Iron Maiden versátil acerta ao apostar no prog metal em 'The Book of Souls'
Marcelo Moreira
Algumas fórmulas no rock jamais mudam (ainda bem), independentemente das circunstâncias e das necessidades. Steve Harris sabe muito bem disso e aposta de olhos fechados no esquema que mantém o Iron Maiden no topo há 35 anos.
"Speed of Light", a primeira música nova divulgada, faz parte da maneira de como o Iron Maiden divulga seus novos trabalhos – "The Book of Souls", o novo CD, sai em 4 de setembro. Assim como "The Wicker Man" e "Wildest Dream", entre outros singles de estreia, a nova faixa é rápida, acelerada, com muitas pitadas de hard rock e ótimos solos de guitarra.
Entretanto, o novo álbum é um avanço em qualidade e em ousadia em relação aos dois anteriores, os bons "A Matter of Life and Death" (2006) e "The Final Frontier" (2010).
Se havia dúvidas de que a banda se aprofundaria no prog metal, a bela balada épica "Empire of the Clouds", com seus 18 minutos de viagem, repleta de nuances musicais diferentes e expandindo as possibilidades melódicas de uma banda que já tinha feito experimentos importantes em músicas como "Rime of the Ancient Mariner", "Alexander The Great" e "Seventh Son of the Seventh Son".
"The Book of Souls" é um CD duplo, com 11 canções em 92 minutos. E é um soco na cara para aqueles que acreditam que o conceito de álbum é equivocado no século XXI. Com mais homogeneidade, é superior aos anteriores, em quase todos os quesitos.
Há falta de hits? Sim, mas isso já não é mais importante para o Iron Maiden há muito tempo. "Speed of Light" foi pensada para ser um single, mas jamais com a intenção de ser um hit, da mesma forma que "El Dorado" e "Satellite…", ambas de "The Final Frontier". Este álbum era variado, mas sem tanta versatilidade, coisa que existe de sobra no novo trabalho.
"Brave New World" (2000) era mais recheado neste sentido, mas era um álbum com um clima quente, de urgência, de porrada, de ganchos fortes, justamente porque era o primeiro da volta de Bruce Dickinson. "Dance of Death", de 2003, pecou pela irregularidade e pela aparente falta de inspiração, recuperada em "A Matter…", ainda que sem brilhantismo.
Uma pequena diferença em Speed of Light" em relação aos singles de álbuns anteriores é a remissão a "Satellite 15", que é a abertura de "The Final Frontier": linhas melódicas mais intrincadas, indicando que a vertente do prog metal, presente desde "A Matter of Life and Death", deve continuar com força.
Bruce Dickinson fez novamente um trabalho admirável, e mais ainda sabendo-se que foi submetido recentemente a um tratamento contra um câncer. Aos 57 anos de idade, consegue atingir notas mais altas com desenvoltura e grita bastante, como sempre.
Uma característica predominante em "The Book of Souls" é que a produção de Kevin Shirley deixou o som mais pulsante, ressaltando o peso e deixando mais explícitas as linhas melódicas que remetem diretamente ao metal progressivo.
"The Great Unknown" é um desses momentos, com linhas de guitarra fortes e velozes. O mesmo pode ser dito em "When The River Runs Deep", menos intrincada e mais hard, com uma estrutura típica do rock'n'roll setentista.
O heavy tradicional domina a ótima "Death and Glory", com muita intensidade e muito peso, especialmente no baixo de Steve Harris.
"Shados of the Valley" e "The Man of Sorrows" demonstram a opção acertada pela versatilidade, variando timbres e apostando em boas ideias melódicas, com partes tipicamente hard, outras heavy e até mesmo power metal em alguns trechos.
Se a bela "Empire of the Clouds", com seus 18 minutos, representava de forma completa a veia prog metal, então tome mais duas doses cavalares, com a obscura e sombria "If Eternity Should Fail", que abre o trabalho – tensa, sinistra e envolvente – e a climática "The Red and the Black", também recheada de intensidade e bons duelos de guitarra em seus amis de 13 minutos (seria mais um tributo a "Rime of the Ancient Mariner"?).
A espera por um novo trabalho do Iron Maiden compensou. Nesta terceira fase da banda, desde o retorno de Bruce Dickinson (ocorrido em 2000), "The Book of Souls" rivaliza com "Brave New World" como o melhor do período.
Mesmo sendo cedo para dizer, é provável que não seja um álbum memorável – como ocorre com a esmagadora maioria dos trabalhos deste século, seja em relação a bandas novas ou clássicas. Entretanto, é esperançoso quando observamos um gigante que caminha para os 40 anos de carreira mostrar fôlego e vigor e lançar um álbum muito bom como fez o Iron Maiden.
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