Topo

A banalização da cultura e os vários sintomas de uma era de trevas

Combate Rock

06/02/2017 06h00

Marcelo Moreira

A banalização da cultura nos tempos atuais atingiu proporções preocupantes há algum tempo, mas é no dia a dia que isso fica muito claro em vários meios em que circulamos.

Desde os anos 90 que a progressiva falta de interesse do público em geral por informação de qualidade vem caindo. Na época, havia pelo menos quatro revistas de música de qualidade razoável nas bancas de jornais, com tiragens satisfatórias.

Depois de muito tempo reinando sozinha, a Placar ganhou algumas concorrentes para tratar de futebol e esportes – logo o país do futebol, com apenas uma revista dedicada ao tema por muito tempo…

Poucos anos depois, o panorama é de caos total e tende a piorar. Hoje só existe uma revista nacional dedicada à música – a Roadie Crew, especializada em classic rock e heavy metal. Só existe uma revista destinada ao futebol, a mesma Placar, que vive eterna crise editorial.

A questão é que as pessoas desaprenderam a consumir cultura, em um tempo onde youtubers acéfalos ganham milhões de seguidores e visualizações, enquanto ótimos livros encalham nas livrarias e peças de teatro interessantes saem de cartaz muito antes do tempo.

A situação é preocupante quando analisamos uma iniciativa de estofo e de qualidade como a última edição da revista "Roadie Crew" (mês de janeiro, número 216), que destacou o cenário do hard rock desde os anos 60..

Na divulgação intensa pelas redes sociais do trabalho realizado pela equipe da revista, não foram poucos os relatos de gente que adorou a iniciativa, e que "iria comprar aquela edição depois de anos ignorando a publicação".

Ou seja, mesmo o público mais bem informado e que se interessa por música e por rock simplesmente abandonou o hábito de comprar a única revista brasileira que fala de música – e uma revista de boa qualidade, bem feita e com preocupação em informar bem.

Se esse público não se interessa por informação de qualidade, quem vai se interessar? E vai se interessar pelo quê? Se não compra revista, provavelmente também não se interessa por livros.

No primeiro plano, esse comportamento não deveria surpreender, já que se trata de uma consequência, de certa forma, das mudanças de hábitos culturais que atingiram o mundo da música.

A música se tornou descartável, fácil de ser adquirida de graça a qualquer hora, com o "consumidor" fazendo questão de desprezar que produzir música/cultura tem custos.

Músicos, produtores e uma série de outros profissionais precisam sobreviver, já se trata de um negócio e envolve várias profissionais. Mas isso não importa, pois muitos ignorantes vaticinam há tempos que a cultura deve ser gratuita em todos os níveis, já que a "internet mudou todos os parâmetros".

roadiecrew1

E também não são poucos os que defendem que o mundo mudou e que tem gente se dando bem nas novas estruturas de entretenimento e divulgação de produtos culturais do século XXI, em especial no mercado independente.

A tese não se sustenta, pois são poucos os que conseguem ser bem-sucedidos no mundo apocalíptico da cultura gratuita e banalizada. Não são exemplos, são exceções.

Na maioria dos casos, em relação a músicos e bandas autorais, as dificuldades são muito grandes para produzir cultura de qualidade e encontrar lugares decentes para divulgação. E com isso o mercado vai ficando cada vez mais precário, pelo menos no caso do rock, seja no Brasil ou no exterior.

Pesquisa recente mostra que 63% dos brasileiros se informa (???) pela televisão e 26%, pela internet. Destes, a imensa maioria se informa pelo Facebook (?????). Jornais, revistas e emissoras de rádio dedicadas ao jornalismo/notícias ocupam os últimos lugares da lista de preferências. Realmente, o desprezo de roqueiros pela informação qualificada de uma revista como a "Roadie Crew" não surpreende.

ESCUTE NO PLAYER ABAIXO O PROGRAMA COMBATE ROCK SOBRE AS BANDAS DE HARD E A EDIÇÃO 216 DA REVISTA ROADIE CREW:

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

Blog Combate Rock