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Catalau toma conta do palco, e Golpe de Estado faz show histórico

Combate Rock

25/10/2016 07h00

Marcelo Moreira

Foto emblemática do Golpe de Estado e convidados ao final do show (FOTO: DIVULGAÇÃO/LUCIANO PIANTONNI)

Foto emblemática do Golpe de Estado e convidados ao final do show (FOTO: DIVULGAÇÃO/LUCIANO PIANTONNI)

O palco não era pequeno, mas ficou minúsculo quando o cantor loiro foi chamado. Magro, sorridente e com uma aparência de moleque aos 57 anos, André Marechal nem parecia que estava fora dos palcos seculares havia 20 anos. Tomou conta de tudo, liderou a banda e fez mais de 600 pessoas que lotaram o Clash Club retornarem ao underground do rock pesado dos anos 80.

André Marechal, na verdade, deixou a sua persona no camarim e voltou a encarnar o Catalau como o grande convidado do show de 30 anos de carreira do Golpe de Estado, em um domingo garoento na zona oeste de São Paulo.

O ex-cantor da banda parecia que tinha saído direto do túnel do tempo e reverenciou um tempo em que o rock tinha pegada, humor, irreverência e muita malícia. Com o Golpe de Estado, Catalau parecia devolver a um público majoritariamente mais velho e mais experiente um pouco do carisma que o rock, de certa forma, perdeu ao longo dos últimos 20 anos.

Para quem estava de fora, tudo deu certo. Casa cheia, som de boa qualidade e muita força de vontade – os oito músicos que subiram ao palco se divertiram bastante, era nítido ver que a noite de celebração contaminou a todos. Foi uma grande festa de uma comunidade que esperava por isso havia anos.

No começo, parecia que o show dos 30 anos do Golpe de Estado seria um evento para reunir uma confraria de amigos, como naqueles encontros de escola ou faculdade após os famigerados 20 ou 30 anos da formatura.

Muita gente – ou seria quase todo mundo? – se conhecia na plateia, gente que não se via havia muito tempo, sem falar em um Dream Team do rock paulistano, com integrantes de bandas como Vento Motivo, Baranga, Tomada, Ultrassônicos e muitos, muitos outros artistas.

Todos queriam um show memorável – e tiveram – mas, antes de tudo, queriam muita festa. E o mestre de cerimônias Rogério Fernandes, o atual vocalista da banda, comandou o espetáculo de forma magistral – espontâneo, alegre, reverente e bastante agradecido por estar onde estava.

"Se não fosse o Hélcio Aguirra me ligar lá nos anos 90 para substituir o Catalau no Golpe eu provavelmente não estaria aqui e não seria um músico tão respeitado como sou hoje", disse o cantor.

Catalau foi ovacionado quando entrou no palco (FOTO: ARQUIVO PESSOAL/FACEBOOK/BRUNA MARECHAL)

Catalau foi ovacionado quando entrou no palco (FOTO: ARQUIVO PESSOAL/FACEBOOK/BRUNA MARECHAL)

Como de praxe, a atual formação da banda – Fernandes, Nelson Brito (baixo, único membro fundador ainda na grupo), Marcelo Schevano (guitarra) e Roby Pontes (bateria) – tratou de esquentar o clima com uma série de hits pesados e marcantes.

A banda com Schevano está diferente. Também guitarrista da excelente Carro Bomba (assim como Fernandes também é integrante), o músico não economiza no peso e "desce a mão", acrescentando nova textura a alguns clássicos da banda. Claro que falta a destreza e o acento bluesy tão característico de Hélcio Aguirra, morto em 2014, mas é gostoso observar que o golpe de Estado ficou mais pesado, mas rude e mais agressivo.

"Nem Polícia, Nem Bandido" estremeceu a casa, assim como a excelente "Feira do Rato", do disco "Direto do Fronte" , que ao vivo está mais rápida e mais pesada, lembrando muito "Freewheelin' Burning", do Judas Priest.

"Zumbi" e "Paixão" levaram o público às nuvens, com Fernandes esbanjando muito feeling e satisfação. "Errei  na primeira música do show, estava tão nervoso com essa celebração que não teve jeito", disse o cantor ao final da apresentação, já fora da casa. "Mas e daí? Tudo funcionou perfeitamente e amei cada segundo.

O primeiro convidado, o guitarrista Luís Carlini, quase roubou o show com sua elegância e seu feeling absurdo na ótima "Moondog", baladona que se transformou em um blues fantástico.

E eis que Catalau entra e toma conta de tudo. Em "Olhos de Guerra", baladaça de cunho pacifista, trouxe o carismático e insano vocalista dos anos 80, aquele que teve de ir ao fundo do fundo do poço para se reinventar como pastor evangélico livre das drogas, ressurgindo 20 anos depois para celebrar a vida.

A participação de Catalau, tão esperada e o motivo de tanta celeuma ao longo de alguns meses, não foi óbvia, para alegria de muitos, que se extasiaram com uma sequência fora do comum e inesperada, com "Real Valor", "Terra de Ninguém", "Velha Mistura", "Mal Social" e o hino "Caso Sério", que levou muitos às lágrimas, além de encantar uma geração mais jovem – e como toca bem o tecladista convidado Mateus Schanoski, da banda tomada .

Depois de se agigantar no palco e cantar como se estivesse nos escuros botecos oitentistas de São Paulo, Catalau saiu com um sorriso gigante de satisfação e orgulhoso por se apresentar pela primeira vez em grande estilo para os dois filhos pequenos, que pulavam à beira do palco.

O final do show ainda teve bons momentos de peso e pancada sonora, e teve uma grande gentileza de todos ao permitirem que o maior hit da história da banda, "Noite de Balada", fosse cantada por um fã confesso: Ronaldo Giovanelli, ex-goleiro do Corinthians e líder da banda Ronaldo e os Impedidos, no encerramento da noite.

A pergunta que ficou no ar era a mais óbvia de todas: essa noite mágica pode se repetir, com Catalau fazendo pelo menos mais algumas participações especiais?

O ex-vocalista apenas abriu um enorme sorriso quando foi embora para sua casa, no litoral norte de São Paulo. Já Nelson Brito, carregando seu equipamento e colocando no carro lotado, também foi enigmático. "Vamos primeiro curtir essa noite maravilhosa. Todos adoramos o que aconteceu, vamos celebrar…"

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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