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Classic rock em alta: Glenn Hughes parte para cima; Neil Young desacelera

Combate Rock

19/01/2017 07h00

Marcelo Moreira

glennhughes-resonate

Glenn Hughes entrou no estúdio no finalzinho de 2015 com a faca nos dentes. Irritado com o fim do Black Country Communion em 2013, e com o fracasso comercial do California Breed, no ano seguinte, voltou à carreira solo com raiva. E a raiva resultou em "Heavy", a primeira música do novo álbum, "Resonate".

Já Neil Young, veteraníssimo guitarrista que transita com excelência pelo rock, pelo bues, pelo country e pelo folk, desacelerou em seu mais novo trabalho, "Peace Trail", lançado na útima semana de 2016. O bardo canadense optou pelo som semiacústico do country de raiz, secundado pelo maravilhoso percussionista Jim Keltner.

Os dois artistas são os que melhor produzirem no classic rock em 2016, ao lado de Rolling Stones e Jeff Beck. Se não ousaram, como Beck, ao menos mostraram que ainda sabem fazer coisas boas, com músicas bem decentes e interessantes.

Hughes, baixista inglês que tocou com Deep Purple e Black Sabbath, completa 65 anos de idade neste ano. No ano passado, fez um dos melhores shows em terras brasileiras, com seu trio no lotado Carioca Club, na zona oeste de São Paulo.

"Resonate" é um álbum pesado, intenso, com muito groove e ótimas musicas. Pretendia ser uma resposta ao então desafteo Joe Bonamassa, guitarrista norte-americano que acabou selando o fm da excelente banda Black Country Communion por não abrir mão da sua movimentada carreira solo.

Mais eis que o produtor Kevin Shirley (Iron Maiden, Dream Theater) articulou a paz entre os dois ex-amigos. De volta às boas, a primeira coisa que fizeram foi reativar a banda, que ainda conta com o batersta Jason Bonham e o tecladista Derek Sherinian (ex-Dream Theater).

Não há mais rusgas, mas "Resonate" traz uma carga emocional muito forte, por isso soe mais pesado do que os trabalhos solo anteriores.

Aliás, é o álbum individual mais pesado da carreira de Hughes. É variado, mas as guitarras estão mais altas e na cara do que de costume. Já as linhas de baixo estao mais bluesy e gordas, deixando de lado um pouco a melodia e investindo no peso, quase como uma guitarra base em alguns momentos.

"Heavy" dá o tom da empreitada, com muito peso e velocidade. Já mostra o que vem por aí com a volta do Black Country Communion. "My Town" e "Flow" recuperam a veia black and soul que sempre marcou sua carreira solo, mas mantêm o peso.

"Let It Shine" e "God of Money" abrem espaço para letras mais críticas e fazem um contraponto à linha romântica e mais calma, aqui representadas por "Steady" e "When I Fall".

Neil-Young-Peace-Trail

Enquanto Hughes acelera, o canadense Neil Young recupera o seu lado bardo, usando muito a gaita lamuriosa e abusando dos arranjos minimalistas. É um mergulho ao mundo acústico do folk e do country do interior dos Estados Unidos.

Quem não está acostumado com as idas e vidas de Young, de 71 anos, estranhará muito a opção do músico. O diálogo entre seu violão folk e percussão básica, mas intensa, de Keltner mostram um completo domínio da linguagem musical, especialmente nas músicas "Peace Trail" e "Indian Givers".

O universo rústico do interior norte-americana é materialiazado na minimalista "Show Me" e na dramática "Texas Rangers", enquanto que "Terrorist Suicide Hang Gliders" traz uma revolta melancólica de dar no na garganta.

Outros destaques são "Glass Accident" e "My New Robot", que são mais intensas e questionam, de certa forma, o tipo de vida que levamos nas grandes cidades e a importância da tecnoçlogia em nossas vidas.

Em momentos distintos em suas carreiras, Hughes e Young apontam que existe uma vida e qualidade no trabalho de artistas que ainda buscam novas e intensas experiências.

Seus trabalhos não alcançaram o brilho dos mais recentes álbuns de David Bowie e Jeff Beck, por exemplo, mas certamente poderiam ser incluídos em várias listas dos melhores de 2016.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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