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Sgt. Pepper: crônicas da construção de uma obra-prima

Combate Rock

31/08/2017 06h41

Marcelo Moreira

Comandar craques pode ser o sonho de qualquer um em qualquer área, mas certamente as pessoas não fazem ideia de como é desafiador, mas também difícil e exaustivo – principalmente se um desses craques exige um coral de mil monges tibetanos para gravar uma música.

O cinquentenário de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", o maior disco da história do rock e do pop, trouxe uma série de presentes para s fãs de música, como edições especiais do álbum e muitas outras quinquilharias.

Para os brasileiros, provavelmente, o melhor bônus desse cinquentenário veio coma  reedição de um livro bem bacana e que desvenda alguns mitos a respeito da principal obra dos Beatles.

"Paz, Amor e Sgt. Pepper" (Sonora Editora) foi escrito pelo produtor George Martin em 1993 com base em um especial de TV sobre o disco realizado um ano antes nos Estados Unidos.

Com a preciosa ajuda do jornalista e historiador William Pearson, Martin conta alguns bastidores saborosos da gravação daquele álbum e de seu relacionamento com os quatro Beatles, nem sempre tão cordial a pacato como muito supõem que tenha sido.

A edição brasileira chegou em 1995 graças aos esforços de outro jornalista e historiador, Marcelo Fróes, que fez a ótima tradução e foi atrás de uma editora, aproveitando que tinha ficado amigo de Martin, que viera ao Rio de Janeiro para um evento cultural.

A edição 2017 do livro é bem simples e direta, sem nenhum acréscimo ou posfácio. Nem precisava de nada disso. O texto de Martin e Pearson é enxuto, direto, mas crivado de expressões engraçadas e de um humor peculiar do produtor inglês.

São lembranças, reminiscências e comentários espirituosos sobre como foi gratificante – e difícil – trabalhar por cinco meses em uma obra onde seus autores, gênios musicais, estavam completamente livres e ociosos depois de se livrarem das turnês e dos palcos.

Sem entrar em muitos detalhes, Martin conta como surgiram algumas soluções técnicas aparentemente absurdas para muitas das exigências que os Beatles faziam, ou simplesmente para as muitas ideias malucas que surgiam no estúdio – e não era só John Lennon que aparecia com loucuras como as dos mil monges, já que Paul McCartney também gostava de invetar coisas.

Paciente, magnânimo e dedicado, George Martin dá o devido créditos aos auxiliares diretos Geoff Emerick e Ken Townsend, funcionários da EMI e dos estúdios Abbey Road, em Londres, que foram responsáveis por muitas das soluções que aparecem no álbum.

O livro é curioso e interessante, mas pode decepcionar aqueles que esperavam encontrar uma "saga", ou "épico", no processo de produção do mais importante álbum do rock.

De forma modesta e até meio monótona, Martin enfileira narrativas sobre procedimentos técnicos e disposição de instrumentos para explicar como foram captados cada som e cada tomada das músicas.

É a descrição de um trabalho metódico e estritamente didático, mostrando que os Beatles eram gênios, mas também dedicados e comprometidos com o trabalho duro de gravar, regravar e refinar as canções – e que respeitavam demais as orientações de Big George, com chamavam o produtor.

Outra curiosidade é a maneira como Martin, certamente em cima das pesquisa feita por Pearson, se arrisca como cronista e como analista da cena pop dos anos 40, 50 e 60 para explicar o fenômeno Beatles – e se sai relativamente bem, apesar de tomar emprestadas análises já contidas na vasta bibliografia existente sobre a banda.

Como profissional que vivenciou a explosão criativa do rock inglês dos anos 60, embora não fosse um apreciador de música pop, Martin conseguiu sintetizar a importância cultural do rock inglês daqueles anos e sintetizou de forma satisfatória a importância dos Beatles e das bandas britânicas da época para a cultura jovem ocidental.

Antes de mais nada, "Paz, Amor e Sgt. Pepper", é um livro de memórias, sem a necessidade de um rigor técnico e cronológico, o que suscitou algumas críticas por ser supostamente muito superficial.

Essa crítica não faz sentido, já que o formato de sucessão de crônicas deixa claro qual é o espírito da obra. Não espere grandes revelações ou informações exclusivas de grande relevância. O grande mérito são as impressões e os comentários do líder que dirigiu aquele estupendo trabalho.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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