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Blues Brasil: a pegada firme de Filippe Dias e Cristiano Crochemore

Combate Rock

13/06/2016 06h44

Marcelo Moreira

Filippe Dias (FOTO: MONICA QUINTA/DIVULGAÇÃO)

Filippe Dias (FOTO: MONICA QUINTA/DIVULGAÇÃO)

Não são muitos os músicos e bandas de blues no Brasil que preferem uma versão mais pesada, ao estilo Gov't Mule ou Joe Bonamassa. Os principais guitarristas preferem timbres mais claros e limpos, sem tanta distorção, deixando o grupo Cracker Blues, por exemplo, reinar quase sozinho na área.

Filippe Dias e Cristiano Crochemore procuram fugir um pouco do lugar comum e apostam em timbres um pouco mais pesados, em uma pegada mais forte e uma diversidade maior no soul, acrescentando soul, jazz, funk e um pouco de rock em seus trabalhos autorais.

Dias é natural do Guarujá, na Baixada Santista, e deixa claro que o blues é apenas uma das maneiras para se fazer música. Mesmo fã declarado de B.B. King, Jimi Hendrix e Stevie Ray Vaughan, apostou no groove nas seis músicas de seu novo trabalho, o EP "Borderliner".

Experiente e reconhecido como um dos grandes talentos do instrumento, Dias, aos 27 anos de idade, já tocou com o excelente pianista Adriano Grineberg (que tocou no EP) e com o estilista da guitarra Amleto Berboni – que foi o produtor de "Borderliner". Outras presenças importantes: o organista austríaco Raphael Wressnig, o baixista Rodrigo Mantovani, o saxofonista Denilson Martins e o baterista Humberto Ziegler.

"A mistura de influências foi importante para que eu conseguisse um som que pudesse se diferenciar no mercado e acho que atingi esse objetivo, já que a receptividade do álbum está sendo muito boa", disse o guitarrista em entrevista ao programa de web rádio Combate Rock.

As seis músicas de "Borderliner" destoam do que se encontra hoje no blues brasileiro. Dias assume que as canções apresentam uma pegada mais pop, mas com características do blues, como a bela e delicada balada "Fools", ou a jazzística "Bourbon Street".

Todas as letras foram escritas pela poeta Paula Febbe, o guitarrista aprovou a maneira como a parceria surgiu e evoluiu, embora diga que provavelmente não será repetida. A boa qualidade das letras pode ser observada na pesada e intensa "Homage", que abre o trabalho, e na quase furiosa "Blasphemy".

Cristiano Crochemore (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Cristiano Crochemore (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Cristiano Crochemore optou por uma sonoridade mais pesada e mais próxima do rock, embora seja perceptível o seu apreço pelo pela soul music e pelo funk norte-americano.

Já veterano do cenário nacional, está lançando seu mais novo trabalho, "Guitar Playing Dude", sempre acompanhado pela banda Blues Groovers, que tem a participação de ninguém menos do que Otávio Rocha, o mestre da guitarra do Blues Etílicos, e uma dupla que tem história na excelente Big Allanbik – Ugo Perrota (baixo) e Beto Werther (bateria).

Crochemore não economiza nos solos e nas demonstrações de virtuosismo, ao contrário do discreto e econômico Filippe Dias. Sua proximidade do rock o leva a caminhos que desembocam em influências texanas, em um estilo que lembra bastante Johnny Winter, um pouco o ZZ Top e mesmo Stevie Ray Vaughan.

Gaúcho radicado no Rio de Janeiro desde 1986, o guitarrista passou por várias formações de rock e blues nos anos 1990, tocou com o lendário Bebeco Garcia e moldou sua forma de tocar em cima de fraseados rápidos e licks poderosos, como na excelente "On Those Gotta Do Days", com um balanço irresistível e um ótimo suingue.

"Guitar Playing Dude" é mais rock do que blues, apontado para uma proximidade com o estilo de blues rock latino quer ganhou força nos Estados Unidos nos anos 90 com Tommy Castro e Chris Duarte: o suingue predomina, com solos cortantes e ágeis.
Já "Photograph" e "Rebel Girl" têm maios cara de blues, com uma lavada mais tradicional e um aposta em solos menos pirotécnicos, mas certeiros.

O encerramento do álbum, com "Good Path of Love", é uma demonstração do completo domínio da linguagem do gênero, condensando e resumindo bem o conceito que Crochemore imprime em sua carreira: uma mistura moderada de blues pesado, guitarra intensa e groove poucas vezes observado no gênero no Brasil.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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