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Bon Jovi e Tears For Fears: resgate dos anos 80 óbvio e sem riscos

Combate Rock

23/09/2017 20h22

Marcelo Moreira

Os anos 80 voltaram por algumas horas no Rock in Rio, e o resultado foi bem morno. A noite de sexta-feira (22 de setembro) trouxe um Bon Jovi mais descontraído e um Tears For Fears um pouco deslocado, mas com bastante gás para mostrar que o retorno de Curt Smith é para valer.

O Bon Jovi ainda preserva o seu charme, mas perdeu o vigor com a saída de Richie Sambora, o guitarrista bluesy que praticamente moldou  som da banda até meados dos anos 90.

Mais pop e menos incisivo, em um movimento parecido com o do Aerosmith, o grupo se apoia no carisma quase que totalmente no carisma de seu vocalista Jon Bon Jovi, e se dá bem, embora não consiga o resultado efusivo que o time de Steve Tyler conseguiu na noite anterior.

Com quase 35 anos de carreira, é inevitável que venha a fileira de hits, mas as baladas, de certa forma, predominam, tonando a apresentação mais acessível a um tipo de público que busca, antes de mais nada, entretenimento. O fã da banda quer curtir, e não fazer uma imersão em uma catarse, como aqueles que esperaram por The Who por décadas.

Assim, Bon Jovi entregou o que sempre promete desde os anos 90: uma música agradável, dançante, de fácil assimilação, só que muito longe de ser instigante e provocativa.

Em uma performance carismática, mas muito estudada e profissional, o Bon Jovi não correu riscos e chacoalhou a pista com o indefectível hit "Born to Be My Baby" e relembrou os velhos tempos com "Wanted Dead or Alive", "Runaway" e "Livin' on a Prayer", e derreteu corações com "Bed of Roses" e mais uma penca de baladas.

A dupla inglesa Tears For Fears enfrentou nos palcos cariocas o mesmo dilema que os conterrâneos do Cult em São Paulo no dia anterior. Talvez sem sem entender muito a dimensão da importância da apresentação, subiu ao palco sem muita energia e causou pouco impacto. No meio do show é que as coisas começaram a esquentar.

Com um pop sofisticado e bem elaborado, a dupla Roland Orzábal e Curt Smith deu uma cara diferente a um mundo dominado pela new wave e pós-punk da primeira metade dos anos 80.

Parecia ser uma redenção desse tipo de música, que tinha o Fleetwood Mac como grande paradigma. Na época funcionava bem nos palcos. Trinta e cinco anos depois isso já é uma dúvida, ainda mais em festivais de gigantescos.

Com uma penetração menor no Brasil e hits não tão impactantes para o público daqui, Tears For Fears optou por fazer o seu típico show classudo, com arranjos mais próximos dos originais e guitarras menos estridentes.

Os hits levantaram o público, mas sem grande entusiasmo. "Everybody Wants to Rule the World" ainda é uma música potente, assim como "Shout" e sofisticada "Head Over Heels", mas não foram suficientes para criar uma empatia imediata com uma plateia que queria festa. Não foi decepcionante, mas ficou a impressão de que poderiam ter feito mais no Rock in Rio.

A banda norte-americana Alter Bridge mudou a sua estratégia  em relação ao show do dia anterior, em São Paulo, quando teve certa dificuldade em acertar o tom para um público alheio ao seu hard rock alternativo.

No Rio de Janeiro, enfrentando um público ainda maior e mais disperso, optou por um som mais pesado e frenético, com  sucesso parcial. "Come to Life" e "Water Rising" foram os carros-chefes e agradaram. Foi um show melhor, embora com menos receptividade do público.

No palco Sunset, Ney Matogrosso se encontrou com a Nação Zumbi, em uma daquelas junções tão esquisitas que comumente o festival faz – lembram-se da fracassada união entre Zé Ramalho e Sepultura?

O estranhamento do público foi o mesmo, em que pese o esforço dos dois artistas em fazer dar certo. Ney foi bem, é versátil, mas teve de mudar de forma radical algumas de suas características para acompanhar o som denso e pesado dos pernambucanos. Deu certo em alguns momentos, mas naufragou em outros. Valeu pela experiência, mas que não deverá ser repetida.

 

 

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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