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Novos álbuns de King Crimson e Marillion mostram o progressivo revitalizado

Combate Rock

26/09/2016 06h51

Marcelo Moreira

Dois veteranos e gigantes grupos estão mantendo vivo o rock progressivo clássico. King Crimson e Marillion ainda demonstram ter fôlego para turnês e encarar novos produtos mesmo com a depredação total do mercado fonográfico.

O King Crimson parecia que ia entrar com tudo no século XXI, mas deu uma parada a partir de 2003, após uma série de trabalhos muito bons e bem-sucedidos como um sexteto – a formação dos anos 80, com Robert Fripp (guitarra), Adrian Belew (guitarra e vocais), Tony Levin (baixo e stick) e Bill Bruford (bateria), mais o baixista Trey Gunn e o percussionista Pat Masteloto.

O hiato quase foi quebrado entre 2008 e 2009, mas o silêncio permaneceu. A volta, finalmente, ocorreu em 2013 como um septeto, e três bateristas. E só um dos antigos companheiros dos anos 80 o acompanha.

A nova formação tem agora Fripp, Levin, o guitarrista Jakko Jakszyk (guitarrista e compositor, participou da banda 21st Century Schizoid Man com ex-integrantes do próprio King Crimson), osaxofonista Mel Collins (que fez parte da bandas entre em 1972 e 1974) e os bateristas Pat Mastelotto (que tocou com o grupo nos anos 90 e esporadicamente entre 2002 e 2008), Bill Rieflin (que foi músico contratado do R.E.M.) e Gavin Harrison, assíduo colaborador do Porcupine Tree e da banda solo de Steven Wilson (líder do Porcupine Tree.).

Fripp disse em sue blog  que cedeu aos apelos da mulher, a cantora Toyah Wilcox, e de amigos para reativar o grupo. Foram meses de ensaio, até que no final de 2014 surgissem os primeiros shows. No ano seguinte, a banda engatou uma pequena turnê pela Europa e um concorrido giro pela América do Norte.

Não há previsão de lançamento de um novo álbum de estúdio, mas chegou ao mercado um grande aperitivo em 2015: um CD ao vivo gravado em Toronto, no Canadá, em 2014, com cara de bootleg e EP.

Capa do novo álbum do King Crimson

Capa do novo álbum do King Crimson

Para quem gosta da banda e acompanha o inovador trabalho do agora septeto, pode-se dizer que é um álbum ao vivo com muita novidade, já que as reinterpretações de alguns temas dos anos 70 são tão diferentes e ganharam nova dinâmica que parecem novas canções.

A fórmula foi repetida no ambicioso álbum triplo ao vivo recém-lançado, "Radical Action to Unseat the Hold of Monkey Mind", com músicas gravadas em apresentações no Japão, na França e no Canadá.

Parte do material não era tocado ao vivo desde a década de 1970, embora as canções foram reorganizados e rearranjadas de acordo com a atual formação. O título é derivado de uma canção inédita com o mesmo nome que a banda executou em quase todos os shows.

O material da caixa recém-lançada é de primeira qualidade e expande a sonoridade e a proposta apresentadas no CD ao vivo de Toronto: em alguns momentos, parece outra banda tocando, com um aprofundamento do experimentalismo característico do King Crimson e a busca por diferentes soluções em canções marcadas pelo improviso e pelo mergulho no jazz. O resultado é sublime e mostra uma banda revigorada e com fome de palco.

O Marillion está em uma pegada parecida, por mais que o mais recente álbum de estúdio demonstre uma melancolia profunda e um baixo astral. Nos palcos, como os brasileiros viram há quase dois meses, o quinteto se mostra afiadíssimo e com vontade de tocar.

"FEAR – F***ing Everyone and Run" foi lançado no final de agosto e pode ser considerado como um resgate da inspiração que parecia ter momentaneamente sumido. A banda se afasta do pop e das baladas simples para mergulhar de cabeça no mais profundo rock progressivo, em temas longos e densos.

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São cinco músicas apensas em 68 minutos, em uma autêntica decisão de não fazer concessões aos singles. Não há um conceito que as una, já que cada uma delas pode ser considerada como peças conceituais.

"El Dorado", por exemplo, com seus mais de 16 minutos, reúne várias camadas de guitarras e teclados em suítes, compondo um mosaico melancólico, mas com uma força lírica que havia muito tempo não surgia em um trabalho da banda.

Os teclados de Mark Kelly ganham proeminência, praticamente dividindo a condução melódica com a elegante e delicada guitarra de Steve Rothery. Com isso, as faixas ganham densidade e uma carga dramática que também tinha sumido dos álbuns do Marillion.

Os temas introspectivos ainda permanecem, mas as letras agora se aprofundam em temas políticos e melancólicos – há tristeza, há raiva e há medo, mas o tom indignado da interminável "The Leavers", com seus quase 20 minutos de duração, abre espaço também para mensagens positivas e de esperança.

Isso pode ser observado também nos quase 17 minutos de "New Kings", que fecha a obra, a música mais forte, tanto na mensagem como no instrumental – um ataque duro e certeiro aos corruptos, aos ditadores e à predominância do dinheiro sobre tudo.

É a melhor do álbum, com sua variedade de timbres de guitarra e a habilidade dos compositores em introjetar climas diferentes e realizar a passagem entre os "níveis" de forma hábil e competente.

"FEAR" é um trabalho difícil por conta de sua densidade e complexidade. Precisará de tempo para ser digerido e para se candidatar a um clássico do Marillion. Entretanto, tem todas as credenciais para isso, já que é, possivelmente, o melhro álbum da banda neste século.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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