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Rock na Praça lota o Vale do Anhangabaú e tem bons shows de Angra e Korzus

Combate Rock

06/09/2016 06h31

Marcelo Moreira

marcello Pompeu, do Korzus (FOTO: DIVULGAÇÃO/ROCK NA PRAÇA)

marcello Pompeu, do Korzus (FOTO: DIVULGAÇÃO/ROCK NA PRAÇA)

A concorrência era pesada – uma enorme manifestação contra o governo de Michel Temer organizada por partidos de esquerda e movimentos sociais, e que reuniu mais de 100 mil pessoas na avenida Paulista e na zona oeste de São Paulo.  No entanto, pouco importou para os roqueiros da capital, que transformaram a quarta edição do Rock na Praça na melhor de todas.

O domingão meio frio e cinzento não era convidativo, mas pelo menos 10 mil pessoas (estimativas da organização) estiveram no Vale do Anhangabaú, no centro da cidade, para curtir mais um minifestival gratuito de rock.

Se a edição anterior, realizada em julho ao lado da Galeria do Rock, bem no centro velho da cidade, tinha sido um sucesso ao reunir grupos maios voltados ao hard rock – e levando mais de 5 mil pessoas à rua 24 de Maio, o evento desde domingo (4) tentou ser um pouco mais variado, indo do metalcore ao thrash/death metal.

O guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura, abriu os trabalhos com o seu Kisser Clan, um de seus vários projetos, sendo que este inclui o filho mais velho, Yohan (guitarra), além do baterista Amílcar Christófaro (Torture Squad) e do baixista Gustavo Giglio.

A ideia é fazer jams pesadas e tocar clássicos do rock e do heavy metal. "É uma grande bagunça, com clima de festa e de celebração, como o rock deve ser em todas as circunstâncias", disse Andreas Kisser recentemente. Claro que teve som do Black Sabbath, e é claro que teve música do Sepultura, como "Refuse/Resist".

Havia muita gente que estava reticente quanto ao show do Gloria, banda de metalcore que já teve Eloy Casagrande (atual Sepultura) em sua bateria. O preconceito é antigo, mas a banda merece crédito. Enfrentou a desconfiança do público e se esforçou para fazer um show pesado e intenso e acabaram superando as expectativas – não foi extraordinário, mas esteve muito longe de ser ruim.

Angra (FOTO: DIVULGAÇÃO/ROCK NA PRAÇA)

Angra (FOTO: DIVULGAÇÃO/ROCK NA PRAÇA)

Com grande expectativa, o Korzus subiu ao palco e fez o possível para "dificultar" as  coisas para a atração principal, o Angra. Como tem sido ao longo dos últimos anos, o quinteto demoliu e quebrou tudo, em um show pesadíssimo e brutal, privilegiando um repertório mais recente.

"Discipline of Hate", possivelmente a música mais pesada já feita e gravada por um artista brasileiro, foi a senha para o massacre sonoro, transformando o vale em uma grande roda de roqueiros ensandecidos. E a banda não aliviou, tocando também as pesadas "Respect" e "Legion".

A missão do Angra era complexa depois da ótima performance do Korzus, ainda mais porque havia o desfalque do vocalista italiano Fabio Lione. A solução foi interessante e inventiva: três bons amigos se revezaram nas nove músicas em uma apresentação inusitada e diferente.

Alírio Netto (Age of Artemis), Bruno Sutter (Detonator e carreira solo) e BJ (Jeff Scott Soto e Tempestt), experientes e comprovadamente bons cantores, acrescentaram novos coloridos a composições clássicas, deixando-as diferentes. Os puristas não gostaram e houve até quem tenha ensaiado uma vaia no lado direito do palco. Má ideia, porque quem tentou foi detonado sem dó.

Andreas Kisser e a Kisser Clan (FOTO: DIVULGAÇÃO/ROCK NA PRAÇA)

Andreas Kisser e a Kisser Clan (FOTO: DIVULGAÇÃO/ROCK NA PRAÇA)

Bruno Sutter teve a honra e a responsabilidade de abrir a apresentação com "Wings of Reality". É música difícil, e o cantor mostrou boa desenvoltura, apesar de um certo nervosismo inicial.

"Nothing to Say", clássico absoluto da banda, facilitou o trabalho de Alírio Netto em seguida – muita gente cantou junto, para deleite da banda e orgulho do cantor.

"Waiting Silence" não precisou de intermediários: o guitarrista Rafael Bittencourt, agora o único membro da formação inicial, assumiu os vocais e mostrou uma evolução impressionante. Ele já tinha feito um excelente trabalho como vocalista nas gravações de seu DVD, no Café Piu Piu e mostrou segurança e competência em um show ao ar livre e com público grande.

BJ, por sua vez, brilhou em duas músicas da era Edu Falaschi nos vocais. "Heroes of Sand" ganhou uma versão mais delicada e dramática, muito próxima à original. Já em "Rebirth" ele imprimiu mais força e a deixou com uma cara um pouco mais bluesy em cima de um instrumental bem pesado.

O medley "Carry On/Nova Era" foi o encerramento digno de um show bacana, onde os "improvisos" acabaram se tornando uma atração a mais. Os três vocalistas convidados subiram ao palco e mostraram muito feeling e jogo de cintura, sendo ovacionados diante de uma apresentação bem inusitada e diferente, que certamente será um marco na carreira da banda. Foi um fecho bem legal para a até então melhor edição do Rock na Praça.

Gloria (FOTO: DIVULGAÇÃO/ROCK NA PRAÇA)

Gloria (FOTO: DIVULGAÇÃO/ROCK NA PRAÇA)

 

 

 

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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