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Metallica ressurge forte e de bem com a vida em "Hardwire"

Combate Rock

05/12/2016 07h00

Marcelo Moreira

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Os vídeos das gravações já entregavam um pouquinho do clima: relaxamento, descontração e pressão mínima. Tudo bem, isso pode até ser simples para um artista milionário, mas não quando se trata de uma banda gigante com músicos chatos e perfeccionistas.

"Hardwire… and Self-Destructed", o novo trabalho do Metallica, talvez seja o fato mais relevante do ano para o heavy metal, e um dos fatos importantes do rock.

Mais do que a expectativa imensa por si só, o que gerou muita ansiedade foram as duas primeiras faixas liberadas para audição, atiçando  a curiosidade: será que teríamos uma banda de volta às raízes, mais raivosa e intensa?

Em alguns momentos, a expectativa foi superada. O disco trouxe uma abordagem mais direta e menos elaborada, com ênfase em riffs poderosos e músicas mais pesadas, indo bem à frente do que a banda fez em "Death Magnetic", de 2009.

Uma coisa que costuma irritar a banda e também parte dos fãs que entende o atual momento do Metallica é a insistência com as comparações do álbum novo com as obras-primas dos anos 80 – "Kill'Em All", "Ride the Lightining" e "Master of Puppets".

Se as comparações, até certo ponto, são inevitáveis, por outro, não podem ditar os procedimentos desde então – ou seja, não podem pautar a vida e a obra eternamente.

O quarteto que forma o Metallica jamais vai compor algo como os três álbuns citados, assim como Paul McCartney jamais fará outro "Sgt. Peppers" e os Rolling Stones nunca farão outro "Exile on Main Street".

James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammett e Robert Trujillo já estão beirando os 55 anos de idade, pensam de maneira diferente, compõem de forma diferente, executa, seus instrumentos de forma diferente, e melhor do que há 30 anos.

É sempre bom lembrar a história verdadeira contada por jornalistas e pelo próprio envolvido: em 1985, Pete Townshend renovou seu contrato como artista solo com a Atlantic, logo após o fim do Who (ocorrido oficialmente no ano anterior).

Um executivo da empresa, ingênuo, perguntou ao guitarrista o porquê de ele não compor mais hinos do rock como "My Generation", clássico absoluto da história e lançada pelo Who em 1965.

"Eu tenho 40 anos de idade", respondeu Townshend. "Hoje minhas ideias são outras, são 20 anos de experiências. Não tenho mais a cabeça de quando tinha 19, 20 anos e era rebelde."

Volta por cima

"Hardwire" é um ótimo álbum de rock pesado. Está longe de ser uma obra-prima, mas provavelmente nem era essa a pretensão de seus integrantes. São 77 minutos em 12 músicas fortes, pesadas, com certa homogeneidade.

Não há um grande um hit ou uma música que se destaque de forma flagrante em relação às outras. "Hardwire", a música que abre o trabalho, dá o tom do álbum: pesada, com guitarras na cara, tensa e rápida, com uma interpretação energética de Hetfield.

"Atlas, Rise" e "Halo on Fire" exploram um lado mais melódico do quarteto, onde Hammett consegue expandir a sonoridade com solos inspirados e estruturas harmônicas diferentes.

O guitarrista é também o destaque nas boas "Moth Into Flame" e "Confusion", enquanto que Trujillo cria bases fortes no baixo em "ManUKind" – ele assina a composição ao lado de Hetfield e Ulrich.

O novo álbum, duplo na versão nacional normal (a mesma que a versão americana), traz uma banda mais coesa, mas descontraída e demonstrando vontade, fugindo da armadilha de compor e gravar por obrigação.

É o melhor álbum do Metallica desde "Load", de 1996, embora seja possível identificar aqui e ali influências de quase todos os álbuns que a banda já lançou.

Alívio ou felicidade com o resultado? Isso é irrelevante, mas não custa nada celebrar o fato de que o Metallica ressurge bem, com um trabalho forte e de ótima qualidade.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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