Morre o gaitista James Cotton, 'braço-direito' de Muddy Waters
Marcelo Moreira
"Cadê o Jimmy?" Essa era a primeira pergunta que Muddy Waters fazia nos anos 50 e 60 quando entrava no palco. Acabaria virando um bordão naqueles tempos, e uma espécie de zoação com o gaitista da banda.
James Cotton era tão necessário no grupo do lendário bluesman que era uma coisa quase que maníaca: Waters tinha de subir ao palco e olhar para ver onde estava Jimmy – assim como fazia a mesma coisa em relação a outra lenda, o baixista Willie Dixon.
Mal o gaitista sabia que, alguns anos depois, ele mesmo se tornaria também uma lenda do blues moderno – tão importante quanto o mítico Little Walter, um dos deuses da gaita.
Cotton, que esteve tocou em São Paulo há três anos, morreu nesta quinta-feira (16) em Austin, no Texas, em consequência de uma pneumonia, aos 81 anos.
Referência tanto na gaita cromática como na diatônica, gravou 30 álbuns solo ou como protagonista em 60 anos de carreira, sem contar as suas participações nos trabalhos de praticamente todos os nomes importantes do blues clássico.
Foi vencedor de um prêmio Grammy, seis prêmios Living Blues e 10 Blues Music Awards, os dois mais importantes do blues no mundo, além de estar no Blues Hall Of Fame.
De família pobre, começou a trabalhar criança nas plantações de algodão do Mississippi, Estado onde nasceu, mas logo adquiriu gosto pela música aos nove anos, quando aprendeu praticamente sozinho a tocar qualquer tipo de gaita.
Aos 18, já era um ás do instrumento, e começou a participar de gravações e shows ao lado de músicos como Howlin' Wolf e Sonny Boy Williamson II. A classe e a destreza na gaita o levaram rapidamente a Chicago, quando conheceu Muddy Waters e se tornou o seu escudeiro.
Como instrumentista, tornou-se um estilista, nos moldes do que já tinha acontecido com Little Walyter e Junior Wells: um gaitista prodígio nos solos, melodista de mão cheia e com um um ouvido absoluto e admirável, capaz de tocar qualquer coisa rapidamente. Virou referência para os gaitistas modernos, como Rod Piazza, Steve Guyger e os brasileiros Flávio Guimarães, Ivan Marcio, Little Will, Sérgio Duarte, Marcio Abdo e muitos outros.
O mestre esteve uma única vez no Brasil, em 2013. Realizou uma série de concertos em festivais e unidades do Sesc. Estava debilitado, fazendo muito esforço ao falar, mas isso tinha uma razão: toda energia foi poupada para as maravilhas que fez com todos os tipos de gaita, em todos os tipos de blues.
Duas foram as apresentações antológicas: no Sesc Belenzinho, em São Paulo, e no Festival de Blues de Ilha Comprida, no litoral sul de São Paulo.
À época, concedeu uma interessante entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", que foi reproduzida pelo Combate Rock. "Minhas improvisações contêm bom humor e diversão porque é isso o que está vindo de minha alma. Minha música é a expressão do que eu sinto", disse, com muita propriedade.
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