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George Michael quase driblou as armadilhas da fama e do mundo das celebridades

Combate Rock

26/12/2016 07h06

Marcelo Moreira

FOTO: REPRODUÇÃO/YOUTUBE

FOTO: REPRODUÇÃO/YOUTUBE

O preconceito sempre foi um dos motores da vida musical dos nichos de fãs nos anos 80. Punks eram inimigos de apreciadores do metal, estes odiavam os góticos e os moderninho da new wave, quanto estes ignoravam a MPB e torciam o nariz para o rock nacional. Artistas como Madonna, Cyndi Lauper e muitos outros com veia pop dividiam as atenções e as opiniões. Eram artistas que os rockers adoravam odiar.

Quando a banda Wham! acabou, surgiu nas emissoras de rádio o hit "Careless Whisper", movido a saxofone de bordel chique. Era o despertar da carreira solo de George Michael, que foi alçado ao topo das paradas.

Das cinzas do duo, Michael se despontou como um dos maiores ícones dos anos 80 com sua voz potente e performances carismáticas. Isso, no entanto, não foi o suficiente para escapar da ira dos rockers – "pop demais, afetado demais, chique demais, clean demais, ruim demais"…

A morte do cantor inglês, aos 53 anos, joga luz à história de um personagem controverso, polêmico e que, de alguma forma, simboliza a montanha-russa em que muitas carreiras pop se transformaram.

George Michael desfrutou do melhor que a fama pode proporcionar, mas sucumbiu ao seu maior inimigo: a sua insegurança pessoal e musical, que abalroou a sua auto-estima e o seu ego.

Entre muitos nomes que seguiram pelos anos 90 e 2000 com projetos bem-sucedidos de ressurreição, como o amigo Elton John, George Michael foi o que teve mais dificuldades em atrair com mais frequência, embora alguns de seus trabalhos do período, com resultados discretos, tenha recebido elogios dos críticos.

Em um ano inacreditavelmente trágico para a música pop, a morte do cantor de voz elegante, mas de vida pessoal desestruturada e passional, choca por aproximar uma espécie de fim de uma era que pode ser chamada de "belle époque" do mundo pop, ainda que o surgimento da aids tenha enevoado a vida e impactado de forma brutal no modo de vida mais expansivo e liberal.

Se os Rolling Stones parecem indestrutíveis, por um lado, de outro temos fortalezas e "exemplos" de excessos como Lemmy Kilminster, o líder do Motorhead, que tiveram morte fulminante – aos 70 anos, no final do ano passado, embora não seja possível até hoje relacionar tais excessos com o desaparecimento. Michael, diante de muitos indícios, pode ser encaixado na segunda categoria, e ainda assim seu caso escancara uma total perplexidade.

Não será o último a desaparecer jovem e outrora no auge de uma carreira acidentada, mas bem-sucedida. Muitos outros músicos morreram aos montes desde o final dos anos 90, a maioria por conta de efeitos e consequências dos excessos associados à fama, pouquíssimos tinham a estatura de Michael e sua fina estampa – sempre elegante e passando uma imagem de artista saudável e um certo ideal de beleza masculina.

A voz de George Michael nem sempre acertou na escolha do repertório, mas certamente gravou algumas das canções mais expressivas e importantes do pop, como foi o caso de "Freedom'90".

Era um artista de porte grande, mas não dá para dizer que é um dos nomes que obrigatoriamente têm de estar no olimpo do rock. Talvez seja cedo para tentar determinar qual será o legado do cantor – nada desprezível, de qualquer forma.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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