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Nobel de Literatura para Bob Dylan é apenas a constatação do óbvio

Maurício Gaia

26/10/2016 07h00

Maurício Gaia

 

"Eu vou ganhar o Nobel e esnobar aqueles suecos, podiscrê" – Bob Dylan nos 60

Em algum ponto dos anos 1980, quando estava na faculdade, eu invadi uma aula de português de outro curso – eu tinha o hábito de assistir aulas de outros cursos. Lá pelas tantas, o professor manda a cacetada: "Vocês ficam falando mal de cultura pop, mas saibam que em universidades dos EUA, os caras estudam a sério as letras de Chuck Berry". Bom, até aí, não me surpreendeu, pois já muita gente estudava as letras de Chico Buarque, Caetano Veloso, entre outros, nas universidades brasileiras.

Mais de duas décadas depois, eis que a Academia Sueca anuncia que Bob Dylan é o agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura de 2016. Houve quem enxergasse na premiação um reconhecimento à música pop feito pela academia, que costuma conceder esta condecoração a escritores mais habituados a trabalharem em outro suporte, o papel. Houve, também quem considerasse injusto premiar Dylan, deixando outros escritores (muitos já consagrados) de lado.

Na verdade, nem um nem outro. O mundo acadêmico, como dito lá no primeiro parágrafo, há muito já considera a canção como uma forma de literatura, tanto quando a prosa e poesia. Bob Dylan, dentro deste cenário, é mais um escritor entre tantos. Genial, como sua obra mostra ao longo destas mais de cinco décadas de trabalho. Mas, como bem observou uma amiga carioca, que entende do riscado -literatura, premiar Bob Dylan não representa nenhuma ruptura, muito pelo contrário. Segundo ela, a contribuição dele é inegável, mas do ponto de vista formal, ela é adequada ao padrão americano, ocidental. Inovação mesmo seria premiar alguém que rompesse com estes padrões.

Tendo a concordar com minha amiga. Dylan é um gigante, mas dar o Nobel de Literatura a ele é apenas a constatação do óbvio: seu trabalho é excelente, mas não significa nenhuma ousadia.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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