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Prince: sobre o inesperado da perda de (mais) um talento

Combate Rock

30/04/2016 21h30

Tony Monteiro – publicado originalmente em seu blog

Prince morreu aos 57 anos

Prince morreu aos 57 anos (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A morte de Lemmy deu uma chacoalhada em mim, mas, no fundo, a gente sabia que era uma questão de tempo – o homem vinha ladeira abaixo há um bom tempo.

David Bowie e Keith Emerson não abalaram tanto, já que nunca fui fã nem de um, nem de outro – mas claro que chocou saber que músicos talentosos e criativos nos deixaram tão cedo e com tanto ainda a criar e mostrar em termos artísticos.

Afinal, gostemos ou não (e, repito, eu particularmente não gostava tanto), a produção de ambos era de altíssimo nível. Mas Prince eu não esperava. E nem estava pronto.

Sou um cara do rock, todo mundo que me conhece sabe disso. O refrão da música "It Ain't Music", do amigo Chris Skepis, definiria a situação: "If it ain't rock / It ain't music" canta ele com propriedade – e eu faço backing vocals.

Mas sempre que alguém falava em música pop eu pensava em uma única e grande exceção: Prince. O filme "Purple Rain", apesar de mostrar que o cara era tremendo canastrão como ator, trazia um músico brilhante.

As composições tinham um pé no rock e no blues, os arranjos eram geniais e ele como guitarrista era sensacional. Logo após o lançamento do filme e do disco, passou um show dele na TV que eu gravei numa fita VHS que deve estar criando uma família de ácaros em algum lugar aqui em casa.

Craque no marketing, anunciou aos quatro ventos que era a última turnê que faria e entregou uma apresentação que, em todos os aspectos, era um baita show de rock – e tudo aquilo que a gente imaginava vendo o filme "Purple Rain" ele confirmou no palco.

Prince nunca economizou nas palavras, também. Suas letras eram, pra dizer o mínimo, explícitas quando ele achava que deveriam ser. Reza a lenda que foi quando deu um flagra na filha de 12 anos ouvindo a mais que direta "Darling Nikki" que Tipper Gore resolveu criar o PMRC, o comitê que incentiva um maior controle por parte dos pais sobre aquilo que seus filhos ouvem. Adiantou nada, só pra constar…

Quando montamos a banda Dusty Old Fingers, eu e meu chapa Fabiano Negri precisamos colocar alguns covers para preencher o repertório, já que tínhamos apenas um disco, "The Man Who Died Everyday", e ele não seria suficiente para sustentar uma apresentação de mais de duas horas, que o é o que se exige nos bares de rock.

E quando ele sugeriu incluir "Purple Rain" no set list topei na hora. Primeiro, pela polêmica que isso poderia gerar – e gerou! E também porque era uma música que eu nunca tinha tocado e achei que seria uma experiência legal levá-la ao palco.

De imediato, tivemos que ouvir comentários do tipo: "Mas vocês tocam Prince?" "Tocamos, é lógico!", era a resposta, sempre de sorrisão da cara. Mas, mais importante que isso, foi uma música que se mostrou um dos pontos altos do show pela dinâmica, pelo "crescendo" em que se desenvolve. Um sujeito que não fosse privilegiado em termos de talento jamais escreveria uma música assim.

Prince sempre surpreendeu o público. Lá pelas tantas, após uma pendenga judicial com sua gravadora, substituiu seu nome por um símbolo e passou a se intitular "O Artista".

Conseguiu retirar praticamente todas as imagens de apresentações suas do YouTube. Ao longo dos anos, alternou trabalhos incompreensíveis com outros sensacionais, umas das muitas características dos gênios.

Lançou quase quarenta discos em 38 anos de carreira e, segundo consta, deixou uma quantidade absurda de material inédito – não é difícil entendê-lo como uma daquelas mentes compulsivamente criativas, cuja produção é muito maior e mais rápida do que as condições técnicas permitem efetivamente realizar.

E talvez seja isso que mais incomode com a notícia de sua prematura morte. Acabamos sendo privados de pelo menos mais uns 15 ou 20 anos de música criada por Prince. Num mundo que anda tão chato e tão repleto de falsos talentos, isso é no mínimo uma crueldade com a gente.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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