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Ingressos estão baratos demais - deveriam custar muito mais que o dobro

Combate Rock

20/10/2015 06h37

Marcelo Moreira

O dólar quase chega a R$ 4, o desemprego aumenta assustadoramente, assim como a inflação e a inadimplência generalizada. Entretanto, o país real parece desconectado do país dos shows internacionais, que chegam com preços extorsivos e incompatíveis com um momento de crise econômica severa.

São poucos os que reclama, ainda que timidamente, a respeito dos tais preços abusivos e fora da realidade. Parece que se tornou comum pagar R$ 500 no ingresso mais baratos para apresentações de grandes nomes mundiais do rock – e sempre lembrando que todos os ingressos evaporam em horas, como no caso do ex-Pink Floyd David Gilmour.

Pelo jeito, a crise econômica só existe na imprensa e no chororô dos empresários, que demitem a rodo apenas para que possam maximizar seus lucros e sua rentabilidade.

Para os roqueiros de ocasião, vale pagar até R$ 1.000 para ver o Metallica, por exemplo, mas não vale pagar R$ 10 para ver bandas novas no bar da esquina ou em festivais alternativos. Não vale a pena nem mesmo gastar para pagar as prestações atrasadas do que quer que seja para limpar o nome.

Isso tudo me faz crer que, com a demanda em alta, os preços dos ingressos para shows internacionais, grandes e médios, estão bastante acessíveis. Na verdade, creio até que estão baixos demais.

David Gilmour, que toca no Brasil em dezembro (FOTO: DIVULGAÇÃO)

David Gilmour, que toca no Brasil em dezembro (FOTO: DIVULGAÇÃO)

 

Shows de bandas médias têm preços que podem chegar a R$ 150 ou R$ 200, valores que em outros tempos, os de bonança, seriam incompatíveis com o padrão de vida do brasileiro.

Os valores deveriam ser, no mínimo, o dobro dos cobrados atualmente, já que os espectadores brasileiros não se importam em ser esfolados. São raríssimos os casos de indignação, o que significa que está tudo bem e que os preços são bastante justos.

Sendo assim, ninguém vai se importar em pagar R$ 1,5 mil para ver um gigante do rock no telão, em um estádio, a quilômetros de distância, ou R$ 200, R$ 300 para ver uma atração europeia decadente em uma casa pequena, abarrotada e desconfortável.

O paradoxo entre as vendas recordes de ingressos para festivais como Rock in Rio ou para shows como os de Gilmour e a penúria em que vive grande parte dos artistas autorais do rock no Brasil, em especial os do rock pesado, é um indicador explícito dos desajustes graves que afetam o entretenimento no Brasil.

Mais grave ainda é a falta de discernimento de grande parte do público a respeito do arrocho nos preços de shows grandes, como se a ignorância fosse deliberada, assim como a hipocrisia a respeito do assunto.

Nem mesmo o Procon encontra subsídios entre os supostos "indignados" para ao menos fiscalizar, se é que é possível neste ambiente de "livre iniciativa", enquadrar as empresas em algum tipo de abuso econômico.

Preços altos incomodam o tempo todo, menos no nomento de ficar horas na internet e no telefone para gastar R$ 1.000 por um bilhete, que fatalmente será acrescido dos 15% ou 20% ou 30% da asquerosa e nojenta "taxa de conveniência". Pena que a mesma empolgação desaparece quando se fala em show de artista nacional, em boa parte dos casos.

 

 

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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