas ávidos para mostrar que o grupo não é apenas cult. Tem gente que vai comer poeira atrás dos veteranos do black rock (isso existe?).
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