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Durou pouco a paz: Yes racha de novo e duas 'versões' podem fazer turnês em 2017

Combate Rock

27/05/2017 06h28

Marcelo Moreira

O Yes oficial, após a morte de Chris Squiree, em 2015, da esq. para a dir.: Billy Sherwood, Jon Davison, Steve Howe, Alan White e Geoff Downes (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A paz durou pouco. após quase dez anos de atritos por conta de demissões sumárias e rusgas por conta de direitos autorais, entre outras coisas, parecia que os membros e ex-membros do Yes voltariam, ao menos, a se respeitar e ter uma convivência cordial, influenciados pelos ares do Rock and Roll Hall of Fame. Não foi o que ocorreu.

Com a morte do baixista Chris Squire, o líder de fato e  detentor da marca, a banda ficou à deriva, mas ainda fazendo shows, com o multi-instrumentista Billy Sherwood assumindo o baixo. E neste período conturbado a banda finalmente foi introduzida no hall da fama do rock, em abril passado – finalmente.

Na cerimônia, a banda surpreendeu ao convidar o vocalista Jon Anderson e o tecladista Rick Wakeman, integrantes da formação clássica ao lado de Squire, o guitarrista Steve Howe e o baterista Alan White.

A banda tocou "Roundbout" com Geddy Lee no baixo (vocalista do Rush) em uma noite memorável, em que Sherwood, o tecladista Geoff Downes e o vocalista Jon Davidson, da atual formação, gentilmente cederam seus postos para os membros da formação clássicos.

Tudo parecia bem, o clima era bastante cordial, mesmo que todos soubessem que o novo líder, Howe, é um desafeto de Anderson e Wakeman – problemas agravados com a saída do vocalista em 2007 da banda por conta de de questões de saúde, e que Squire e Howe levaram em consideração (na época, Wakeman foi solidário a Anderson).

O clima bom não resistiu a 72 horas após a cerimônia do hall da fama. De forma surpreendente, Anderson, Wakeman e o guitarrista Trevor Rabin, outro ex-Yes, desta vez dos anos 80, partiram para o ataque dizendo que eram o verdadeiro Yes, com direito a alfinetadas pesadas – "Nós temos o verdadeiro espírito do Yes, eles só fazem ser uma mera banda cover", disse Rabin.

Da esq. para a dir., Jon Anderson, Rick Wakeman e Trevor Rabin, o então ARW (MONTAGEM COM FOTOS DE DIVULGAÇÃO)

Ninguém sabe o motivo da guinada inesperada pouco tempo depois da cerimônia. Andeson, Wakeman e Rabin anunciaram no ano passado que estavam se juntando em uma nova banda chamada ARW – as iniciais dos sobrenomes – para criar músicas novas e "relembrar o melhor da música do Yes".

Talvez inebriados pelo forte clima emotivo do Hall of Fame, os três decidiram mudar os planos e pretendem se apresentar pelo mundo com o nome Yes Featuring Jon Anderson, Rick Wakeman and Trevor Rabin. Enquanto isso, o Yes "oficial" continua na ativa com Davidson, Howe, Downes, Sherwood e White. E então, afinal, qual das duas bandas é o verdadeiro Yes?

O próprio grupo passou por situação parecida entre 1989 e 1991. Em 1988, Jon Anderson abandonou o grupo pela segunda vez (a primeira foi em 1980) irritado com os rumos mais pop que a banda tomava, sob a liderança de Chris Squire.

Em 1989, ele voltou a ter contato com Rick Wakeman e Steve Howe, apesar das rixas entre eles. Seus empresários discutiram a possibilidade de um trabalho juntos, e eis que houve um convite a Bill Bruford, ooutro ex-Yes, o baterista original, que saiu em 1972 em direção ao King Crimson.

O Yes como um octeto, em plena turnê (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Na hora de formalizar a união dos quatro então ex-Yes, Anderson não pensou duas vezes e anunciou que aquele era o "verdadeiro e clássico Yes" (com o baixista Tony Levin, do King Crimson, completando a formação).

O grupo estava firme na intenção de usar o nome Yes e ver no que dava, mas não contava com o fato de que Squire ter adquirido o controle da marca no comecinho dos anos 80.

"Eles não são o Yes, porque o Yes existe ainda", afirmou o baixista, que estava em estúdio com Rabin, White e o tecladista Tony Kaye, outro membro fundador e original, demitido em 1971 para a entrada de Wakeman.

Sem opção, os quatro se tornaram então a banda Anderson, Bruford, Wakeman & Howe, que lançou um álbum em 1989 sem grande repercussão.

O fiasco acabou por levar a uma situação inusitada: o Yes tinha algumas músicas prontas para um novo álbum, assim como o Anderson, Bruford, Wakeman & Howe, que tinha metade do segundo álbum já gravado.

Depois de meses de reuniões e negociações, o Yes ressurgiu em 1991 como um octeto, com a junção das duas bandas, que lançaram naquele ano o sintomático álbum "Union", que gerou uma interessante turnê com os oito integrantes. O projeto, no entanto, durou apenas esse álbum.

Outras bandas também pelo mesmo dilema, com integrantes e ex-integrantes indo à luta disputando na estrada oo nome do grupo, como o Saxon (e seu espelho, o Oliver-Dawson's Saxon) e o Dead Kennedys, que teve versões com e sem Jello Biafra, o seu vocalista e integrante mais famoso.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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