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'Infinite', do Deep Purple, é um epitáfio divertido e descontraído

Combate Rock

18/04/2017 07h05

Marcelo Moreira

Foram oito anos sem lançar material novo, até que veio "Now What?", em 2013, o melhor trabalho desde "Purplendicular", de 1996, que marcou a entrada do guitarrista Steve Morse.

Era um alento para o Deep Purple após um sequência de álbuns apenas medianos e burocráticos.

"InFinite", lançado no começo de abril, prometia ser ainda melhor do que anterior, a julgar pela primeira música divulgada em vídeo, "Time for Bedlam". A banda quase conseguiu.

Variado e com um ótimo astral, o novo trabalho é bom, mas está longe de encantar como "Now What?" fez, puxado por duas canções maravilhosas que homenagearam o ex-tecladista Jon Lord, morto em 2012 – "Uncommon Man" e "Above and Beyond".

Havia uma pequena esperança que a "Time For Bedlam", a primeira canção divulgada, desse o tom de "Infinite": é pesada, soturna, pessimista e até mesmo cruel, com uma letra que descreve um futuro sombrio para a humanidade ao abordar problemas climáticos.

O destaque da faixa é o brilhante trabalho de teclados de Don Airey, imprimindo um clima denso ao mesmo tempo em que praticamente conduz as melodias, quase sempre ganhando a "disputa" com a guitarra de Morse.

Com alguns efeitos na voz, Ian Gillan faz um trabalho diferente, com uma interpretação dramática e incisiva, mostrando que ainda é um mestre, ainda que ao vivo não tenha mais a potência vocal que sempre o caracterizou.
O álbum reforça uma característica já presente em "Now What?": o espaço cada vez maior conquistado pelos teclados de Airey.

Em "All I Got Is You", as teclas conduzem a melodia em um rock básico e suingado, duelando com a guitarra de Morse em fraseados divertidos e inteligentes.

Airey também brilha nas suingadas "Hip Boots" e "One Night in Vegas", músicas que se sustentam de forma muito interessante na levada jazz característica da bateria de Ian Paice.

"Get Me Outta Here" traz um vocal bem descontraído de Ian Gillan, que deliberadamente evitou os excessos e que optou por trabalhar como se fosse um crooner, com resultados bastante satisfatórios aqui e também em "Johnny's Band".

Curiosamente, um dos pontos altos é uma versão ótima para "Roadhouse Blues", imortalizada por The Doors. O clima é de boteco e de jam session, com Gillan finalmente fazendo um trabaolho decente com gaita em estúdio – Don Airey soa mais contido, deixando Morse se divertir e brilhar.

Aparentemente, "Infinite" deve ser o último trabalho da carreira da banda, que é liderada pelos septuagenários Ian Gillan, Ian Paice e Roger Glover (baixo). É um álbum bacana, gostoso de ouvir e com temas fortes. É uma despedida digna, embora um pouco frustrante por conta das altas expectativas geradas por "Now What".

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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