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Pepe Bueno e Vento Motivo apostam na sonoridade setentista

Combate Rock

27/07/2016 07h00

Marcelo Moreira

A onda retrô que assolou a Europa e os Estados Unidos chegou timidamente ao rock brasileiro a partir de 2010, mas não pegou. Enquanto bandas interessantes como Rival Sons e Blues Pills estouraram e se tornaram queridinhos de uma crítica musical empolgada pelo som bem feito, ainda que datado, no Brasil a tendência ainda não causou furor.

Isso não foi motivo para que o trio paulistano O Terno desistisse. Gravando o seu terceiro álbum, os garotos são fissurados pela música vintage, onde os timbres sessentistas e setentistas dão as cartas em canções bem legais.

O novo trabalho promete uma fusão maior com elementos de outros gêneros, bem de acordo com o que os músicos andam ouvindo – e andam fazendo também, a julgar pelos encontros musicais que andam tendo.

Alheio a uma suposta falta de interesse pela onda retrô, o baixista e cantor Pepe Bueno e a banda Vento Motivo (esta em menor escala) lançaram novos trabalhos apostando em uma certa nostalgia, mas sem mergulhar no saudosismo.

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"Não tem essa de que o que era feito no passado era melhor. Tenho minhas bandas preferidas, ainda as escuto muito, assim como adoro novidades. Compor música é um processo que reúne todas as experiências e influências, então é natural que, em algum momento, isso transpire em um trabalho autoral", diz Bueno, que está lançando o CD "Eu, O Estranho", de forma independente.

Bastante agradável e com canções carregadas de anos 70, é possível encontrar de tudo um pouco: Secos & Molhados, Mutantes, Sá & Guarabyra e muito do que o rock psicodélico e progressivo nacional produziu entre 1970 e 1980.

"Eu, O Estranho" é muito calcado no rock retrô, em uma opção bem diferente do que Pepe Bueno trilha na ótima banda paulistana Tomada, onde toca baixo e faz vocais de apoio. "O Tomada tem uma pegada mais contemporânea, mais versátil, dialoga bastante com o blues, MPB, e é um pouco mais pesado. Eu procurei dar mais ênfase à canção.

O CD foi gravado quase que inteiramente em São José do Rio Preto (noroeste do Estado de São Paulo), no estúdio Área 13, com amigos que integram a banda local Estação da Luz, que tem ótima reputação no interior do Estado – o baterista Júnior Muelas por exemplo, tocou em quase todo o álbum.

A música "Última Prova" é o destaque, com seu clima um pouco melancólico e um instrumental mais denso e etéreo. "Se Abra", que abre o trabalho, já dá o tom setentista que permeia todo o CD, com um belo trabalho de guitarras.

Flertando a psicodelia dos Mutantes, com o groove da Banda Black Rio e o rock rural do Sá & Guarabyra, "Se Abra" até passa um clima "hippie tardio" que pode ser encontrado também em "Pote de Mel".

"Comecei a gravar no final de 2013 e só terminei no final do ano passado. É um disco muito engraçado, porque não foi ensaiado nem arranjado previamente. A única música que tivemos tempo para ensaiar foi 'Se Abra', que ficamos um dia trabalhando nela", diz o músico. Clique aqui para saber um pouco mais do trabalho de Pepe Bueno.

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A banda Vento Motivo, também paulistana, buscou no folk e na MPB as inspirações para o EP "Sol Entre Nuvens", com cinco músicas.

Já veterano, o trio tem alguns álbuns lançados e tem uma trajetória consolidada no underground, com uma sonoridade que transita em uma área onde boas bandas como Hurtmold  e Vanguart mostram bom desempenho.

O vocalista e guitarrista Fernando Ceah não acredita que o clima folk que permeia o EP tenha sido intencional. "Acabou ficando um disco de canções, baseado no violão, climático e, ao mesmo tempo, denso, melancólico e esteticamente ancorado no rock."

Uma surpresa é a versão de "Um dia, Um Adeus", de Guilherme Arantes, confirmando a aproximação de um formato mais pop. Com arranjos mais simples e até despojados, a canção ganha ares de urgência, apesar da interpretação expansiva de Ceah.

"Tenha Fé na Estrada" talvez seja a mais roqueira canção do trabalho, com um bom riff e um arranjo frenético de guitarra nas partes melódicas. Assim como nas outras canções, a banda consegue equilibrar satisfatoriamente a melancolia e algumas mensagens positivas. A música rendeu o primeiro clipe do trabalho.

Formada por Fernando Ceah (guitarra e vocal), Ivan Isoldi (baixo) e Binho (bateria), a banda Vento Motivoestá próxima do 15º dano de existência e já lançou quatro álbuns: "Luciana Vai Para Guerra" (2003), "Há, Há" (2006), "O Bem, o Mal e a Dúvida" (2010) e "Voo Do Marimbondo".

Escute abaixo o programa de wer rádio Combate Rock com entrevistas de Pepe Bueno, Fernando Ceah e a produtora Vanessa Anchieta:

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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