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Reunião do Helloween: razão e sensibilidade em show histórico

Combate Rock

04/11/2017 07h12

Marcelo Moreira

Andi Deris, Kai Hansen e Markus Grosskopf (FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE)

Há alguns shows em que qualquer descrição fica prejudicada por conta da importância do evento. Não tem como classificar uma apresentação histórica de um The Who tocando pela primeira vez no Brasil em 55 anos de carreira, assim como foram, no ano passado, as duas apresentações de David Gilmour (ex-Pink Floyd).

A banda alemã Helloween, é óbvio, está a anos-luz da importância dos artistas citados, mas ainda é muito relevante dentro do heavy metal, por mais que a quantidade de detratores tenha crescido nos últimos anos.

Não importa que os últimos trabalhos de músicas inéditas tenham sido, no máximo, razoáveis, até por conta dos diversos problemas que a banda enfrentou dentro e fora dos estúdios.

A "Pumpkins United Tour", desde o início, mostrou que a ocasião é histórica: a formação atual da banda recebendo no palco o fundador Kai Hansen, guitarrista e primeiro vocalista, que saiu em 1989, e o vocalista Michael Kiske, considerado um dos melhores do heavy metal, que saiu do Helloween em 1993.

Foram anos e anos de rusgas e brigas pela imprensa, até que os ânimos serenaram neste século. A ideia era sensacional, mas perigosa por conta dos egos, mas os temores se dissiparam depois das várias entrevistas mostrando que o clima era propício.

E o Helloween mostrou que estava em alto astral nas primeiras apresentações do México, e que chegou com tudo para os dois shows marcados para o Espaço das Américas, em São Paulo, os dois lotados.

No sábado, 28 de outubro, o clima de era de celebração, ocorresse o que ocorresse. Havia muita garotada louca para presenciar uma banda que criou um subestilo, o power metal, há 32 anos. E havia muito quarentão e cinquentão chorando por finalmente ver Kiske e Hansen juntos no Brasil, com o Helloween.

O jogo estava ganho desde sempre, não importa que havia informações sobre os problemas vocais de Kiske e de alterações no setlist. Kiske só precisava abrir a boca. Era o suficiente.

Para quem encarou o evento como uma grande celebração, tudo deu certo. Os principais clássicos foram executados, e até mesmo o clima de camaradagem entre os três vocalistas resvalava, de leve, para uma certa competição.

A abertura com "Halloween", com Kiske e Deris dividindo os vocais, derrubou o local como nunca antes visto, jogando por terra qualquer tentativa de assistir á apresentação com um olhar mais crítico e técnico. Era hora de comemorar e curtir.

Tudo soava perfeito, como "Dr. Stein" e "I'm Alive", quando um misto de alívio e satisfação podia ser observado nos rostos dos músicos. O telão não funcionou? E quem ligou para isso?

"If I Could Fly" e "Are You Metal" surpreenderam pela ótima receptividade, já que não se tratam de verdadeiros clássicos da banda, e serviram de bela introdução para que Hansen, um pouco mais adiante, desse um show com a sequência "Starlight", "Ride the Sky", "Judas" e "Heavy Metal (Is the Law)".

O melhor, evidentemente, estava no final, com uma sequência de cinco músicas destruidoras, que serviram de encerramento e bis. Com os três vocalistas no palco, mandaram "How Many Tears", "Eagle Fly Free", "Keeper of the Seven Keys", "Future World" e "I Want Out". Não poderia ser mais épico.

No dia seguinte, 29 de outubro, a banda entrou um pouco mais relaxada. Continuavam as gravações para o DVD que será lançado em 2018 e a sequência de músicas a mesma, mas era evidente que havia menos tensão no ar.

O entrosamento surpreendente mostrou um septeto afiado e aparentemente curtindo muito a resposta do público, que cantou todas as músicas. Um dos diretores de vídeo reclamou, em tom de brincadeira, que a edição do material seria difícil por conta da diversidade de boas imagens que estavam captando para o DVD.

Quem tinha comparecido no dia anterior estava ávido por fazer comparações. Bobagem. O show foi tão bom e energético quanto, com uma banda comprometida a fazer tudo dar certo, até elo histórico de problemas que a banda carrega.

Houve alguns momentos em que Kiske pareceu se exceder um pouco, mas em outros sua atuação foi primorosa, como em "Rise and Fall" e nas músicas que encerraram o show.

Andi Deris, aquele que poderia se sentir o mais desprestigiado, mostrou que, na verdade, era o "dono" do espetáculo, cuidando para que todo mundo ficasse satisfeito e cantando com esmero suas partes, em nada ficando a dever aos utros dois históricos vocalistas.

Deris teve a deferência de cantar mais músicas, afinal, é o atual vocalista e aquele que mais tempo permanece nos microfones do Helloween – 23 anos. Cantou maravilhosamente as músicas "If I Could Fly" e "Are You Metal", de sua época, e fez um bom contraponto para os colegas em "How Many Tears" e "Keeper of Sevent Keys".

Use quais os adjetivos quiser. A passagem do Helloween com sete integrantes reunidos após anos de desavenças foi um dos grandes momentos do rock na cidade de São Paulo.

Músicas tocadas no dia 28:

1. Halloween
2. Dr. Stein
3. I'm Alive
4. If I Could Fly
5. Are You Metal?
6. Rise and Fall
7. Waiting for the Thunder
8. Perfect Gentleman
9. Starlight / Ride the Sky / Judas / Heavy Metal (Is the Law)
10. Forever and One (Neverland)
11. A Tale That Wasn't Right
12. I Can
13. Drum Solo
14. Why?
15. Livin' Ain't No Crime / A Little Time
16. Sole Survivor
17. Power
18. How Many Tears
19. Eagle Fly Free
20. Keeper of the Seven Keys
21. Future World
22. I Want Out
"Halloween" (trecho)

Músicas tocadas no dia 29:

1. Halloween (com Kiske e Deris)
2. Stein (com Kiske e Deris)
3. I'm Alive (com  Michael Kiske)
4. If I Could Fly (com Andi Deris)
5. Are You Metal? (com Andi Deris)
6. Rise and Fall (com Michel Kiske)
7. Waiting for the Thunder (com Andi Deris)
8. Perfect Gentleman (com Andi Deris)
9. Starlight / Ride the Sky / Judas / Heavy Metal (Is the Law) (com Kai Hansen)
10. Forever and One (Neverland) (com Kiske e Deris)
11. A Tale That Wasn't Right (com Kiske e Deris)
12. I Can (com Andi Deris)
13. Solo de bateria ("batalha" com Dani Löble e Ingo com imagens no telão)
14. Livin' Ain't No Crime / A Little Time (com Michael Kiske)
15. Why? (com Kiske e Deris)
16. Sole Survivor (com Andi Deris)
17. Power (com Kiske e Deris)
18. How Many Tears (com Kiske, Deris e Hansen)
19. Eagle Fly Free (com Kiske)
20. Keeper of the Seven Keys (com Kiske, Deris e Hansen)
21. Future World (com Kiske)
22. I Want Out (com Kiske e Deris)

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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