Nervosa expande a sonoridade, mas mantém o peso e agressividade em 'Agony'
Marcelo Moreira
Os piercings, cabelos e tatuagens entregam logo: as três são roqueiras. Mesmo assim são discretas e divertidas, em uma dissimulação calculada, porque quando sobem ao palco e começam a tocar, a fúria toma conta do recinto.
São nervosas, e ainda bem. "Esqueça o que viu antes do show ou nas entrevistas. A gente brinca, a gente fala besteira, gosta de coisa que todo mundo gosta. Só que no palco a gente faz a coisa tremer", disse baixista e vocalista Fernanda Lira ao Combate Rock quando do lançamento do primeiro álbum da banda Nervosa, "Victim Yourself", em 2014.
Raras vezes nos últimos anos uma banda de heavy metal chamava tanto a atenção no Brasil como o trio pesadíssimo de garotas. O thrash soturno, veloz e violento ficou ainda melhor e mais destrutivo no recém-lançado "Agony", gravado nos Estados Unidos e lançado pela gravadora Napalm Records – no Brasil, a honra será da Shinigami Records.
É a mesma banda, mas os dois álbuns têm diferenças enormes. Se "Victim Yourself" era muito bom, frequentando as listas de melhores do ano, exalando um cheiro cru, sem polimento, justamente para acentuar a porrada – e deixar claro que era quase um "do it yourself" -, o novo CD traz uma musculatura que jogou o som das meninas para o alto e realçou o peso absurdo.
Com uma produção mais elaborada, "Agony" deixa a sujeira de lado e aposta no som encorpado, alto e "na cara", principalmente no caso da guitarra de Prika Amaral, que fez um trabalho soberbo. A ajuda do produtor norte-americano Brendan Duffey foi fundamental para que a banda encontrasse o seu som e o encorpasse.
Duffey, que foi sócio do estúdio paulistano Norcal – morou no Brasil por muitos anos -, agora passa uma temporada em sua terra natal, a Califórnia, onde montou um estúdio. A adaptação mútua foi imediata, ainda que banda e produtor já se conhecessem. O CD foi mixado e masterizado pelo renomado produtor alemão Andy Classen (Tankard, Rotting Christ, Krisiun).
Plenamente aclimatada, a baterista Pitchu Ferraz está bem mais solta, permitindo-se certas "liberdades" nas linhas de algumas músicas "Guerra Santa" e "Hostages".
Se no primeiro álbum Amílcar Christófaro, baterista do Torture Squad, deu uma aula de feeling e peso, em um trabalho primoroso (ele gravou o álbum por conta da saída da batera Fernanda Terra), Pitchu acrescentou um groove e uma cadência que soam muito bem, transformando o som característico da Nervosa.
Com mais tempo para compor e com uma estrutura bem melhor para gravar, o trio não economizou na criatividade. O peso e a velocidade estão lá, bem ressaltados, mas as composições são o ponto alto de "Agony", ao lado do novo som encorpado e acachapante da guitarra.
"Arrogance", que abre o CD, é movida a fúria, como um trem desgovernado, enquanto que "Deception" incorpora elementos de heavy tradicional e doom metal, com linhas de guitarra elaboradas e um som mais blueseiro no trabalho do baixo.
Em "Victim Yourself" podíamos perceber uma urgência quando as meninas despejavam porrada atrás de porrada. No segundo trabalho, novos conceitos foram incorporados.
Fernanda Lira consegue modular de forma mais clara a sua voz, saindo com mais facilidade dos berros para linhas vocais fortes e rasgadas, mas com mais feeling e alternância.
E a moça resolve mostrar que realmente canta muito na faixa "Wayfarer", que é o bônus das edições europeias, onde a banda Nervosa faz um heavy misturado com soul e blues, em uma interpretação magistral.
De forma inusitada e surpreendente, o que começa com um blues descamba para um heavy metal tradicional com pitadas thrash, até acabar com Fernanda cantando "a capella" (sem acompanhamento instrumental) emulando uma diva blueseira enveredando pelo gospel. Destoa muito do álbum e da pancadaria, mas ficou excelente.
Se em alguns momentos a sonoridade lembra um pouco os mais recentes trabalhos do Exodus e do Death Angel, por outro é possível perceber toques de modernidade que passeiam pelo estilo escandinavo de som extremo, especialmente nas guitarras, como na pesadíssima "Intolerance Means War" e na cadenciada e claustrofóbica "Hipocricy", que desemboca no terremoto "Devastation".
"Agony" é um trabalho muito bem feito, demonstrando uma evolução rápida e certeira do trio paulistano feminino. A sonoridade é surpreendente, assim como a qualidade das composições. As meninas são nervosas, mas acertaram em suas escolhas para o novo CD.
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