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O projeto que quase uniu Jimmy Page ao 'Yes' completa 35 anos

Combate Rock

10/08/2016 07h00

Marcelo Moreira

Jimmy Page não tem interesse, o baterista Alan White quase nem se lembra das sessões de estúdio, e a família do baixista Chris Squire não ficou empolgada com o projeto. E, assim, mais uma chance de lançar no mercado as gravações daquele que poderia ser o maior dos supergrupos cairá no limbo.

Há 35 anos, o guitarrista Jimmy Page quase se uniu a dois ex-membros do Yes para criar o projeto XYZ, que em seu início, bem no comecinho, quase teve a presença de Robert Plant, também, de Led Zeppelin. As duas bandas tinham chegado ao fim entre o fim de dezembro de 1980 e o primeiro trimestre de 1981.

A morte de Chris Squire, o baixista do Yes, aos 67 anos de idade, em 2015, acendeu as esperanças de que as gravações daquele período pudessem ser lançadas.

O projeto foi abortado no começo de 1982 e era uma mistura de Led Zeppelin e Yes. Jimmy Page era o guitarrista, Chris Squire, o baixista e vocalista, e Alan White, o baterista.

Em entrevista à Classic Rock Magazine anos atrás, Squire deu detalhes do projeto abortado. Ele e o baterista Alan White quase formaram a cozinha de um grupo com Jimmy Page e Robert Plant após a morte de John Bonham.

"Um dia, Page me ligou, falando que não podia mais ficar parado, sem fazer nada. Então, pediu que eu e Alan fôssemos até ele, só para ver se poderíamos fazer alguma música juntos. Obviamente, ele ainda estava devastado. Passamos um tempo por lá e surgiram rumores que Plant iria se juntar a nós. Mas ele mandou recado dizendo que ainda não pensava em formar um novo grupo. Se tivesse aparecido, tenho certeza que teria acontecido", disse Squire.

Uma das muitas capas de LPs piratas do XYZ nos anos 80

Em uma das últimas passagens do Yes pelo Brasil, um jornalista paulistano perguntou ao baixista sobre os tapes e sobras de estúdio perdidos do XYZ, cujos fragmentos circulam em gravações ruins pela internet. Squire deu uma risada sem graça e desconversou, dizendo que aquilo não passou de meras jam sessions.

Em outra entrevista, mais recente, a uma rádio inglesa, o baixista do Yes negou qualquer tentativa de resgatar as gravações. "Jimmy (Page) precisaria dar o seu aval, e duvido que dê. Aliás, antes de mais nada, os tapes precisam ser achados." Alguns sites musicais da Inglaterra andaram informando também que representantes de Page negaram qualquer possibilidade de lançamento dos tapes.

Mais do que 'jams'

O fato é que as sessões na casa de Page não foram "apenas jams". Havia realmente a intenção de criar uma banda nova, misturando o peso do Led com o virtuosismo do Yes. Desde aquelas sessões de fevereiro de 1981, o trio sabia que Robert Plant não participaria. Na verdade, a possibilidade nunca foi levada a sério.

Page lembrou de Paul Rodgers, do Bad Company, que estava brigado com seus companheiros de grupo – sairia em 1982 para uma carreira solo e depois cantar no The Firm, com o próprio Page. O cantor nem chegou a ser consultado. Enquanto discutiam se chamavam Plant ou não, Squire assumiu os vocais. Não ficou bom.

O que se sabe é que as sessões na casa de Page, na Inglaterra, renderam ao menos quatro esboços de músicas, sem nomes e sem letras. Apareceram pela primeira vez em um bootleg (CD/LP pirata) em 1987, editado em vinil na Inglaterra com o nome de "After de Crash". Trazia apenas as quatro músicas.Em 1996 reapareceu em CD na Itália, trazendo como complemento sobras de estúdio das gravações de "Shake 'n Stirred", álbum de Robert Plant lançado em 1985.

Pelo que se ouve nestas gravações, realmente não dá para transformá-las em algo comercial, mesmo que seja apenas e tão somente para colecionadores.

Existem coisas melhores, mais bem gravadas? Ninguém diz, ninguém confirma, e os próprios envolvidos parecem não levar a sério essa questão. Algumas versões piratas trazem músicas com supostos nomes, como "Mind Drive", "Can You See" e "Telephone Secrets".

Capa de "After the Crash"

Entretanto, já se viu coisa semelhante no mercado: quando se menos espera, aparece uma nova versão de alguma coisa que muita gente imaginava não existir – como uma famosa gravação de um show do Asia em 1983 no Japão com Greg Lake substituindo John Wetton no baixo e nos vocais.

No começo dos anos 2000 circulou um CD nas lojas virtuais contendo essa gravação do Asia, editada por um selo inglês, mas que nunca foi reeditada e que não contou com o apoio de nenhum integrante da banda.

Volta do Yes, formação de The Firm

Enquanto o trio "YesLed" não se decidia o que faria, Jimmy Page se tornou compositor de trilhas para o cinema e assinou a de "Death Wish II", de 1982, estrelado por Charles Bronson – no Brasil teve o título de "Desejo de Matar 2".

Squire e White, decepcionados com o fracasso do XYZ, realizaram jam sessions com um jovem talentoso guitarrista de estúdio, o sul-africano Trevor Rabin, que tinha gravado dois LPs de música pop em sua terra natal. Era o final do primeiro semestre de 1982 quando o baixista reencontrou o antigo amigo Tony Kaye, que fora tecladista do Yes nos três primeiros álbuns da banda, sendo demitido em 1971 para dar lugar a Rick Wakeman.

Feito o convite, Kaye participou de algumas sessões de estúdio com o trio e aceitou se tornar membro da banda, que se chamaria Cinema por um curto período, sendo que os vocais seriam divididos por Rabin e Squire. O álbum de estreia estava quase pronto no fim de 1982 quando o ex-vocalista do Yes Jon Anderson visitou o quarteto em Los Angeles e ficou maravilhado com o material que ouviu.

Duas semanas após essa visita, o empresário de Anderson propõe um retorno do Yes, que tinha parado em 1981, com o vocalista se integrando ao quarteto Cinema. Proposta aceita (o que magoaria profundamente na época o guitarrista Steve Howe e o tecladista Rick Wakeman), o Yes ressurgiu com álbum "90125″, um enorme sucesso puxado pelo hit "Owner of a Lonely Heart". Essa formação – Anderson, Squire, Rabin, Kaye e White – durou até 1994.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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