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Ace Frehley honra a veneração dos fãs em show em São Paulo

Combate Rock

07/03/2017 15h45

Roberto Capisano Filho*

Ace Frehley no palco em São Paulo (FOTO: THIAGO RAHAL MAURO)

O mais irreverente e descolado integrante da história do Kiss esteve entre nós no último domingo. Em São Paulo, no Tom Brasil, o guitarrista Ace Frehley fez sua única apresentação no País dentro da atual turnê que passou pela América do Sul (entenda-se Brasil e Argentina).

O eterno Spaceman deu seu recado com talento e fez jus à reverência que o público tem para com ele. Ace é o músico que os fãs mais lamentam ter saído do Kiss; poder vê-lo ao vivo é daquelas coisas que, como se diz por aí, não têm preço.

Seus problemas com álcool o tiraram da banda duas vezes. Em ambos os momentos, ele tinha se tornado pouco confiável, sempre deixando dúvidas se iria aparecer para fazer o show ou se estaria no estúdio para gravar. Há cerca de dez anos sóbrio, ele vive uma fase positiva e produtiva.

Voltando ao show, a abertura foi com a sensacional "Rip It Out", do disco solo de 1978. Talvez a melhor música já composta por Ace. Em seguida, emendou com Toys, também de sua carreira solo e a forte e pesada Parasite, do Kiss.

Bem acompanhado por seu parceiro de longa data, Richie Scarlet, na guitarra, Chris Wyse, no baixo e Scot Coogan na bateria, Ace prosseguiu alternando músicas de seus trabalhos solo e do Kiss.

Quando não fazia o vocal principal, alguém da banda assumia a função, tendo cada um sua oportunidade para mostrar os dotes como cantor. Destaque para Coogan, que além de ótimo baterista, faz bonito ao assumir o microfone. Curiosamente, foi o único que não solou.

Uma visão do público: Ace agradou a muita gente (FOTO: ROBERTO CAPISANO FILHO)

Wyse teve seu momento sozinho no palco com o baixo e Scarlet fez um duelo de guitarras com Ace. Para os fãs, poder ouvir os solos de algumas das principais músicas do Kiss tocados pelo seu criador é uma experiência marcante. Por mais que os outros guitarristas do Kiss tenham procurado reproduzir nota por nota o que Ace eternizou nos discos, ninguém jamais conseguirá igualá-lo.

Ace nunca foi o rei da técnica. É o típico guitarrista que toca com base no feeling e é aí que está seu trunfo. Ele toca para a música e não para demonstrar virtuosismo. Uma escorregada aqui e outra ali fazem parte de estar ao vivo.

Quem é perfeito o tempo todo? Uma coisa é certa: uma infinidade de garotos começou a tocar guitarra tendo Ace como inspiração; para um músico, esse é um dos maiores reconhecimentos que se pode conquistar. E ele merece.

Ace colocou sua impressão digital nas músicas do Kiss de tal forma que elas sempre soarão mais verdadeiras quando executadas por suas mãos. Além de "Parasite", "Love Gun", "Shock Me", "Cold Gin", "Strange Ways", "Detroit Rock City" e "Deuce" – todas no repertório do show – provam isso.

O que não falta é personalidade no som tirado da(s) sua(s) Gibson Les Paul. Um ponto chamou atenção durante a apresentação: boa parte das músicas foi tocada em andamento mais lento que o original, nitidamente perceptível em "Rip It Out", "Parasite", "Shock Me", "Rocket Ride" e no refrão de "Snowblind". Seria para deixar o som mais pesado ou diferenciar do jeito que estão registradas nas gravações? O porquê disso só o próprio Ace pode dizer.

O que importa é que durante aproximadamente uma hora e 40 minutos o público vibrou com cada palhetada do ídolo. Ace mostrou estar bem, fez um show em que foi honesto consigo mesmo, com sua história, com o rock and roll e honrou a veneração dos fãs.

Também provou que tem condições para retornar ao Kiss, como anda sendo cogitado. Ele já disse que basta Paul Stanley e Gene Simmons chamarem. Paul afirma que não há razão para isso.

Parece que o estilo "desencanado" de Ace ficou sem espaço no modo sério como Paul e Gene conduzem as coisas; Tommy Thayer (que faz seu trabalho com competência) pode ficar tranquilo que seu emprego está garantido – pelo menos por enquanto. Para os fãs, não custa sonhar com Ace reassumindo seu lugar no Kiss.

* Roberto Capisano Filho é jornalista da Agência Sebrae e foi um dos fundadores do Combate Rock.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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