Bon Jovi e Tears For Fears: resgate dos anos 80 óbvio e sem riscos
Marcelo Moreira
Os anos 80 voltaram por algumas horas no Rock in Rio, e o resultado foi bem morno. A noite de sexta-feira (22 de setembro) trouxe um Bon Jovi mais descontraído e um Tears For Fears um pouco deslocado, mas com bastante gás para mostrar que o retorno de Curt Smith é para valer.
O Bon Jovi ainda preserva o seu charme, mas perdeu o vigor com a saída de Richie Sambora, o guitarrista bluesy que praticamente moldou som da banda até meados dos anos 90.
Mais pop e menos incisivo, em um movimento parecido com o do Aerosmith, o grupo se apoia no carisma quase que totalmente no carisma de seu vocalista Jon Bon Jovi, e se dá bem, embora não consiga o resultado efusivo que o time de Steve Tyler conseguiu na noite anterior.
Com quase 35 anos de carreira, é inevitável que venha a fileira de hits, mas as baladas, de certa forma, predominam, tonando a apresentação mais acessível a um tipo de público que busca, antes de mais nada, entretenimento. O fã da banda quer curtir, e não fazer uma imersão em uma catarse, como aqueles que esperaram por The Who por décadas.
Assim, Bon Jovi entregou o que sempre promete desde os anos 90: uma música agradável, dançante, de fácil assimilação, só que muito longe de ser instigante e provocativa.
Em uma performance carismática, mas muito estudada e profissional, o Bon Jovi não correu riscos e chacoalhou a pista com o indefectível hit "Born to Be My Baby" e relembrou os velhos tempos com "Wanted Dead or Alive", "Runaway" e "Livin' on a Prayer", e derreteu corações com "Bed of Roses" e mais uma penca de baladas.
A dupla inglesa Tears For Fears enfrentou nos palcos cariocas o mesmo dilema que os conterrâneos do Cult em São Paulo no dia anterior. Talvez sem sem entender muito a dimensão da importância da apresentação, subiu ao palco sem muita energia e causou pouco impacto. No meio do show é que as coisas começaram a esquentar.
Com um pop sofisticado e bem elaborado, a dupla Roland Orzábal e Curt Smith deu uma cara diferente a um mundo dominado pela new wave e pós-punk da primeira metade dos anos 80.
Parecia ser uma redenção desse tipo de música, que tinha o Fleetwood Mac como grande paradigma. Na época funcionava bem nos palcos. Trinta e cinco anos depois isso já é uma dúvida, ainda mais em festivais de gigantescos.
Com uma penetração menor no Brasil e hits não tão impactantes para o público daqui, Tears For Fears optou por fazer o seu típico show classudo, com arranjos mais próximos dos originais e guitarras menos estridentes.
Os hits levantaram o público, mas sem grande entusiasmo. "Everybody Wants to Rule the World" ainda é uma música potente, assim como "Shout" e sofisticada "Head Over Heels", mas não foram suficientes para criar uma empatia imediata com uma plateia que queria festa. Não foi decepcionante, mas ficou a impressão de que poderiam ter feito mais no Rock in Rio.
A banda norte-americana Alter Bridge mudou a sua estratégia em relação ao show do dia anterior, em São Paulo, quando teve certa dificuldade em acertar o tom para um público alheio ao seu hard rock alternativo.
No Rio de Janeiro, enfrentando um público ainda maior e mais disperso, optou por um som mais pesado e frenético, com sucesso parcial. "Come to Life" e "Water Rising" foram os carros-chefes e agradaram. Foi um show melhor, embora com menos receptividade do público.
No palco Sunset, Ney Matogrosso se encontrou com a Nação Zumbi, em uma daquelas junções tão esquisitas que comumente o festival faz – lembram-se da fracassada união entre Zé Ramalho e Sepultura?
O estranhamento do público foi o mesmo, em que pese o esforço dos dois artistas em fazer dar certo. Ney foi bem, é versátil, mas teve de mudar de forma radical algumas de suas características para acompanhar o som denso e pesado dos pernambucanos. Deu certo em alguns momentos, mas naufragou em outros. Valeu pela experiência, mas que não deverá ser repetida.
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