The Leprechaun mantém o pé na Irlanda, mas agrega novos sons ao seu folk
Marcelo Moreira
A brincadeira continua válida: músico brasileiro achando que é viking? Ou sonhando que vive nas pradarias e florestas encantadas da Irlanda vendo duendes? Se existe bana finlandesa que sonhou em viver no Rio de Janeiro para cantar punk rock, por que não?
O rock é tão plural, internacional e multinacional que permite que coisas assim funcionem, de certa forma, ou então não teríamos bandas mineiras como Tuatha de Dannan, Lothloryen e Cartoon mergulhando no universo folk dos britânicos e dops celtas.
A banda paulista The Leprechaun nunca teve medo de enfrentar tais questionamentos. A banda abraçou o mundo celta – o nome já denuncia -, mas teve personalidade suficiente para admitir que foi um ponto de partida. O negócio agora é ampliar os horizontes e agregar novos elementos.
"Isosceles" é o terceiro álbum da banda, que é mais eclético e dinâmico que o anterior, "Long Road", ainda com forte acento do celtic folk. a música servia como um carimbo para o estilo da banda, mas já é assim.
Com uma articulação interessante entre mundos distintos, The Leprechaun mantém os dois pés no mundo irlandês, mas arriscou bastante ao procurar mais elementos do country norte-americano. É como se Boston se mesclasse com Nashville e com Barretos e Jaú, no interior de São Paulo. O resultado é muito interessante.
"Good Times" abre as portas do novo álbum com um clima de pub, com emulações de instrumentos típicos como whistle e bodhran. O clima é de Bostom, mas bem que poderia ser de Dublin, capital da Irlanda, ou Cork.
Alguns desavisados poderiam achar que a colônia irlandesa ou escocesa no Brasil é bastante representativa, a julgar pelo fascínio que a cultura gaélica/celta desperta em alguns músicos brasileiros.
É inegável a influência importante de grupos irlandeses como The Pogues e dos trabalhos solo de seu líder, Shane MacGowan, além dos norte-americanos do Dropkick MUrphys.
Os arranjos são muito interessantes, com a recriação de um ambiente celta em estúdio com muita competência, mesmo em composições originais. O folk irlandês predomina, mas há elementos de country, bluegrass, blues e algum tempero brasileiro.
"Isosceles" é um trabalho bastante agradável e o grupo acertou em cheio ao escalar uma cantora, a surpreendente Fabiana Santos, que manda muito bem nas canções mais rápidas e, principalmente, nas que tem maior acento folclórico.
O trabalho de guitarras,violões e cordas em geral é primoroso, em um belo esforço de garimpagem de sons e timbres característicos. Os apreciadores do rock mais pesado são contemplados aqui e ali com guitarras mais fortes e vigorosas
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