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Banda Busic 'estreia' nova formação no Sesc Belenzinho

Combate Rock

11/07/2017 06h51

Marcelo Moreira

Banda Busic e sua nova formação: da esq. para a dir., Thiago Mello, Andria Busic, Zeca Salgueiro e Ivan Busic (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A cada recomeço, a certeza de quem haverá um palco esperando por uma banda de rock. Para o baterista Ivan Busic, essa máxima jamais deve sair da cabeça de um artista que ainda acredita no que faz.

Com esse espírito, ele e a banda Busic, formada ao lado do irmão Andria, baixista e vocalista, sobem ao palco do Sesc Belenzinho nesta sexta-feira (14 de julho) para finalmente fazerem um show para grande público em São Paulo de lançamento do primeiro CD do grupo, que chegou às lojas no começo do ano.

"Busic" traz pela primeira vez os irmãos cantando em português em um trabalho completo, abrindo novas possibilidades e trazendo novos desafios: se tudo soa como novidade e fresco, por outro lado é necessário muito mais trabalho para (re)conquistar um espaço que sempre pareceu cativo.

"É evidente que o legado que deixamos com o Dr. Sin é especial e maravilhoso, trouxe-nos até aqui após 23 anos de esforço, e é uma base importante para seguirmos em frente em novo projeto. Só que temos clareza de que é um mundo diferente e uma nova era, e teremos de batalhar como sempre para mostrar as músicas da banda Busic", diz o baterista empolgado.

Como o trio Dr. Sin Ivan e Andria, ao lado do mestre guitarrista Edu Ardanuy, estiveram sempre no topo do rock pesado nacional, em um seleto grupo que inclui Sepultura, Angra, Korzus e Krisiun.

Justamente por isso é que causou um espanto geral o anúncio do fio do grupo em emados de 2015, meses após o lançamento do CD "Intactus", o melhor da banda.

"Claro que ainda há reflexos do fim do Dr. Sin, sempre será um filho amado e sempre teremos muita saudade e muito orgulho do que fizemos. Talvez seja isso, mais do que tudo, o que nos empurra para o futuro e encarar a banda Busic como um objetivo de vida, mais até que como um desafio", analisa Ivan Busic.

Por enquanto as apresentações do agora quarteto são um grande apanhado da carreira dos irmãos, adicionando clássicos do Dr. Sin, da banda Taffo e do Platina (os dois integraram essas bandas) com quase todas as cações do CD da banda Busic.

O que dá para perceber nos palcos é que temos um grupo ainda em busca de uma identidade, o que é natural depois de 23 anos sob o poderoso e intenso nome Dr. Sin.

Com a saída de Ardanuy, os irmãos optaram por um som menos bluesy e virtuoso, que é compreensível em se tratando de algo novo e diferente. Eles quiseram uma guitarra mais orgânica e mais intensa, mais reta. Para isso trouxeram inicialmente o guitarrista Hard Alexandre e o violonista e guitarrista Zeca Salgueiro.  A ideia era adicionar ao hard rock característico da banda Busic um toque mais pop – ou folk, digamos assim.

No CD Andria Busic gravou todos os baixos, todas as bases de guitarra e a maioria dos solos, em um trabalho admirável. Alexandre contribuiu de forma menos intensa e, surpreendentemente, anunciou sua saída da banda antes mesmo do lançamento do álbum alegando diferenças "políticas" com os irmãos Busic.

Com uma agenda extensa para cumprir no interior de São Paulo, o trio remanescente contou com o amigo Jaéder Menossi, guitarrista da banda Pop Javali, para realizar os shows. Em seguida, o grupo fez dois meses de audições com guitarristas do Brasil inteiro até chegar ao nome de Thiago Mello, instrumentista experiente e de muita técnica.

Podemos dizer que o show no Sesc será uma espécie de apresentação oficial do Thiago na banda, um rapaz surpreendente e muito talentoso, que mostra um profissionalismo inacreditável. O surgimento da Busic foi um recomeço para mim e para o Andria, e a entrada do Thiago significou um 're-recomeço'. Posso dizer que estamos bem mais fortes e coesos para seguir em frente", acredita Ivan.

Estreia de respeito

A banda Busic, em seu primeiro álbum após os irmãos Andria (baixo e voz) e Ivan (bateria e voz) deixarem o Dr. Sin, não economizou em termos de inspiração: são 15 músicas em mais de uma hora de boa música. O guitarrista herói Edu Ardanuy seguiu outros caminhos, e os irmão decidiram dar uma guinada na carreira.

