Sepultura e Lobão: que a união improvável supere a intolerância infantil
Marcelo Moreira
Não foi uma boa ideia, mas não é um crime passível de condenação máxima. O Sepultura continua sendo a maior banda brasileira de rock de todos os tempos, por mais que tenha perdido espaço no cenário internacional, e só por isso está sendo alvo de críticas pesadas por anunciar uma turnê ao lado de Lobão, um dos nomes que forma fortes da chamada "geração anos 80" do rock nacional.
Versátil, inovador e eclético – principalmente por conta do atual líder, o guitarrista Andreas Kisser – o Sepultura tem um histórico de canções com temas fortes, de crítica social e de protesto, muitas vezes de viés mais progressista, que muitos entendem, não sem razão, como uma postura mais à esquerda.
Em razão disso, não são descabidas as reclamações de alguns, nas redes sociais, a respeito da associação com Lobão em uma turnê por várias cidades brasileiras. São evidentes as incompatibilidades, musicais, estéticas e políticas entre os dois artistas e seus respectivos públicos.
Entretanto, a questão que fica é a seguinte: qual é a real importância que todo mundo está atribuindo à existência de todas as incompatibilidades? São suficientes para que haja "condenações" ao Sepultura e que, em última análise, suscitem ideias de cancelamento da turnê?
Não, de modo algum e nem de longe. A ideia de juntar os dois artistas, em sua gênese, não foi boa e poderia evitar certos contratempos.
Por outro lado, é uma decisão corajosa e tem ao menos um ponto positivo: forçar, de certa forma, a "convivência" entre públicos distintos e estimular a tolerância entre opostos, algo bem diferente do que aconteceu no Rock in Rio 2, em 1991 – após o show do Sepultura, Lobão subiu ao palco (um erro grosseiro de escalação daquele festival) e foi maltratado por fãs de radicais de metal, que vaiaram, xingaram e o transformaram em alvo de garrafadas.
A união entre Sepultura e Lobão é uma oportunidade interessante para que testemos o nível de tolerância dentro dos meios musicais e artísticos em um momento de polarização política tensa e grave, que explicitou ódios insanos e beirou a guerra nos últimos três anos – desde os protestos de junho de 2013, passado pela eleição presidencial de 2014.
Pode-se até compreender que os radicais do metal chiem por conta de qualquer tipo de "inovação" que fira os preceitos do subgênero – faz parte do folclore e do comportamento padrão de sectarismo e intolerância.
No entanto, em pleno século XXI, manifestações mais enraizadas e extremas de teimosia e de rejeição perdem o sentido quando os próprios megafestivais de rock estão cada vez mais segmentados e diversificados – é verdade, com cada vez menos rock, como o Rock in Rio, mas enfim…
Muita gente não gostou da nova empreitada do Sepultura – eu não gostei. Só que insistir no choramingo e ficar batendo na tecla da intolerância em prol do "purismo" e da "fidelidade" ao gênero soa, em tempos atuais, como um comportamento infantil e foda de propósito.
É o caso de dar uma chance aos dois artistas para que mostrem que as incompatibilidades são contornáveis e que os shows possam ser curtidos de forma suave e decente – da mesma forma que os fãs deram a oportunidade para que os elementos "estranhos" ao metal pudessem ser ouvidos, admirados e assimilados em relação aos álbuns "Chaos A.D." e "Roots".
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