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Felipe Machado, o motor do Viper, mostra ousadia em CD solo

Combate Rock

04/08/2015 06h58

Marcelo Moreira

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FOTO: MARCELO ROSSI-MROSSI/DIVULGAÇÃO

Eram cinco garotos que como muitos da época amavam o som pesado e que queriam ser o Iron Maiden. Estudaram e ensaiaram muito, quase colocaram fogo em um colégio, mas conseguiram impressionar muita gente ao gravar seu primeiro LP aos 16 anos, em média, e se tornar referência em heavy metal no Brasil.

O Viper pagou o alto preço pela pela precocidade em um país que ainda começava a apreciar heavy metal e também por certa arrogância, típica de moleques que querem ganhar o mundo e que sabiam que poderiam ser grandes. A banda não virou o Iron Maiden, e nem chegou perto, mas mostrou que seus integrantes tinham muito talento e competência.

André Matos, o vocalista, se tornou maestro e astro internacional ao cantar no Angra e no Shaman, para engatar uma prolífica carreira solo. Yves Passarel teve sua qualidade reconhecida e se tornou guitarrista do Capital Inicial; seu irmão Pit, baixista e vocalista, é um dos mais requisitados compositores do pop rock nacional.

E o responsável pela base firme e pela sustentação de todo o poderoso som do quinteto? Felipe Machado, o guitarrista cool que mantinha tudo colado e coeso, virou jornalista e escritor, com alguma passagem pela publicidade, e tardiamente demonstra que não devia nada aos amigos de infância que formaram o Viper com ele.

"FM Solo" surge para, entre outras coisas, comemoram 30 anos de carreira musical, ao mesmo tempo em que o Viper comemora também, os seus 30 anos de fundação.

Machado nunca reclamou de de ser uma espécie de Malcolm Young (a rocha que sempre foi o sustentáculo do AC/DC) do Viper, e sempre lidou muito bem com as carreiras bem-sucedidas dos companheiros nas artes.

Sem muito alarde, gravou seu primeiro trabalho solo e mostra competência criatividade no que podemos chamar de classic rock com acento pop.

O sinal foi aceso depois que o Viper fez uma concorrida turnê de comemoração de três décadas de som pesado entre 2013 e 2014, que acabou resultando em um DVD muito bacana, com a presença de André Matos e Pit Passarel – Yv es participou d apenas alguns shows, por conta de compromissos que tinha com o Capital Inicial.

Com conhecimento enciclopédico de rock e uma pegada característica que quem ouvi muito as melhores coisas do classic rock e do heavy, Felipe Machado faz de seu primeiro álbum um exercício de uma paixão, com direito a solos bem construídos e fraseados encorpados e criativos.

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Os fãs do Viper vão reconhecer aqui e ali as faíscas incandescentes de um músico com formação sólida, mas sedento de mostrar suas qualidades. Aqueles que não curtem o peso melódico poderão identificar passagens bem interessantes que remetem ao hard rock oitentista.

Entretanto, não espere um mergulho fundo no metal, em especial aquele melódico que consagrou o Viper. Ecletismo é a palavra que domina o trabalho, em uma coleção de canções que abarca vários estilos e subestilos.

Machado não renega o passado, mas procura estar conectado com uma certa modernidade que certamente provocará algumas estranhezas, como em "Perfect One", com sua guitarras cruas e seu clima indie, com alguns efeitos de guitarras diferentes.

Podemos dizer que o artista volta ao normal em "So Much to Lose", em um hard rock animado e com ótimo riff, revelando as influências sempre bem-vindas de Kiss e do hard rock do final dos anos 70. Em alguns momentos, a levada remete ao grande UFO e seu mestre Michael Schenker.

"The Shelter", que resgata de 1992 (foi gravada pelo Viper) é o exemplo de como Felipe Machado está antenado com as novas tendências. As guitrarras estão na cara, pesadas e sujas, em um heavy rápido e urgente. Provavelmente é o sue melhor trabalho vocal, mais intenso e mais porrada.

O suingue aparece na faixa seguinte, "Take a Chance", em uma pegada oitentista, com alguma semelhança à banda irlandesa New Model Army. O clima anos 80 ressurge com mais veemência em "Speedway", e não poderia ser diferente – é uma versão de uma canção de Morrissey.

Estilisticamente, poderia causar um estranhamento para quem não o conhece, mas Felipe sempre foi fã do músico inglês. "Morrissey é o Oscar Wilde dos nossos tempos", compara no texto que faz a apresentação do trabalho.

Heavy metal e rock britânico resguardaram muitas vezes os mesmos seres introspectivos debaixo de seus guarda-chuvas nos anos 1980. A segunda versão, 'Tourist', é da pouco conhecida banda – também inglesa – Athlete.

"FM Solo" é o primeiro trabalho lançado por seu estúdio, o FM Labs – voltado para projetos nas áreas de música, literatura, cinema e TV – em parceria com o selo Wikimetal. No álbum, Felipe não exclui o peso em cima de melodias que circulam entre a fúria de um Nine Inch Nails e a sensibilidade dos Smiths.

Felipe assina como compositor todas as faixas (exceto as versões, claro), toca guitarra e canta. O parceiro Val Santos (Toyshop e ex-VIPER) é o responsável pelos demais instrumentos e produção.

Corajoso e eclético, Felipe Machado decidiu ousar e buscar um caminho que, se não é original, consegue ser diferente do que é feito atualmente no rock brasileiro.

"FM Solo" é um começo bastante promissor para um artista que, apesar da experiência de 30 anos, cai de cabeça na música para uma espécie de recomeço. Sem medo de soar pop em alguns momentos, esforçou-se em buscar uma identidade, e foi bem-sucedido nesta primeira iniciativa.

Ao vivo, além de Val na guitarra, Felipe vai dividir o palco da turnê brasileira com um time de peso: o baterista Guilherme Martin, seu colega no Viper, e Rob Gutierrez, baixista e vocal do Hollowmind. O pontapé ocorre em setembro, em São Paulo.

Serviço

Show de lançamento FM Solo
Data: 10 de setembro às 22h
Local: NA MATA CAFÉ
R. da Mata, 70 – Itaim, São Paulo, tel: (11) 3079-0300

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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