"É claro que haverá comparações, ainda há a mesma pegada roqueira pesada e hard, mas creio que logo logo ficará explícito que é outra banda, com outro conceito", diz Andria Busic.

O diagnóstico foi certeiro: o hard rock é o mesmo de sempre da dupla, mas a banda Busic ignora os preconceitos e os rótulos, flertando com o metal, com o pop rock nacional e também com o blues.

Se a opção pelo hard em português tivesse surgido nos anos 80, certamente poderia ter atingido um patamar no então rock nacional, algo que o ótimo Golpe de Estado quase conseguiu. grupo não teve medo de provocar tédio ou dispersão de atenção no ouvinte com as 15 músicas. Faz sentido, já que algumas canções trazem uma certa urgência, como se houvesse uma necessidade de expressar mensagens em uma nova e importante fase da vida.

"De certa forma isso é verdade, já que o Dr. Sin acabou no começo de 2016 e nós logo procuramos aproveitar o bom momento de inspiração", diz Ivan. "Aproveitamos vários temas e diversificamos, mas realmente havia uma vontade de colocar tudo para fora. Não era o caso de economizar."

O material que foi produzido no geral é muito bom, ainda que os músicos corressem o risco de desperdiçar boas canções e, um álbum longo e recheado.

Com a nova abordagem, Andria e Ivan, que dividem os vocais ao longo do trabalho, demonstraram uma segurança e descontração surpreendentes para quem estreava um projeto radicalmente diferente, e em outro idioma – ainda que seja o nativo deles.

Temas pesados

Um dos destaques do álbum é "Escravas do Medo", que acerta no tom dramático de uma história triste que versa sobre a violência contra a mulher.

"Só o Tempo Vai Dizer", que só tornou o primeiro clipe do álbum, traz Andria Busic confortável ao cantar em português. Mais contido do que na época do Dr. Sin, o baixista e vocalista demonstra boa capacidade de adaptação ao português e dá maior ênfase à interpretação, "sentindo" a história. Nas duas canções, o trabalho de guitarras foi um diferencial, principalmente na primeira.

Em "Fúria Cega", há guitarras mais pesadas, em um dos momentos heavy do álbum. Os músicos foram felizes ao criar um clima tenso para uma história baseada em uma discussão de trânsito. Aqui, Andria e Hard dividiram as execuções de guitarra, com um resultado bastante expressivo.

"Ação e Reação", que abre o trabalho, talvez seja a que mais lembre a antiga banda dos irmãos Busic, com sua pegada rápida e grooveada, embora alguns arranjos m ais modernos remetam a bandas Audioslave, Stone Sour, Velvet Revolver e o trabalho solo de Slash (Guns N' Roses).

Pode ser só uma impressão, mas a nova incursão pelo rock deixou Andria e Ivan mais livres para exercitarem e explicitarem muitas de suas influências. São bem expressivas as pitadas aqui e ali de Beatles, Deep Purple, Queen e mesmo de bandas brasileiras veteranas.

"Eu Acredito em Você" é sessentista total, com várias remissões a The Who, The Kinks e um pouco de Rolling Stones, além de remeter a um som que já vem sendo explorado com sucesso por bandas como Cachorro Grande e O Terno.

"SOS Amanhã", com sua letra engajada, traz uma gostosa mistura de Pink Floyd e os trabalhos solo de Davi Gilmour (guitarrista da banda) e Jon Anderson (ex-vocalista do Yes), com belos arranjos de teclados e guitarras.

"Canção para Julie", uma bela homenagem a sua enteada, Andria incorpora o melhor que John Lennon pôde fazer em suas singelas e lindas baladas. Já "Junto ao Coração" é mais do que uma influência explícita – é uma versão muito bem feita, em português, para o megaclássico "Closer to the Heart", do Rush. Não houve ousadia, mas os arranjos são um destaque na faixa.

Ninguém imaginava que os irmãos se renovariam e ressurgiriam com tamanha pegada. Voltaram ao mercado tão bem e com tamanha força que vai ficar difícil superar o ímpeto e gana demonstrada neste primeiro CD.

Serviço

Banda Busic

Sesc Belenzinho – 14 de julho, 21h

Endereço: Rua Padre Adelino, 1000

Belenzinho – São Paulo (SP). Telefone: (11) 2076-9700

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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