Jon Anderson com o Yes no Rock and Hall of Fame não é só justo, mas obrigatório
Marcelo Moreira
Não deve ter sido uma negociação fácil, mas a notícia é boa: Jon Anderson será convidado pelo Yes para a cerimônia de introdução da banda no rock and Roll Hall of Fame em 2017 – indicação muito tardia, tanto que ocorre depois de dois anos da morte do líder e mentor, o baixista Chris Squire. Deverá tocar ao menos uma música com os atuais membros do grupo.
Para todos que gostam de boa música e bom rock, é mais do que óbvio que Anderson deveria participar obrigatoriamente. Na realidade, as coisas não foram tão fáceis assim.
Anderson estava atritado com Squire e o guitarrista Steve Howe. Desde a criação do Yes, em 1968, na Inglaterra, as relações entre os músicos eram estritamente profissionais – e muito tensas, como relataram várias o baterista Bill Bruford e o tecladista Rick Wakeman.
"Nunca houve amizade, todos eram obsessivos e tensos, levavam tudo a sério, sobretudo eles próprios", ironizou certa vez Wakeman em uma entrevista para a televisão alemã nos anos 80.
O clima era tão complicado que em 1972, durante uma turnê conjunta do Yes com o Black Sabbath nos Estados Unidos, o tecladista preferia viajar no ônibus da outra banda – era muito amigo de Tony Iommi e Ozzy Osbourne. "Os caras do Yes eram muito chatos na estrada. Quase ninguém bebia, então eu ia encher a cara com Ozzy e o rapazes do Sabbath, que zoavam muito e eram divertidos."
Anderson saiu três vezes do Yes: em 1980, em 1988 e em 2007. Na primeira, preferiu sair para trabalhar com tecladista grego Vangelis, já que discordava dos rumos mais pop que a banda assumiria à época; em 1988, também discordou da guinada mais pop pretendida por Squire e pelo guitarrista Trevor Rabin.
Mas foi a terceira e definitiva saída que azedou de vez o relacionamento com Squire e Howe, então de volta à banda. O Yes programava uma grande turnê de celebração dos 40 anos de criação do grupo, mas Anderson ficou gravemente doente, principalmente por conta de problemas respiratórios.
Surpreendentemente, a banda decidiu não adiar a turnê e substituiu Anderson por Benoit David, um canadense que cantava em uma banda cover do Yes. Magoadíssimo com o que considerou uma falta de consideração, ficou furioso quando soube que os companheiros decidiram que ele não mais voltaria para a banda.
David seguiria como vocalista por alguns anos mais até que, coincidentemente, após graves problemas respiratórios antes de uma turnê, foi substituído por outro vocalista de banda cover do Yes, o norte-americano Jon Davison, que teve passagem boa pela ótima banda progressiva Glass Hammer. Assim como Anderson, David foi sumariamente demitido.
Nos anos seguintes após a saída forçada do Yes, Jon Anderson retomou a carreira solo e a parceria com Rick Wakeman – a dupla lançou um CD de estúdio e outro ao vivo -, além de espezinhar sempre que podia Squire e Howe por conta de sua demissão.
Na época da morte de Squire, em 2015, havia rumores de que uma reaproximação entre os dois estava em curso, fato que Anderson não confirma. Seja como for, o cantor escreveu uma mensagem delicada e tocante para comentar a morte do ex-companheiro de Yes.
Por conta do cenário bem complicado entre Anderson e o Yes, é gratificante que a banda tenha consentido em receber Anderson na cerimônia de indução do Rock and Roll Hall of Fame. Não só muito justo como necessário que um dos músicos que fundou a banda esteja presente, aliás, com a morte de Squire, é o único fundador vivo.
Segundo o site da revista norte-americana, Wakeman e o guitarrista Trevor Rabin (que integrou o Yes de 1983 a 1995) também participarão da cerimônia, embora os dois ainda não tenham confirmado a presença e nem se tocarão com a banda.
A questão que fica agora é a seguinte: Bill Bruford participará ao menos da cerimônia? Será convidado? E o guitarrista Peter Banks e o tecladista Tony Kaye, que fizeram parte da primeira formação, assim como Bruford? Tanto a banda como os organizadores da cerimônia silenciaram sobre o assunto.
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