Blues Brasil: o âmago e alma de Edu Gomes em novo CD
Marcelo Moreira
A primeira sensação quando se escuta "Âmago", o terceiro disco solo do guitarrista Edu Gomes (ex-Irmandade do Blues) é serenidade. As músicas transmitem paz e um clima de sossego, como se fosse uma continuação de "Imo", o álbum anterior. Sobre essa camada de serenidade o músico criou uma bela coleção de canções que resumem muito do que é a sua longa carreira.
Curiosamente, Gomes agora se aventura a cantar, com competência, e decidiu resgatar temas que havia composto ainda na década de 80, quando ainda não tocava blues com tanta regularidade.
Aparentemente, não havia a intenção de gravar um álbum tão cedo, mas o guitarrista sentiu que era a hora de gravar o material engavetado como forma de prestar um tributo a um grande amigo, Paulo Wehby, morto em 1993.
"Foi quase um sentimento de libertação quando peguei o material. Vi que tinha muita coisa interessante, tinha um frescor e um certo ineditismo. Tinha urgência e um pouco de inocência, já que eu não era tão experiente na época", diz Gomes.
Outra novidade em "Âmago" é o início da uma parceria para as letras com Fernando Janson e de Fabio Roberto, dois poetas promissores de uma nova geração paulista de escritores. O amigo Adriano Grineberg, um dos melhores pianistas do Brasil, participa em várias canções, enquanto que a bateria foi dividida entre Daniel Lanchinho (que mixou e masterizou o trabalho) e Mário Fabre, que hoje toca com os Titãs.
"Copos de Leite" é a faixa de abertura e que praticamente dá o tom do álbum: uma certa doçura melancólica, mas que não deixa o clima para baixo. Há nostalgia, e também há esperança.
"Esfinge" resgata um pouco do trabalho anterior, "Imo", que era instrumental. O pop rock fica um pouco de lado para ceder espaço a melodias de tom progressivo, com a guitarra etérea e coesa percorrendo toda a faixa.
"Opinião Pública" e "Última Palavra" sobem um pouco o tom, mostrando uma pegada mas enérgica e enveredando nas letras por sutis ironias, enquanto a guitarra se apresenta mais encorpada.
"Difícil de Entender" e "Viver Com Amor", mais duas com a colaboração de Wehby, são mais instrospectivas e menos diretas, com a sonoridade melancólica retornando em um tributo ao amigo e parceiro morto.
Alguns ouvintes se ressentirão de que há pouco blues em "Âmago". Não creio que essa impressão seja correta. O blues está lá, mas não tão evidente como se esperava de um mago da guitarra como Edu Gomes.
O fraseado limpo e a sonoridade cristalina podem, em alguns momentos, esconder as passagens mais melódicas do blues, mas os solos entregam a origem e o DNA do músico. É só ouvir a faixa "Âmago", a melhor do álbum, e que o encerra, para sentir a beleza das composições e o sentimento blueseiro que domina o trabalho.
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