Músicas da banda iraniana Confess podem ser condenados à morte após prisão
Marcelo Moreira
Rock e política foram progressivamente se misturando ao longo dos últimos 60 anos e muitas vezes a mistura dá lugar a uma colisão – afinal de contas, o que foi o movimento punk senão uma colisão entre vários mundos, abalando várias estruturas.
A coisa piora quando a religião entra na história, em especial no Oriente Médio com predominância da religião islâmica. O problema agora envolve a banda de heavy metal Confess, do Irã, cujos integrantes foram presos recentemente sob as mais estapafúrdias acusações.
O país é uma teocracia, em que o poder quase que totalmente está nas mãos dos aiatolás, os líderes religiosos muçulmanos de orientação xiita.
Desde 1979, quando ocorreu a revolução islâmica que depôs o xá (monarca) Reza Pahlevi, a sociedade iraniana vive sob as rigorosas regras religiosas do mundo muçulmano, na interpretação do Alcorão segundo a visão radical xiita. Valores ocidentais são hostilizados desde então, e o rock sempre foi um dos alvos.
A banda Confess faz um som bruto e pesado, beirando o extremo, mas com elementos orientais. Os integrantes Nikan Siyanor Khosravi e Khosravi Arash Chemical Ilkhani foram presos em outubro passado acusados de blasfêmia contra a religião islâmica; de divulgar ideias contra o governo; formação ilegal de grupo de música; formação ilegal de empresa (gravadora) que divulga música satânica; composição de letras antirreligião, ateias, políticas e anárquicas; e de desrespeitar a lei que proíbe a concessão de entrevistas e estações de rádios estrangeiras.
O mundo demorou para se dar conta dos problemas enfrentados pela Confess – e, por tabela, pela cena musical roqueira do Irã. As prisões só foram divulgadas nesta semana graças a jornalistas da rádio canadense Metal Nation – um dos apresentadores recebeu a carta de um amigo iraniano que soube da história e pediu para que fosse divulgada.
As últimas informações sobre o caso dão conta de que os dois músicos foram libertados em 5 de fevereiro para "recorrer" em liberdade. Já contam com advogados para enfrentar as acusações pesadas – caso sejam condenados por blasfêmia, por exemplo, correm o risco de serem executados por fuzilamento, segundo os jornalistas da Metal Nation.
Ainda de acordo com os jornalistas da Metal Nation, por conta dos outros crimes, podem receber penas de reclusão de 6 meses a 6 anos.
É evidente que o assunto é polêmico, como também é evidente que nós, roqueiros ocidentais que vivem em uma democracia, vamos nos solidarizar com artistas perseguidos por qualquer motivo – e ainda mais por motivos combinados, político-religiosos.
No entanto, é sempre prudente ao menos levar em conta questões culturais, o que inclui manifestar conhecimento e certo respeito pela religião, por mais que as interpretações em muitos casos – e é neste caso – seja medieval, obscura, discriminatória e restritiva por conta do radicalismo de vertentes e facções do Islã.
Seja como for, o Combate Rock lamenta o atentado à liberdade artística e individual dos músicos iranianos e também está enagajado na camanha internacional #FreeConfess.
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