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Bellrays, a mistura de Aretha Franklin com AC/DC

Combate Rock

23/09/2016 07h00

Marcelo Moreira

FOTO: DIVULGAÇÃO

FOTO: DIVULGAÇÃO

Imagine o AC/DC tendo uma Aretha Franklin punk como vocalista. Ou Janis Joplin berrando em uma banda que misturasse MC5 e Stooges. Isso existe e está lançando seu mais novo EP, "Covers". A banda já tinha impressionado bastante em seu último álbum de inéditas, "Black Lightining", de 2011. Pela qualidade da banda, é de estranhar o silêncio do grupo desde então.

Lisa Kekaula é a cantora negra mais heavy metal que já existiu. Ela é a alma da banda The BellRays, surgida na Califórnia, nos Estados Unidos, em 1990, mas que começou a ter alguma repercussão no final dos anos 90, com a chega da cantora vulcânica.

A música é rock'n roll em estado puro, hora pendendo para o punk, hora caindo de cabeça em um soul deslavado e muito bem executado, hora resvalando no hard rock, emulando timbres de guitarra que remetem a AC/DC, Motorhead, Stooges, New York Dolls e Ramones. Completam o quarteto Bob Vennum (guitarra), Justin Andres (baixo) e Stefan Litrownik (bateria).

"Covers", autoexplicativo, traz seis versões para clássicos do rock e da black music – "Livin' in the City", de Stevie Wonder, é um primor de interpretação, com um encontro inusitado entre o rock pesado, o punk e a soul music, tudo temperado com um groove extraordinário.

Entretanto, os desataques são as versões garageiras, sujas e pesadas para três clássicos do rock pesado. "Highwat to Hell", do AC/DC, impressiona pela interpretação maliciosa e ardente de Lisa, que consegue emular um Bon Scott furioso e safado.

Já "Whole Lotta Love", do Led Zeppelin, ganha uma versão "black and blue": mais lenta, mais suingada, mais dançante, com uma linha de guitarra insinuante e intrigante. "Never Say Die", do Black Sabbath, é uma escolha pouco óbvia, é a versão que mais se aproxima do original. No entanto, sobressaem-se toques punks e até mesmo grunge, impondo um colorido diferente a este clássico do final da primeira fase do Sabbath.

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"You Took Me By Surprise" é uma versão bem bacana de uma música da banda de garagem The Seeds, mas não difere muito do estilo que sempre caracterizou o som dos Bellrays. Quem faz uma participação especial nesta faixa é Wayne Kramer, ex-guitarrista do MC5. Por fim, "Dream Police", um dos bons hits da ótima banda de hard rock Cheap Trick, ganha uma dose extra de eneregia e adrenalina, com Lisa Kekaula abusando da voz rasgada.

Por enquanto, "Covers" só está disponível na versão digital e é uma tentativa de retorno do grupo após um hiato de cinco anos. Neste período, Lisa e o guitarrista vennum tentaram emplacar um novo projeto, Lisa and the Lips, que lançou um álbum autointitulado em 2013 que passou em branco – era menos pesado e mais black do que Bellrays.

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O melhor álbum

"Black Lightining", de 2011, é o 13º e melhor trabalho da banda – contando EPs com material inédito e coletâneas de sobras de estúdio. Por ser o melhor, merece ser citado novamete. A produção está mais limpa, assim como a voz de Lisa está menos rasgada. Lembra um pouco os álbuns das bandas grunge do início dos anos 90: menos sujeira, timbragem um pouco mais limpa, mas nada de excessos.

A música-título abre o álbum e traz um rock bem mais comportando do que as pedradas hard contidas em "Grand Fury", de 2000, mas as melodias são contagiantes.

Embora não haja mas aquela urgência punk do mesmo álbum citado, há excelentes ideias. "Hell on Earth" é classuda e remete ao hard rock setentista. "Sun Comes Down" deixa um pouco o hard rock de lado e investe em uma black music saborosa, ao melhor estilo Isaac Hayes e Tina Turner.

"Everybody Get Up" é outro destaque, um rock acelerado e poderoso que poderia estar na trilha sonora de qualquer filme sobre o rock dos anos 70, como "Almost Famous" (Quase Famosos). Faz um som que Juliette Lewis, com suas bandas, sempre quis fazer, quase conseguiu, mas que ainda persegue.

Lisa Kekaula dá uma aula de feeling e interpretação em cada música. Tem facilidade para ir da soul music mais rasgada ao proto-heavy metal que seus companheiros nerds tentam fazer. É o tipo de som certo para uma tarde regada a cerveja, piscina e muito sol.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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