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Buddy Guy, 80 anos: o carisma e o estilo do último dos mitos do blues

Combate Rock

17/08/2016 07h00

Marcelo Moreira

Ele é último de sua espécie. Da mesma estatura dos maiores da história, tocando para presidentes e sendo reverenciado por eles. Com a morte do gênio B.B. King no ano passado, aos 89 anos, restou ao guitarrista Buddy Guy levar o blues nas costas com o status de lenda – o veteraníssimo gaitista James Cotton, infelizmente, já está próximo da aposentadoria, aos 81 anos.

Guy é uma das figuras que podem ser consideradas sinônimo de blues. Aos 80 anos de idade, completados em julho passado, carrega toda uma história que se confunde com o próprio gênero musical, em especial a sua variante mais moderna.

É um daqueles músicos em que qualquer reverência é pouca e que a quantidade de elogios é sempre insuficiente. "É uma das minhas maiores influências. Devo muito a ele", diz Eric Clapton em sua autobiografia. "Seus fraseados praticamente um modo de se tocar blues", elogia Keith Richards, dos Rolling Stones, outro discípulo, em "Vida", sua autobiografia.

Para quem o viu em ação no ano passado, em São Paulo, no festival Best of Blues, a sensação que ficou foi a de um estilista que equilibrava perfeitamente precisão e feeling, como se isso fosse a coisa mais fácil do mundo.

Os fraseados eram soltos, rápidos e emocionantes, como se fosse um mero ensaio. Os solos, todos eles, foram encaixados com tamanha maestria e simplicidade que impressionaram até mesmo os mais experientes músicos brasileiros presentes.

Entretando, talvez os quatro minutos mais eloquentes de Buddy Guy recentemente foram os que ele proporcionou ao público restrito de uma apresentação na Casa Branca, a sede do poder nos Estados Unidos, em maio de 2012, em prol do American Songbook.

Ao lado de Mick Jagger, dos Rolling Stones, do guitarrista Jeff Beck (outro de seus discípulos) e do virtuose Gary Clark Jr, comandou o espetáculo onde deixou o presidente Barack Obama e sua mulher, Michelle, boquiabertos com tamanho carisma e qualidade musical.

No vídeo, Buddy Guy é cortês e cavalheiro ao deixar Jagger liderar a execução do clássico "Five Long Years". No entanto, quando começa a cantar e a entabular um diálogo com o stone, estabelece logo quem é o chefão da parada. Ele se agiganta e seu carisma toma conta do ambiente.

Buddy Guy no festival do ano passado, em São Paulo (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Buddy Guy no festival do ano passado, em São Paulo (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Da infância pobre e difícil no estado da Louisiana, onde nasceu, à chegada na meca do blues, Chicago, nos anos 50, George Guy, seu nome verdadeiro, sempre se destacou pela perseverança e pela crença de que a música, e o blues, iriam redimi-lo.

"Ele nunca esmoreceu, e sua força de vontade era tamanha que todos sentiam que não podiam desapontá-lo, que ninguém tinha o direito de desanimar", disse certa vez o parceiro Junior Wells, gaitista que o acompanhou por décadas.

Foi em Chicago que, em um momento de dificuldade, Guy procurou o ídolo Muddy Waters em busca de ajuda. O mestre não recusou auxílio, enxergou no garoto sulista uma força blueseira e o indicou a todos os principais nomes da cidade.

Sua carreira decolou e se tornou um nome importante do blues, principalmente depois do renascimento do gênero, a partir de 1965, após a invasão dos Estados Unidos pelo rock britânico. Virou referência e quase entidade.

A perseverança e o carisma foram fatores fundamentais para que Buddy Guy enfrentasse os tempos difíceis para o blues a partir de 1975 até o final da década seguinte. Engatou uma série de excelentes álbuns nos anos 80, até que a redenção viesse com "Damn Right, I've Got the Blues", fantástico álbum de 1991, que teve as presença de Jeff Beck, Eric Clapton e Mark Knopfler.

Se Muddy Waters era a alma do blues e B.B. King, o sinônimo do gênero, Buddy Guy pode ser considerado a referência de estilo na guitarra do gênero. Mais do que reverenciá-lo, precisamos apreciá-lo, já que é o últimos dos mitos do blues.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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