Sérgio Duarte mergulha fundo na tradição e no purismo do blues de Chicago
Marcelo Moreira
Há uma característica que une os músicos de blues brasileiros, em especial aqueles que se aventuram a trabalhar em São Paulo: a persistência.
Se os guitarristas Igor Prado e Celso Salim batalharam por muito tempo nos botecos paulistas antes de engatarem trajetórias bem-sucedidas nos Estados Unidos, gente como Ivan Marcio (gaita), Roger Gutierrez (guitarra), Marcio Scialis (violão e gaita), Ari Borger (teclados) Adriano Grineberg (teclados), Edu Gomes (guitarra), Vasco Faé (violão e gaita), Rodrigo Mantovani (baixo), Humberto Ziegler (bateria), Little Will (gaita), Marcio Abdo e muitos outros fazem questão de mostrar que o gênero está vivo.
Também é o caso de Sérgio Duarte, gaitista, violonista e cantor com milhares de quilômetros rodados e que acaba de lançar seu novo CD, "Highway Man".
Com experiência de ter vivido e tocado nos Estados Unidos, aprendendo com grandes mestres de Chicago – assim como fez Ivan Marcio, Duarte é um primor de técnica e feeling, investindo pesado no blues de raiz com releituras de clássicos do cancioneiro norte-americano – e também de nem tão clássicos assim.
Se Big Chico é um especialista em adicionar um molho de rhythm & blues e funk ao seu blues festeiro, enquanto Marcio é craque em modernizar a gaita blues mesmo em hits de sempre, Duarte é quase um purista, fazendo questão de garimpar timbres clássicos e de criar uma ambientação de botequim esfumaçado dos confins de Illinois, estadop que abriga Chicago.
Os amigos gostam de brincar que Sergio Duarte é uma pessoa caótica e que trabalha de uma forma insana. "Highway Man", no entanto, parece demonstrar o oposto: tudo é simples, mas muito bem encaixado e de uma forma metódica.
Essa meticulosidade se materializa em fraseados bem elaborados e uma sonoridade "vintage", temperados por um vocal ora rouco, ora delicado, pontuando as intervenções cirúrgicas dos violões com timbres cristalinos da guitarra de Leo Leon Duarte, o filho do gaitista, e das teclas elegantes de André Youssef.
A faixa-título, "Mr. Highway Man", do lendário Howlin' Wolf, dá o tom, abusando do clima nostálgico e clássico, embora Duarte faça questão de manter certa "rusticidade" que a canção pede.
"Letter From Home" ganha uma interpretação mais solta, quase suave, enquanto que "You Gotta Move", de Elmore James recebe o peso que necessita.
"I'm Ready", de Willie Dixon, é mais básica e respeita as versões clássicas mmais antigas, mas é em "Bring It On Home", do mestre Sonny Boy Williamson, que Duarte se mostra um gaitista versátil e criativo, com uma versão mais expansiva, digamos assim.
Quase como se fossem um bônus, as duas últimas das 12 canções deixam o astral mais desanuviado com versões elegantes e mais leves.
"Little Girl", do gigante da gaita Little Walter, ganha uma mistura de timbres clássicos e potentes, enquanto que "Watch Out", do inglês Peter Green, é soberba na escolha dos arranjos e no ataque da melodia principal.
Assim como os mais recentes trabalhos de gaitistas como Big Chico, Little Will e Ivan Marcio, "Highway Man" teve um um trabalho muito criterioso e curadoria e produção de Chico Blues, e o resultado é muito bom.
Duarte prova que o blues é um gênero que merece atenção minuciosa do ouvinte mais exigente, o que contribui para que a qualidade dos lançamentos mais recentes continue alta.
Resta agora saber quem vai se aventurar a fazer um trabalho totalmente autoral em um álbum de blues no Brasil para que não deixe gente como Big Gilson e Cris Crochemore como exceções na atualidade.
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