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'O blues oferece boas oportunidades nos EUA', diz Celso Salim

Combate Rock

16/05/2016 12h00

Marcelo Moreira

Principal nome do blues nacional no exterior na atualidade, ao lado do guitarrista canhoto Igor Prado, Celso Salim saboreia um reconhecimento raro entre músicos estrangeiros nos Estados Unidos. Tocando com muita regularidade e fazendo contatos importantes, conseguiu uma grande distinção, além dos dois prêmios que ganhou no IMA (Independent Music Awards): agora é um dos jurados do próprio prêmio.

"O blues é um mercado grande nos Estados Unidos, oferece boas oportunidades. Estou bastante satisfeito com a decisão de ter retornado ao país e me instalar em Los Angeles", afirma o guitarrista brasiliense.

Em entrevista exclusiva ao Combate Rock, Salim fala sobre a repercussão de ter ganho dois prêmios do IMA e de como obteve uma série de conquistas no blues norte-americano.

Celso Salim (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Celso Salim (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Pouco mais de um ano de volta aos Estados Unidos, dois prêmios importantes. Era possível prever esse desempenho em tão pouco tempo em Los Angeles?

Celso Salim: Foi uma ótima surpresa, difícil de prever mas eu já havia feito minha inscrição logo antes de sair do Brasil, então já existia alguma expectativa de ficar entre os cinco finalistas, o que já era demais.

Igor Prado conseguiu liderar algumas paradas de blues no ano passado com o novo CD dele, e disputou o prêmio de melhor álbum de banda nova no 37th Blues Music Awards. É possível encontrar uma explicação para esse sucesso de guitarristas brasileiros nos Estados Unidos?

Apesar de ser um estilo genuinamente americano, o blues é uma paixão que pode brotar em qualquer pessoa no mundo e um músico talentoso pode sim chegar ao nível dos gringos. Por outro lado, como não é da nossa cultura, é preciso se empenhar bastante para desenvolver uma intimidade com o estilo. O Igor Prado é um exemplo disso. A maioria dos músicos de blues que eu tenho contato aqui conhece e tem uma ótima impressão dele. Ele conseguiu entrar no difícil mercado americano pelo talento e dedicação que tem. Fiquei muito feliz de saber que seu album foi indicado ao Blues Awards, que é o maior prêmio do blues mundial, equivalente a um Grammy do estilo. Eu, que sou membro do Blues Foundation, votei na Igor Prado Band!

A banda catarinense Headcutters esteve na Califórnia no ano passado gravando um CD, foi lançado pea Chico Bues Records no Brasil. Os caras voltaram encantados com o esquema para tocar blues em Los Angeles, ainda que seja um gênero marginal e que não inspire grandes perspetcivas, ao menos no momento. Como você observa o seu esquema atual? No que ele difere de sua atuação em São Paulo?

O Headcutters tocam uma vertente do blues, mais tradicional, que o público daqui gosta muito, e eles mandam muito bem!
Assim como em São Paulo, além do meu trabalho solo, eu estou tocando com outros artistas. Faço também muitos shows em formato acústico. Mas aqui o circuito é muito maior e estou conhecendo grandes músicos e pessoas das industria musical.
Também tive a oportunidade de abrir shows de grandes artistas como Canned Heat, Kim Wilson e Larry McCray, e participei do International Blues Challenge (IBC), representando a Southern California Blues Society (SCBS). O IBC é a maior competição de bandas de blues do mundo, é realizado na Beale Street, em Memphis e é produzida pela Blues Foundation, a mesma que produz o Blues Awards e o Blues Hall of Fame. Eu ganhei a vaga após vencer o "Battle of the Blues Bands" da SCBS, em novembro de 2015. Também tenho me apresentado regularmente na conceituada casa de shows "The Baked Potato" com a banda CK Allstars, onde tive a oportunidade de dividir o palco com grandes músicos como Scott Page (saxofone, tocou com Pink Floyd, Supertramp), Jimmy Z (saxofone, gaita, da banda de Etta James), Gilby Clark (guitarra, ex-Guns N'Roses) e Kenny Lee Lewis (guitarra, da Steve Miller Band).

Qual é o impacto que você imagina que os dois prêmios do IMA terão em sua carreira, no curto prazo?

