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Maior e mais influente álbum do U2, ‘The Joshua Tree’ completa 30 anos de forma gloriosa

Combate Rock

08/04/2017 22h07

Rafael Franco* – publicado originalmente no site Roque Reverso

Um marco histórico e fundamental da carreira do U2, o álbum "The Joshua Tree"completa 30 anos de seu lançamento nesta quinta-feira, dia 9 de março, de forma gloriosa. Maior sucesso comercial da história da banda, com mais de 25 milhões de cópias vendidas ao redor do mundo, o disco é um verdadeiro divisor de águas na história do grupo irlandês.

Embora naquele momento estivessem lançando já o seu quinto álbum de estúdio, após os também bem-sucedidos "Boy"(1980), "October" (1981), "War" (1983) e "The Unforgettable Fire" (1984), Bono Vox (vocal), The Edge (guitarra), Adam Clayton (baixo) e Larry Muller Jr (bateria) estavam dando ali um passo muito maior para se transformarem
no que depois vieram a se tornar: umas das maiores bandas da história.

Isso desde o ponto de vista de importância musical até o que diz respeito às cifras astronômicas e popularidade que passaram a ter. A elevação de status proporcionada pelo inspirado disco culminou com a abertura da era dos megashows que viriam a promover desde então e que tiveram seu ápice na década de 1980 com a turnê do álbum "Rattle and Hum", de 1988, que também geraria um dos documentários mais bem produzidos da história do rock, com direito a exibição nas salas de cinema do planeta.

Não por acaso, o "The Joshua Tree" ganhou uma turnê comemorativa, promovida pela banda especialmente para o disco, que começará no próximo dia 12 de maio, em Vancouver, no Canadá, e passará pelos Estados Unidos e pela Europa ao longo de 34 shows em estádios para marcar as três décadas deste mítico álbum.

Para se ter ideia de quão relevante este álbum é, em apenas um dia foram vendidos 1,1 milhão de ingressos para esta turnê, sendo que a alta procura por bilhetes provocou a abertura de dez novas apresentações em novas datas, após a programação inicial prever a realização de 24 shows.

Fábrica de hits

Vencedor de dois prêmios do Grammy Awards, de "Melhor Álbum do Ano" e "Melhor Performance de Rock", o "Joshua Tree" chegou como uma autêntica fábrica de hits para a antologia do rock. Logo as três primeiras músicas são os singles "Where The Streets Have No Name", "I Still Haven't Found What I'm Looking For" e "With ou Without You", que lideraram as paradas por mais de uma centena de semanas, sendo a última destas canções reconhecidamente o maior sucesso (ou hit mais famoso) da história do U2 e música obrigatória nos shows de todas as turnês do grupo desde o lançamento deste disco.

O nome "The Joshua Tree" é inspirado no fato de que a banda viajou para os Estados Unidos durante o longo processo de produção do álbum, se embrenhando nas paisagens do deserto norte-americano, onde na Califórnia há o "Joshua Tree National Park", cujo nome é inspirado em uma espécie de cacto denominado justamente com o nome homônimo dado ao álbum, que é a "Árvore de Josué".

Ao definir o que significou ouvir novamente o próprio "The Joshua Tree" após "quase 30 anos", em virtude do lançamento da turnê de 30 anos do disco, Bono Vox o qualificou como "quase uma ópera", com "muitas emoções que parecem estranhamente atuais, como amor, perda, sonhos despedaçados…", além de "todos os grandes sentimentos" resumidos ali.

O álbum teve produção de Brian Eno e Daniel Lanois, que já haviam trabalhado com a banda no "The Unforgettable Fire", e acabou se consolidando como um marco do amadurecimento da banda, com um mix entre o experimentalismo do seu disco anterior e a retomada do som seco, pulsante e marcante dos seus três primeiros álbuns, com a diferença de que agora foi possível lançar uma verdadeira "obra-prima", fruto de uma produção mais longa e pensada nos mínimos detalhes.

E a gravação do álbum chegou a ser marcada por um evento trágico, que inevitavelmente atrasou os prazos da banda com a morte do roadie e assistente pessoal de Bono, Greg Carroll, vítima de um acidente de motocicleta em Dublin, terra natal da banda na Irlanda. O fato fez com que o grupo se deslocasse até a Nova Zelândia, país de Caroll, para acompanhar o seu funeral, sendo que o álbum acabou sendo dedicado à memória do ex-integrante do staff do U2.

Na faixa "One Tree Hill",  a nona do "Joshua Tree", Bono faz referência ao amigo logo nas duas primeiras frases (Nós nos afastamos para enfrentar o frio/O frio duradouro/Como o dia implora à noite por misericórdia).

Passado o trauma da tragédia, o U2 voltou ao estúdio para concluir o álbum que foi fruto também de um surto criativo que proporcionou uma série de outras músicas interessantes que não foram incluídas em "Joshua Tree", que viraram b-sides lançados em outros álbuns como por exemplo na coletânea de 1998 "The Best of 1980-1990", sendo que o disco de 1987, no fim, foi concluído com 11 faixas ao total.

