Livro referência sobre o Led Zeppelin ganha nova edição brasileira
Marcelo Moreira
O jornalista inglês Mick Wall rivaliza com seus conterrâneos Joel McIver e Philip Norman como o mais prolífico e influente escritor de biografias de rock. Não tem a urgência jornalística do primeiro nem a sofisticação do segundo – assim como não tem a elegância estilística do norte-americano Peter Ames Carlin ou a descontração de outro americano, Marc Spitz.
Wall é o "sincerão" das biografias, de texto seco, direto e com riquezas de detalhes, sem a menor hesitação em revelar coisas complicadas de seus biografados ou mesmo de opinar negativamente sobre alguns aspectos das carreiras e obras dos biografados – como fez com Black Sabbath e Metallica, em dois bons livros.
Quando se trata de Led Zeppelin, no entanto, o jornalista assumiu outra persona, a julgar pela reverência com que tratou a banda e seus integrantes em "Led Zeppelin – quando os Gigantes Pisavam sobre a Terra", livro que ganha nova edição brasileira neste ano de 2017, agora pela Globolivros.
Em nenhum momento do denso e longo ensaio sobre a banda Wall nega a grande admiração pelo quarteto inglês que, de muitas formas, simboliza o rock e o rock pesado.
Essa admiração não o levou a pegar mais leve ou a escamotear passagens incômodas. Está tudo lá. Entretanto, a adoração ganha de goleada, a ponto de , estranhamente, turvar o foco da obra. Ainda assim, o livro é considerada a principal obra de referência sobre a banda, o que não é pouca coisa.
Em um primeiro momento, tem-se a impressão de que Wall precisava exorcizar o sensacionalista "Led Zeppelin – The Hammer of the Gods", escrito pelo jornalista norte-americano Stephen Davis em 1985, que apostou muito na mitologia e nas lendas que cercavam a banda. Dentro do mercado musical, a obra nunca foi levada a sério.
Apesar da reverência e da adoração, Mick Wall fez bem o seu trabalho, com uma pesquisa imensa e intensa, com centenas de entrevistas e acesso a vários documentos e coleções particulares. Seu próprio material é extraordinário, já que entrevistou dezenas de vezes os integrantes da banda, em especial o guitarrista Jimmy Page.
E é justamente o retrato de Page no livro que suscita dúvidas a respeito do que poderíamos chamar de equilíbrio editorial, digamos assim.
Após a leitura das mais de 500 páginas, com excelente tradução, fica claro que o guitarrista é o "personagem principal" quando se trata de analisar os caminhos e decisões artísticas tomadas pela banda.
Por outro lado, o vocalista Robert Plant é tratado com certo distanciamento, enquanto o baixista John Paul Jones é visto com indiferença. O baterista John Bonham recebe um tratamento respeitoso e reverente, mas sua importância artística foi explorada de forma incompleta.
"Quando os Gigantes Pisavam sobre a Terra" tem muito mais méritos do que problemas, por mais que, às vezes, os exageros ofusquem a qualidade das informações.
É o caso das passagens "ficcionais" que entremeiam os capítulos, com textos escritos em primeira pessoa, como se fossem os próprios integrantes os autores, ora como se fosse um observador externo. Foi uma tentativa de dramatizar o texto, algo desnecessário e que banda acrescenta à obra.
Até certo ponto, o livro merece a chancela de referência sobre informações a respeito do Led Zeppelin. Mick Wall é um jornalista e escritor respeitado e reuniu um vasto compêndio de informações importantes, algumas exclusivas.
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