Os prêmios enriquecem o currículo e expõe seu nome em diferentes meios. Uma coisa legal que rolou é que fui convidado para integrar o juri da próxima edição do IMA, que contará com grandes artistas como Warren Haynes e Tom Waits, entre vários outros.

A Celso Salim Band ainda existe no Brasil? Quem são os músicos que tocam com você nos Estados Unidos?

No Brasil não, mas quando eu fizer uma turnê ai, devo montar uma banda brasileira. Em Los Angeles, eu estou tocando com grandes músicos, são eles: Lynn Coulter (bateria e voz), Mike Hightower (baixo) e Dave Fraser (piano, gaita e voz).

Você tem planos de licenciar seus álbuns nos Estados Unidos? Com as "estatuetas" na mão, já planeja um novo CD?

Isso é uma questão complicada, pois existem procedimentos legais, muito chatos (risos). E todos os meus álbuns já estão amplamente disponíveis em forma digital. A ideia é gravar um novo album e lançar aqui. Já estou compondo e até o fim do ano estará pronto.

celsosalim

Quem é Rafael Cury e como você o conheceu? A parceria será mantida?

Sim, a parceria será mantida, ele também está morando aqui em Los Angeles. O Rafael Cury é um cantor/produtor brasiliense. Nós nos conhecemos em 1998, em Brasília, antes de eu voltar para concluir meus estudos no Musicians Institute. nos Estados Unidos. Ele veio estudar engenharia de som na mesma escola e lá coproduzimos o meu primeiro álbum, "Lucky Boy", lançado em 2001. Desde então ele participou da produção de todos os meus CDs e também fizemos diversas produções juntos, entre elas primeiro CD solo dele, "Trapped in the Past, e o primeiro disco do guitarrista Dillo Daraújo. Também temos juntos um projeto de rock and roll no qual ele canta. Lançamos o CD "The High Head Hunters" em 2014 para selar essa ideia, mas agora vamos desenvolver este projeto aqui com um novo nome a ser definido. Em breve entraremos em estúdio também.

A produção de CDs de blues no Brasil costuma ser enxutas, sem grandes arroubos nos arranjos ou mesmo com captação "ao vivo" no estúdio, sendo a guitarra mais na frente e a bateria mais discreta. Que tipo de padrão de gravação você pretende adotar nos Estados Unidos?

A captação ao vivo é geralmente melhor para gravar, principalmente em estilos como o blues. Dessa forma a gente consegue captar a essência da banda sem maquiagens e com o feeling do momento. Aqui devo seguir essa tendência e fazer poucos "overdubs" (gravações complementares). Devo gravar em fita analógica, algo que nunca tive a chance de fazer em meus álbuns.

Nos últimos cinco anos as emissoras de rádio dedicadas ao blues, seja na internet ou mesmo as que resistem nos Estados Unidos, abrem cada vez mais espaço pra o chamado blues rock, deixando o som mais tradicional meio que de lado. Muitos desses artistas também chegam ao Brasil, com certo atraso. Isso representa algum problema para artistas que fazem o tipo de som como o seu?

No meu caso, o meu som não é tão "tradicional", eu tenho influências diversas, inclusive de rock. Não me preocupo muito.
Analisando o mercado, provavelmente você verá mais bandas que puxam para um blues rock do que para um som mais "tradicional". Mas tem aquele "limite" da quantidade de "rock". Se eles deixam o blues muito de lado as rádios especializadas não tocam. Então o que eu vejo são muitas bandas que tocam blues mas tem uma roupagem (timbres, pegada, influências) mais do "rock", com o uso de distorções pesadas nas guitarras por exemplo. Isso leva a outra questão: qual é a escola de muitos dos guitarristas mais recentes? Alem dos mestres do blues, eles também são influenciados pelo rock dos anos 60 e 70, que têm uma grande influência do blues mas com uma pegada e visão diferentes do tradicional.

Com os prêmios do IMA nas mãos será que teremos a chance de vê-lo tocando de novo Brasil em festivais maiores, como o Best of Blues?

Ano que vem, gostaria de ir ao Brasil fazer uma turnê, vamos ver o que acontece. Espero que os prêmios ajudem sim. Eu já toquei nos principais festivais do país, principalmente com Ari Borger Quartet e Sérgio Duarte, mas com a minha banda foram poucos.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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