'Machine Messiah' inova e expande as possibilidades do Sepultura
Marcelo Moreira
As recentes apresentações dos irmãos Max e Iggor Cavalera no Brasil – curiosamente abandonando temporariamente o nome da banda Cavalera Conspiracy – mais uma vez acirraram a guerra internética sobre a disputa entre os dois músicos e a atual encarnação do Sepultura, comandada pelo guitarrista Andreas Kisser.
Vinte anos após a traumática separação, com a saída de Max (e dez anos depois, de Iggor), as feridas foram novamente cutucadas e reabertas por gente que gosta de polêmica, por mais vazia que seja.
Oscilante e intermitente, Max novamente fez questão de manter a contradição em alta – ora menospreza o Sepultura pós-1996, ora acena com afagos dizendo que "seria bem legal uma reunião, ainda que temporária, da formação clássica".
A julgar pela disposição de Kisser e do baixista Paulo Júnior, nada mudará em relação ao status quo: a reunião não vai acontecer e o Sepultura seguirá em frente, até porque "Machine Messiah", o próximo disco da banda, foi lançado nesta sexta-feira 13, 13 de janeiro, e promete ser o melhor do grupo desde "Kairos".
Aos irmãos Cavalera, restará reativar em breve o Cavalera Conspiracy, mais próximo do new metal, após o encerramento da turnê arqueológica que relembra os 20 anos do lançamento de "Roots".
"Machine Messiah" é o melhor argumento contra qualquer tentativa de reunião da formação clássica, que ocorreria por qualquer motivo, menos aquele que realmente importaria – a celebração de existência da maior banda de rock que o Brasil já produziu.
Mais coeso do que "Dante XXI", mais pesado do que "Nation" e "Against" e mais diversificado do que "Kairos", "Machine Messiah" corre o risco de ser o melhor álbum do Sepultura com Derrick Green nos vocais.
As letras e os temas foram incrementados de tal forma que fica difícil fazer qualquer comparação com o que foi feito na era Max/Iggor Cavalera. As diferenças são brutais, e não necessariamente para melhor – essa não é a questão. São dois universos completamente distantes.
Pode soar herético para quem sempre admirou o peso e a brutalidade do Sepultura, mas o som da banda está cada vez mais hermético e sofisticado, nas acepções positivas dos termos.
Se pudéssemos impregnar um "conceito" ao que o quarteto faz nesta altura de seus 32 nos de carreira, podemos dizer que hoje fazem um metal extremo progressivo.
Os conceitos ficaram mais dinâmicos e elaborados, assim como as performances dos músicos. Infelizmente o Sepultura da atualidade é uma banda subestimada, atrelada sem querer a um passado glorioso, mas cada vez mais distante.
A opção pelo sueco Jens Bogren para a produção foi um dos acertos, já que a sonoridade está mais encorpada, ao mesmo tempo em que os arranjos foram valorizados, como em "Phantom Self", com seus riffs matadores e adição de linhas de violino de muito bom gosto.
Se "I Am the Enemy" mostra o metal brutal de sempre, com suas linhas retas e seu peso descomunal, "Cyber God" abusa da inventividade e da inovação, com timbres de guitarra surpreendentes e um trabalho ótimo no baixo e na bateria.
Se não fosse o bastante, a faixa instrumental "Iceberg Dances" sepulta qualquer possibilidade de aproximação entre o que o Sepultura faz atualmente e o que os irmão Cavalera prensam em termos musicais – a distância é de anos-luz.
Os caminhos em busca da inovação e da reinvenção são bem distintos – Max Cavalera, seja com o Soulfly ou com o Cavalera Conspiracy, busca novidades em uma vertente mais moderna e tecnológica; o Sepultura, por sua vez, opta pelo extremismo impregnado de diversidade, enfatizando a versatilidade, mas mantendo um viés tradicional.
Os resultados em termos de aceitação do público são bem semelhantes, embora artisticamente o Sepultura esteja um pouco à frente, seja em termos de qualidade, seja em termos de ousadia. Seja como for, "Machine Messiah" é mais uma barreira a qualquer tentativa de reunião da formação clássica.
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