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Alírio Netto não vai cantar na banda Malta - e todos saem ganhando com isso

Combate Rock

27/08/2016 07h00

Marcelo Moreira

Alirio Netto, um dos destaques do muscial (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Alirio Netto (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A banda Malta decidiu quem será o substituto do ex-vocalista da banda, Bruno Boncini, que optou por uma arriscada carreira solo. A escolha recaiu em uma cantora, Luna Camarah, a única mulher a concorrer à vaga no "concurso público" que o trio remanescente promoveu.

Entre os dez concorrentes finalistas a essa espécie de reality show para a escolha do novo cantor estava Alírio Netto, provavelmente um dos cinco melhores cantores de rock/metal do Brasil e um excelente ator de musicais – foi protagonista em uma montagem recente sobre a banda Queen ("We Will Rock You") e em "Jesus Christ Superstar". Ele ficou para última fase, entre os três finalistas.

A notícia de que Alírio era um dos concorrentes surpreendeu a todos, já que ele, além de ator bem-sucedido de musicais, também canta na boa banda de metal Age of Artemis. Por que o cantor decidiu encarar um desgastante processo de seleção com ares de reality show se seu estilo difere totalmente da banda Malta?

Não se trata de torcer ou de ter torcido contra a indicação do vocalista – é mais uma questão de entender as motivações, já que não surpreendeu ele ter alcançado a fase final.

A banda Malta é um dos produtos recentes da onda de reality shows televisivos que inundou a TV brasileira desde 2010. Com músicos experientes e de alta qualidade – o baterista Adriano Daga, por exemplo, é excelente -, a Malta venceu um dos concursos da TV Globo e ganhou uma superexposição, com agenda lotada de shows e vendendo bastante de seu CD de estreia, tanto física como digitalmente.

O som, entretanto, dividiu as opiniões dos amantes do rock nacional, embora o surgimento do grupo e seu estrondoso sucesso inicial tenham sido saudados como boa notícia por gente importante do ramo, como Henrique Papatela, vocalista da banda mineira Scarcéus, que frequentemente emplaca músicas em novelas e seriados da Globo.

O pop rock do Scarcéus é bastante competente e tem um trabalho autoral de respeito, com cinco álbuns já lançados em uma carreira que beira os 15 anos. É só um exemplo de música pop bem feita e de qualidade, assim como podemos citar também o Jota Quest.

A Malta, no entanto, chegou com muita expectativa de que pudesse transcender as primeiras impressões de suas performances no programa de TV – um som pomposo, com tendência comerciais evidentes e uma grande produção impulsionando. Não conseguiram escapar, infelizmente, dos preconceitos inerentes aos artistas que são incensados por tais reality shows.

Preconceitos à parte, a banda Malta fez uma opção por uma trilha mais comercial e adoção de arranjos excessivos para músicas apenas razoáveis – sendo algumas beirando o descartável, em seu álbum de estreia.

Alírio Netto poderia acrescentar algo caso fosse o escolhido? Certamente, mas bem menos do que ele gostaria e do que a banda necessitaria. Independentemente de analisarmos a questão da qualidade da obra, a impressão que temos é a de que o cantor do Age of Artemis ficaria deslocado na Malta, em razão de uma aparente inadequação entre estilos, culturas e, de certa forma, posturas.

Com a escolha de Luana Camarah, todos ganham, na opinião do Combate Rock: a Malta opta por uma artista mais próxima do seu universo – e a moça canta muito bem; Alírio também ganha, pois sai reconhecido como um grande cantor e foge de uma eventual inadequação e um "choque de culturas"; e o metal nacional e os musicais, pois não perdem um de seus artistas mais representativos da atualidade.

Repetimos: por mais que tenhamos estranhado a decisão de Alírio de participar do concurso da Malta, em nenhum momento torcemos contra ou favor. Em relação ao resultado, não se trata de comemorar, do ponto de vista de quem gosta de rock pesado. É apenas uma constatação de um cenário – e mais uma manifestação de respeito ao enorme talento do canto Alírio Netto.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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