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Banda Busic nasce grande e justifica a expectativa em ótimo álbum

Combate Rock

29/12/2016 06h47

Marcelo Moreira

Banda Busic (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Banda Busic: da esq. para a dir., Andria Busic (baixo e voz), Hard Alexandre (guitarra), Ivan Busic (bateria e voz) e Zeca Salgueiro (violão e guitarra) (FOTO: DIVULGAÇÃO)

No começo todos vão estranhar, ainda que a voz seja familiar e as batidas poderosas de bateria soem como sempre soaram. No entanto, é só. O resto é novidade, e das boas: músicas em português, e uma guitarra mais pesada, mas sem grandes ousadias.

A banda Busic, em seu primeiro álbum após os irmãos Andria (baixo e voz) e Ivan (bateria e voz) deixarem o Dr. Sin, no começo deste ano, não economizou em termos de inspiração: são 15 músicas em mais de uma hora de boa música. O guitarrista herói Edu Ardanuy seguiu outros caminhos, e os irmão decidiram dar uma guinada na carreira.

"É claro que haverá comparações, ainda há a mesma pegada roqueira pesada e hard, mas creio que logo logo ficará explícito que é outra banda, com outro conceito", diz Andria Busic.

O diagnóstico foi certeiro: o hard rock é o mesmo de sempre da dupla, mas a banda Busic ignora os preconceitos e os rótulos, flertando com o metal, com o pop rock nacional e também com o blues.

Se a opção pelo hard em português tivesse surgido nos anos 80, certamente poderia ter atingido um patamar no então rock nacional, algo que o ótimo Golpe de Estado quase conseguiu.

Os irmãos até recebem bem esse tipo de comentário, mas preferem olhar para a frente, sem esquecer a bela carreira que construíram. "Estou tão empolgado com este trabalho que mal vejo a hora de subir ao palco. É um novo conceito, embora seja possível identificar as principais características minhas e de meu irmão como músicos", afirma Ivan.

Hard Alexandre, que fez parte do projeto piloto Busic Gang no meio do ano, foi oficializado como guitarrista. É um músico muito técnico, mas que privilegia mais o feeling, fruto de suas influências blueseiras.

Na guitarra base está Zeca Salgueiro, acrescentando uma dinâmica nova ao quarteto, que é mais eclético do que o antigo Dr. Sin.  O som está mais amplo, assim como as possibilidades sonoras do hard rock de bom gosto, mas sem grandes arroubos.

O grupo não teve medo de provocar tédio ou dispersão de atenção no ouvinte com as 15 músicas. Faz sentido, já que algumas canções trazem uma certa urgência, como se houvesse uma necessidade de expressar mensagens em uma nova e importante fase da vida.

"De certa forma isso é verdade, já que o Dr. Sin acabou no começo de 2016 e nós logo procuramos aproveitar o bom momento de inspiração", diz Ivan. "Aproveitamos vários temas e diversificamos, mas realmente havia uma vontade de colocar tudo para fora. Não era o caso de economizar."

O material que foi produzido no geral é muito bom, ainda que os músicos corressem o risco de desperdiçar boas canções e, um álbum longo e recheado.

Com a nova abordagem, Andria e Ivan, que dividem os vocais ao longo do trabalho, demonstraram uma segurança e descontração surpreendentes para quem estreava um projeto radicalmente diferente, e em outro idioma – ainda que seja o nativo deles.

Um dos destaques do álbum é "Escravas do Medo", que acerta no tom dramático de uma história triste que versa sobre a violência contra a mulher.

"Só o Tempo Vai Dizer", que só tornou o primeiro clipe do álbum, traz Andria Busic confortável ao cantar em português. Mais contido do que na época do Dr. Sin, o baixista e vocalista demonstra boa capacidade de adaptação ao português e dá maior ênfase à interpretação, "sentindo" a história. Nas duas canções, o trabalho de guitarras foi um diferencial, principalmente na primeira.

Em "Fúria Cega", há guitarras mais pesadas, em um dos momentos heavy do álbum. Os músicos foram felizes ao criar um clima tenso para uma história baseada em uma discussão de trânsito. Aqui, Andria e Hard dividiram as execuções de guitarra, com um resultado bastante expressivo.

"Ação e Reação", que abre o trabalho, talvez seja a que mais lembre a antiga banda dos irmãos Busic, com sua pegada rápida e grooveada, embora alguns arranjos m ais modernos remetam a bandas Audioslave, Stone Sour, Velvet Revolver e o trabalho solo de Slash (Guns N' Roses).

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Pode ser só uma impressão, mas a nova incursão pelo rock deixou Andria e Ivan mais livres para exercitarem e explicitarem muitas de suas influências. São bem expressivas as pitadas aqui e ali de Beatles, Deep Purple, Queen e mesmo de bandas brasileiras veteranas.

"Eu Acredito em Você" é sessentista total, com várias remissões a The Who, The Kinks e um pouco de Rolling Stones, além de remeter a um som que já vem sendo explorado com sucesso por bandas como Cachorro Grande e O Terno.

"SOS Amanhã", com sua letra engajada, traz uma gostosa mistura de Pink Floyd e os trabalhos solo de Davi Gilmour (guitarrista da banda) e Jon Anderson (ex-vocalista do Yes), com belos arranjos de teclados e guitarras.

"Canção para Julie", uma bela homenagem a sua enteada, Andria incorpora o melhor que John Lennon pôde fazer em suas singelas e lindas baladas. Já "Junto ao Coração" é mais do que uma influência explícita – é uma versão muito bem feita, em português, para o megaclássico "Closer to the Heart", do Rush. Não houve ousadia, mas os arranjos são um destaque na faixa.

"Não dá para cravar que estamos com mais liberdade para criar e voar. Nunca tivemos esse tipo de amarra no Dr. Sin. Como era um nome bem firmado meio musical, não dava, evidentemente, para seguir por certos caminhos. A banda Busic tem outra proposta, e nos permite explorar outras coisas", afirma Andria.

Passeando por mais possibilidades e gêneros musicais, a banda Busic mostrou muita qualidade, como era de se esperar de um projeto que já nasce grande, com um pedigree de estofo e com fôlego para assustar a concorrência.

Ninguém imaginava que os irmãos se renovariam e ressurgiriam com tamanha pegada. Voltaram ao mercado tão bem e com tamanha força que vai ficar difícil superar o ímpeto e gana demonstrada neste primeiro CD.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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