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Z.3.R.O. e A.N.I.E: projetos arriscados causam estranheza, mas agradam

Combate Rock

28/07/2016 06h55

Marcelo Moreira

Inquietação, inspiração e impulso criativo que surpreende em um momento de crise. É assim que podemos definir dois projetos muito interessantes que surgiram neste ano de 2016: Z.3.R.O. e A.N.I.E., ambos no Estado de São Paulo.

Em Campinas, o cantor e multi-instrumentista Fabiano Negri não perde tempo e, menos de um ano depois de lançar o ótimo álbum "Maybe We'll Have a Good Times… for the last Time", trabalho autoral com uma mistura bacana de rock, soul e ryhthm & blues, ressurge com o Z.3.R.O.

Abordando a música de uma forma diferente e mais experimental, Negri presta um grande tributo a dois artistas de altíssimo calibre: David Bowie e Prince, que morreram em 2016.

Bowie, aliás, é um artista venerado pelo músico campineiro. Enquanto o paulista André Frateschi, hoje cantando com os remanescentes da Legião Urbana, tinha um projeto legal onde reinterpretava vários clássicos do cantor inglês, Negri preferiu outra opção: usar e abusar da inspiração na música do ídolo e criar um belo trabalho autoral.

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Quase tudo remete a Bowie na estreia do projeto, mas Negri toma o cuidado de imprimir dois elementos importantes para fugir do rótulo de cópia: imprime uma visão estritamente pessoal e procura ir além das meras referências.

Há elementos novos em sua música, com o uso parcimonioso de elementos eletrônicos e de sintetizadores. Ele revisita David Bowie em vários de seus trabalhos dos anos 70 e 80, mas também volta ao synth pop, com algumas pitadas de Depeche Mode, Prodigy, Air, Kraftwerk, Nine Inch Nails e Daft Punk.

Adicionando também algumas influências de Prince, especialmente na guitarra, Negri e seu Z.3.R.O. cometem um álbum diferente e instigante, ainda que a primeira audição não seja tão simples ou fácil. É um trabalho raro em terras brasileiras.

O álbum é ousado pelos arranjos eletrônicos e pela iniciativa de Negri de tocar todos os instrumentos e de produzir o trabalho -a masterização foi feita por Ricardo Palma.

Outra virtude de Z.3.R.O. é a coesão, quase que um conceito. Há um fio condutor na obra, apesar do liquidificador sonoro. "My Dark Passenger" é a melhor faixa, que mantém um equilíbrio interessante entre a guitarra e os elementos eletrônicos.

"Hopeland" e "Z.3.R.O." são mais agressiva e um pouco mais pesadas, remetendo a Nine Inch nails, embora sem a sujeira industrial. "Faithless" e "The Muse" se destacam por um ótimo trabalho vocal, embora contenham um acento mais pop.

"The Blue Bird", que encerra o trabalho, é uma lunga suíte dividida em cinco partes  que começa bem, em clima épico de ópera-rock, mas que acaba ficando repetitiva ao longo de sua evolução.

Na busca pelo diferente e pelo inusitado, Fabiano Negri , foi muito bem-sucedido, acertando na escolha de arranjos e de conceito. Clique aqui para ouvir outras músicas do projeto Z.3.R.O.

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Algo parecido pode ser aplicado ao projeto A.N.I.E., uma parceria entre o baixista e violonista Fernando Quesada e o tecladista e pianista Junior Carelli, integrantes da banda de heavy metal Noturnall. Se falta originalidade, sobram bom gosto e habilidade nas composições e arranjos.

Piano, voz e violão aparentemente estariam deslocados nas mãos dos competentes "metaleiros" do Noturnall, mas é justamente o formato inusitado que garante o bom resultado, apesar da estranheza inicial.

Transitando entre o pop e o folk em suas canções autorais, o A.N.I.E. escapa da armadilha da "sequência de baladas" por conta dos bons arranjos e da interpretação competente das canções. Não são meros artistas de metal fazendo versões acústicas: há um conceito bem definido no projeto, que transita bem pelo pop, pelo blues e pelo jazz.

A.N.I.E., acrônimo para Acoustic Natural Intense Experience, tem a predominância dos violões de 12 cordas e de um timbre de piano geralmente associado ao jazz e até mesmo à música erudita, embora os dois músicos creem que consigam imprimir um toque de grunge e de pop rock.

Seja como for, o resultado é satisfatório, especialmente na bela faixa "High Times" – um vídeo no Youtube conta nesta faixa com a participação do ótimo cantor Gus Nascimento.

"Choices" é um dos destaques pela delicadeza e sutileza dos arranjos, assim como a intrigante "Suicide Letter" e  a dramática e "Inferno Veil". "First Step" também é delicada, com um belo dueto entre Carelli e Quesada, mas mantém a estrutura de um autêntico baladão, coisa que se repete em "Finally Home".

Acesse o site da banda e confira aqui todos os vídeos de todas as músicas. Aqui, neste link, é possível baixar o álbum em áudio. 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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