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Boogarins e os desafios do midstream

Maurício Gaia

11/08/2017 07h00

A banda goiana Boogarins é a maior (cabe usar o termo "maior" aqui) representante do midstream brasileiro – aquela faixa de mercado em que se situam artistas que já deixaram o underground, mas também não tem grande visibilidade na mídia.

Com uma carreira consolidada e diversos shows no Brasil e no exterior, os Boogarins tiveram, logo depois de lançado seu disco de estréia, a oportunidade de assinar contrato com o selo Stereomono, um projeto da Skol. Lembro que cheguei a acompanhar um evento de lançamento e um executivo da cervejaria mandou um: "Isso não é apenas uma ação de marketing, é uma atividade perene, isso e aquilo outro". Bom, pouco menos de dois anos depois, a Skol extinguiu todos os selos, sem aviso prévio.

A sorte dos Boogarins (e de alguns outros poucos artistas que participaram do projeto) é que o futuro deles nunca esteve atrelado aos objetivos de marketing da cervejaria. Continuaram fazendo seus shows e lançando seus discos. Só neste ano, já são dois álbuns: o ao vivo "Desvio Onírico", lançado em fevereiro e, o mais recente, "Lá Vem a Morte".

O álbum, com oito canções e pouco menos de trinta minutos de duração, traz novas perspectivas sonoras para a banda. Gravado no Texas, ele incorpora eletrônica e diversas colagens ao som psicodélico com influências de Jupiter Maçã e Clube da Esquina, entre outros.

Adequado aos tempos sombrios que vivemos, "Lá Vem a Morte" traz um texto de apresentação que afirma, entre outras coisas "Essas músicas são um reflexo da falta de sensibilidade do mundo em que vivemos. Talvez seja hora de ser forte, jogar fora toda hipocrisia e encarar os sentimentos bons e ruins de uma vez… e encontrar uma verdade profunda além da infinita superficialidade de nossos dias." Esse clima se reflete nas letras do álbum, um tanto quanto desesperançadas e melancólicas.

Musicalmente, é um avanço ao que os Boogarins tinham feito até então: depois de ouvirem bastante gente como Kanye West, por exemplo, incorporaram timbres mais graves de baixo (com a utilização de um synth bass) e construiram canções que fogem das estruturas-padrão estabelecidades pelo pop.

Talvez aí resida o grande desafio dos Boogarins: devidamente instalados numa seara que atraem um público antenado e com contando com boa vontade da crítica especializada, faltaria dar o salto para o mainstream, pelo menos essa era a lógica que permeava o mercado até´o desmonte da indústria fonográfica.

De uma forma, a presença deles em festivais como o Rock In Rio, indica que este seria o caminho natural. Mas será que com um álbum tão pouco apegado ao pop radiofônico este salto é o desejado pela banda? Não sei responder, mas com certeza, faz sentido dentro da trajetória da banda ao longo de sua carreira.

O álbum "Lá Vem a Morte" pode ser comprado no bandcamp da banda ou você pode ouvir no player abaixo:

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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