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Def Leppard faz grande show em SP e esquece o fiasco de 1997

Combate Rock

30/09/2017 06h30

Flavio Leonel – do site Roque Reverso

Def Leppard também foi bem no Allianz Parque (FOTO: DIVULGAÇÃO/MERCURY CONCERTS)

Vinte anos após um fiasco histórico, o Def Leppard finalmente conseguiu chutar para longe esta marca negativa ligada ao Brasil. No domingo, 24 de setembro, na Arena do Palmeiras, a gigante banda britânica fez grande show e saciou a sede dos fãs do bom e velho hard rock.

Atração de abertura da terceira noite do novíssimo festival São Paulo Trip, o Def Leppard preparou o terreno com dignidade para o headliner Aerosmith. Com diversos hits da carreira, os britânicos trouxeram um show curto, com apenas 14 músicas, mas que foi direto ao ponto.

Para quem não sabe do fiasco de 1997, o Def Leppard veio ao Brasil para passagens pelo Rio e São Paulo. A turnê em questão era do álbum "Slang", que fugia um pouco do som que consagrou mundialmente a banda nos Anos 80. O grupo tinha um show marcado para o Rio de Janeiro e dois para São Paulo.

A despeito de aquela ter sido a primeira vez da banda no País, a passagem por aqui foi considerada um fiasco histórico, como poucos vistos no Brasil. No Rio, o show reuniu apenas cerca de 250 pessoas. Em São Paulo, uma das apresentações precisou ser cancelada pela baixa procura de ingressos e a outra contou com um público muito aquém do desejado no saudoso Olympia.

Organizadores, banda, fãs e jornalistas nunca chegaram a uma conclusão final sobre o motivo daquele fiasco. Uns atribuem a vergonha passada ao fato de o grupo nunca ter passado pelo Brasil e a consequente falta de cultivo de fãs. Outros apontam o fraco álbum lançado como culpado.

Para este jornalista, o fiasco pode ser explicado por este dois fatores e por um radicalismo que existia na época entre os fãs do rock pesado. Aquela era uma década na qual o Metallica levou definitivamente o heavy metal para o estrelato nunca antes visto com o Black Album. Com o sucesso daquele grande disco, muitas bandas de várias vertentes do metal ou do hard rock chegaram a tirar um pouco do seu tradicional peso para deixar a música mais acessível a um público maior.

O grande problema é que muitas delas acabaram ficando leves demais e produziram discos bem fracos, se comparados a períodos de ouro da carreira. O próprio Metallica já tinha feito o criticado "Load" em 1996. O Megadeth traria o contestadíssimo "Risk" em 1999. E o Def Leppard, gravou o "Slang" em 1996.

Com isso, houve uma onda de esnobação a tudo que fosse leve e uma migração de muitos fãs a estilos mais pesados, como o death metal. Quem frequentava a Galeria do Rock, em São Paulo, nesta época, lembra muito bem do termo "from hell", que era dado a galera mais radical. Este jornalista chegou a ver discussões acaloradas na qual até ícones do metal, como o Black Sabbath, eram contestados pela "leveza" em relação a bandas de death metal.

Com tudo isso, aquela turnê do Def Leppard foi praticamente boicotada no Brasil por muita gente que torceu demais o nariz para o álbum "Slang". O guitarrista Phil Collen chegou a classificar aquela turnê como a pior da história do grupo.

Em 2017, no entanto, tudo isso ficou no passado. O Def Leppard já havia passado pelo Rock in Rio dias antes e já havia agradado. Em São Paulo, trouxe um set list idêntico e uma competência igual.

A banda iniciou o show no Allianz Parque alguns minutos antes do horário previsto, que era o das 19h45. Logo na abertura, trouxe a música "Let's Go", presente no disco "Def Leppard", de 2015.

Chamaram a atenção logo de cara os efeitos visuais de altíssima qualidade dos telões que seguiriam por toda apresentação. Talvez, só o Guns N' Roses trouxe algo superior e isso só reforça a gigantesca importância do Def Leppard no cenário do rock.

Depois da música mais recente na abertura, o grupo não economizou e tocou nada menos que três hits históricos: "Animal", "Let It Go" e "Love Bites".

A primeira e a terceira são legítimas representantes do multiplatinado álbum "Hysteria", de 1987, que mudou a carreira da banda, que fincou ali definitivamente os pés no hard rock. "Let It Go" é original do disco "High 'n' Dry", que ainda trazia o grupo na fase mais próxima da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM).

Era muito gratificante, além da parte instrumental bem executada, ouvir aquela combinação de vozes que consagrou o Def Leppard. Joe Elliott (vocal), Phil Collen (guitarra e backing vocal) e Rick Savage (baixo e backing vocal) são daqueles fenômenos de combinação que demoram para acontecer no rock.

"Armageddon It", também do "Hysteria", e "Man Enough", do disco mais recente deram sequência ao bom show. Menos badaladas que as anteriores, não prejudicaram o andamento da apresentação.

As músicas "Rocket", "Bringin' on the Heartbreak", "Switch 625" e "Hysteria" mantiveram o resgate dos discos clássicos dos Anos 80 que alegraram uma geração inteira. Mesmo a instrumental "Switch 625" não desmotivou o público. E foi possível para todos ver o exemplo de superação Rick Allen debulhar na bateria, mesmo não tendo um dos braços.

"Let's Get Rocked" foi a representante de sucesso da fase dos Anos 90 e abriu o caminho para nada menos que a marcante "Pour Some Sugar On Me", que levanta qualquer tipo de público. "Rock of Ages" e "Photograph" fecharam o show, que, para muitos ali, poderia ter sido maior.

Entre as ausências sentidas, faixas como "Foolin'" e "Rock! Rock! (Till You Drop)", mais pesadas. E a balada "Two Steps Behind". Dado o quase ineditismo do Def Leppard por terras brasileiras, seria um presente e tanto para os fãs.

O saldo final foi, no entanto, bastante animador e a passagem da banda para tocar em eventos em locais abertos só reforçou a expectativa de um retorno, num futuro bem próximo, para shows em casas fechadas. Público, desta vez, não faltaria.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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