Sem abandonar o lado social e político que já vinha marcando as canções e a carreira do U2, como ficou claro anteriormente no hit "Sunday, Bloody Sunday", do "War", o "Joshua Tree" trouxe influências das músicas norte-americana e irlandesa, passando pelo gospel e pelo blues, como ficou claro na música "Trip Through YourWires", na qual Bono toca gaita.

Eclético e completo, o álbum assim se consolidou como um dos maiores sucessos comerciais da história do rock, que também motivou a produção de uma edição remasterizada comemorativa quando o disco completou 20 anos de existência em 2007.

O lado espiritual da banda também esteve presente de maneira marcante em "The Joshua Tree" em várias de suas músicas. Em "I Still Haven't Found What I'm Looking For" ("Ainda Não Encontrei O Que Estou Procurando"), o lado religioso do grupo fica evidente em trechos da canção na qual Bono canta trechos como "Eu acredito na vinda do Reino" e depois na estrofe na qual diz "Você quebrou as algemas/Livrou-se das correntes/Carregou a cruz e/Toda minha vergonha/Você sabe que eu acredito", sendo que Bono já manifestou seguidas vezes que acredita em Jesus Cristo como o Deus vivo encarnado.

O caráter espiritual também fica claro em "Where The Streets Have No Name", faixa que abre o disco de forma arrebatadora, com uma levada de duas diferentes bases de guitarra mixadas que carregam a música "nas costas" em um ritmo constante, no qual a sua letra parece remeter a uma busca pela liberdade e por um paraíso fora da Terra, como em trechos quando Bono fala em "Desaparecer sem deixar pistas/Me abrigar da chuva ácida/Onde as ruas não tem nome".

Já na faixa "In The God`s Country", a letra mostra claramente um tom de decepção com o atual cenário visto no "País de Deus", sendo que cita o personagem Caim, que matou o irmão Abel na história contada do livro de Gênesis, o primeiro da Bíblia Sagrada.

'With ou Without You'

Sucesso estrondoso do álbum, "With or Without You" parece em um primeiro momento um canção essencialmente romântica e para muitos melancólica, mas é contundente e cheia de simbolismos após ter sido criada na esteira de uma crise que Bono vivia em seu casamento, inevitavelmente atingido pelas dificuldades para se conciliar a vida matrimonial com a produção de um disco que já vinha demorando muito para ficar pronto e foi gestado em meio à excursão aos Estados Unidos. País este onde Bono dizia "amar estar" e onde sentia que seria importante ingressar pelo ideal de liberdade e pelo peso político que tinha para a sociedade.

"Não posso viver com, mas não sei viver sem você" é o trecho mais simbólico que serve para sintetizar o essencial deste imenso hit no qual também admite que "não tem nada para ganhar e nada mais para perder" em sua então relação amorosa.

Uma autêntica balada, a indispensável "With or Without You" presente em todos os shows da banda é o carro-chefe de um disco no qual problemas sociais também são abordados como em "Running to Stand Still", que fala de um casal usuário de heroína.

Álbum politizado

O disco também abordou questões polêmicas como em "Bullet the Blue Sky", escrita após visita de Bono a El Salvador, onde o astro viu de perto como a intervenção militar dos Estados Unidos no país atingiu o povo salvadorenho. Nesta mesma faixa Bono lembra de uma passagem bíblica em um trecho da letra na qual fala do personagem Jacó, falando que o mesmo "lutou contra o anjo e o anjo foi derrotado".

Essa mesma viagem a El Salvador proporcionou a criação de outra música de "Joshua Tree", chamada "Mothers of the Disappeared", que fala sobre um grupo de mulheres cujos filhos foram mortos ou "desapareceram" por meio da ação do governo de El Salvador durante a guerra civil que atingia o país.

Até mesmo a greve dos mineiros do Reino Unido foi abordada na faixa "Red Hill Mining Town", na qual Bono se inspirou em um casal afetado pela greve para escrever a letra da música.

Edição especial e livro

Além de estar com turnê especial para este disco marcada para começar em maio, o U2 anunciou oficialmente na quarta-feira, 8 de março, que irá lançar, no dia 2 de junho, uma edição final comemorativa do álbum, no qual trará uma gravação ao vivo no Madison Square Garden, histórico palco de Nova York, extraída da turnê do mesmo disco no local em 1987, assim como terá canções b-sidesde singles originais e versões remixadas de produtores do disco.

Para completar, a versão final do "The Joshua Tree"contará com um livro de capa dura de 84 páginas, cujas imagens foram registradas por The Edge durante a sessão de fotos original no deserto de Mojave, em 1986, na região californiana do "Joshua Tree National Park", embora este deserto fique um pouco distante do parque cuja árvore símbolo acabou dando nome ao álbum.

Será mais um registro histórico deste álbum que certamente é o mais importante da trajetória do U2. Trajetória que segue sendo comemorada em grande estilo pela banda. E certamente com ingressos esgotados para todos os shows antes do início da turnê comemorativa do "The Joshua Tree". Uma turnê com a popularidade à altura do sucesso astronômico do clássico disco.

* Rafael Franco é jornalista da Agência Estado

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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